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"Piores dias da minha vida", diz rapaz preso em Niterói após ser confundido com traficante

Audiência de instrução a julgamento aconteceu nesta terça-feira (7)

relogio min de leitura | Escrito por Daniel Magalhães | 07 de dezembro de 2021 - 18:17
José Maurício e a mãe, Edimar Pereira
José Maurício e a mãe, Edimar Pereira -

"Foram os piores dias da minha vida. Não desejo isso nem para o pior dos inimigos". O relato, emocionado, é do vendedor José Maurício, de 30 anos, que tornou-se mais um na triste estatística de homens negros presos injustamente pela polícia por crimes que não cometeram após serem 'reconhecidos' por foto, em delegacias, como autores de crimes como roubos e, no caso de José Maurício, uma suposta tentativa de homicídio. 

Nesta terça-feira (7), foi realizada uma audiência na 3ª Vara Criminal de Niterói para decidir o futuro do rapaz que foi preso no dia 4 de outubro após ser confundido com um traficante - conhecido como Nenzinho - do Buraco do Boi, comunidade onde José mora, que teria cometido uma tentativa de homicídio contra um jovem. No local, estavam reunidos parentes e vizinhos do vendedor que demonstravam uma enorme preocupação quanto a decisão que viria mais tarde e definiria sua vida dali para frente. Antes de subir com a família e o advogado para a audiência, José lembrou com terror dos 23 dias em que ficou encarcerado.

"Foi uma coisa horrível, passei frio, fome, noite perdida em claro tremendo de frio, comi comida estragada, foi horrível.", lembrou. "Eu me sinto triste por causa disso, se fosse um branco morador da Zona Sul ou de Icaraí, eles iam pensar antes de fazer com eles o que fizeram comigo.", completou ao ser perguntado sobre o fato de ter sido preso após ser reconhecido como criminoso por conta de uma simples foto. 

Ainda antes da audiência, a mãe de José Maurício, Edimar Pereira, de 59 anos, que passou todas as noites em claro orando pelo filho preso, disse que espera que seja feita justiça desta vez. "É muito difícil pra uma mãe saber que seu filho é inocente e está sendo prejudicado do jeito que ele foi prejudicado, por causa de uma foto. Ele ficou preso lá dentro esse tempo todo e me senti muito mal porque a gente cria um filho com um sacrifício, é um menino bom, trabalhador, nunca se envolveu com nada de errado.  Eu acho isso muito injusto, acham que só porque a gente mora em uma comunidade que a gente é o que eles acham. O que fizeram com ele é uma maldade.", desabafou a mãe.

José Maurício e a mãe, Edimar Pereira
José Maurício e a mãe, Edimar Pereira |  Foto: Layla Mussi
 

José, que agora só quer ter de volta sua vida normal e a rotina que lhe foi arrancada ao ser preso, conta que precisou passar por muito preparo emocional e também apoiar emocionalmente sua esposa e seu filho para os dias difíceis que viriam pela frente. "Quando a polícia chegou no trabalho eu fiquei nervoso, procurei o advogado e passei a situação para ele. Ele disse que achava melhor eu me entregar e aí já começou a preparar meu psicológico para o que viria e aí eu fui com ele no Fórum para me entregar. Em casa, eu me preparei antes, falei para minha esposa, para minha mãe e minha família para dizer que eu fui viajar um tempo e que quando voltasse ia trazer um presente pra ele [o filho].", completou. 

José Maurício agora espera justiça e ter sua rotina de volta
José Maurício agora espera justiça e ter sua rotina de volta |  Foto: Layla Mussi
 

Depois dos dias que passou encarcerado, José Maurício só quer aproveitar mais as oportunidades, a família e curtir as pequenas alegrias da vida, como um passeio no shopping com a esposa e o filho. "Quero só minha vida de volta, quero sair com meu filho de novo como sempre fiz, sair com minha esposa, ir no Plaza, sair para lanchar, curtir com minha família, como sempre foi. Hoje eu espero só justiça, Deus tá no controle de tudo, sabe de toda a verdade. Eu estou esperançoso, a vitória vai chegar.", concluiu. "Eu só espero que ele tenha a paz dele de volta e eu também possa botar a minha cabeça no travesseiro e falar: "Meu Deus, finalmente acabou.", completou a mãe.

Relembrando - José Maurício foi preso no dia 4 de outubro após se entregar para cumprir um mandado de prisão em aberto contra ele. A defesa do vendedor pediu habeas-corpus, mas o pedido foi negado pela Justiça. O rapaz foi preso após uma vítima de uma tentativa de homicídio ter reconhecido ele como um dos integrantes da quadrilha que tentou matá-la. 

De acordo com a família, porém, José Maurício estava em uma excursão para um campeonato de futebol que aconteceu no Vidigal, no Rio de Janeiro. Mesmo com o álibi e relatos de pessoas que estavam com ele na excursão, Maurício foi apontado como um dos participantes do crime pela vítima, que prestou depoimento no início da investigação na 78ª DP (Fonseca). 

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