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Caso Anna Figueiredo: psicóloga explica importância de reconhecer quando o relacionamento é tóxico

Após ter sido agredida fisicamente pelo ex-namorado, modelo niteroiense registrou denúncia

relogio min de leitura | Escrito por *Beatriz Machado | 28 de julho de 2021 - 18:36
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram sinais da agressão
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram sinais da agressão -

A modelo niteroiense Anna Figueiredo, de 23 anos, registrou ocorrência na Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Niterói, essa semana, contra o ex-namorado, o empresário Vitor Hugo Rosa, após ter sido agredida verbal e fisicamente. No início da semana, ela divulgou em seu perfil do Instagram, imagens que mostravam os sinais da agressão. O caso repercutiu nacionalmente e a modelo recebeu o apoio de celebridades, entre eles o jogador Neymar.

Anna usou os stories para contar que as agressões ocorreram na casa onde vivia com o ex-namorado e noivo, em Icaraí, Niterói.

Ela se justificou dizendo não ter procurado expor o caso antes por vergonha, além de não ter sido acolhida ou recebido apoio de quem sabia que ela estava passando por essa situação.

“Desde, então, meus últimos dias após o acontecimento, tem sido muito difíceis. Me senti paralisada, estagnada, estacionada, morrendo de medo, apavorada, morrendo de medo, apavorada, envergonhada, me sentindo fraca, pequena, burra e sozinha no meio de uma escuridão sem fim”, contou. "Pessoas sabendo do caso se calando, se neutralizando: ‘Não vou me meter’ e passando pano e a cada segundo, ocorrências do tipo matando milhares de mulheres”, continuou Anna.

Ela também publicou um áudio, que teria sido um dos episódios de violência. Na gravação, a voz que seria da modelo afirma: "Você está me agredindo".

E em resposta, o áudio atribuído ao empresário Vitor Hugo diz: "Sabe o que faltou na sua vida? Agressão, pra você virar mulher".

Somente em 2020, O Brasil recebeu 105 mil denúncias de violência contra mulher, e os números só crescem, principalmente pela força das mulheres que, com mais informação, denunciam e expõe seus agressores. A reportagem de O SÃO GONÇALO conversou com a psicóloga Natália Pacheco, de 31 anos, formada há quase uma década, com foco em relacionamento, autoestima, ansiedade e pós graduando em sexualidade e psicologia. 

Natália conta que recebe muitos casos de mulheres que passam por esse tipo de situação, mas que muitas vezes não têm noção de estarem vivenciando um relacionamento tóxico, de autoritarismo. Acabam achando comum, então não chegam até o consultório como um pedido de ajuda, mas querendo entender a razão de se sentirem negativas, sem valor e o motivo de terem tantos defeitos apontados pelo parceiro. Ela ainda defende que uma das formas de atingir números menores de casos é educando as pessoas a perceberem sinais de características tóxicas e abusivas, para que saibam o que fazer caso estejam dentro de uma situação dessa. 

"O processo de psicoterapia é fundamental para essa mulher se achar capaz e fazer boas escolhas depois de uma experiência negativa. A terapia é importante na vida do ser humano de forma geral, mas em específico sobre essa mulher é fazê-la entender que não tem culpa por passar por situações difíceis. Ela deve, sim,  despertar para o auto perdão das escolhas negativas que talvez tenha feito, procurar olhar para si mesma com mais compaixão, começar um trabalho de ensinar a se olhar, de dentro pra fora com mais amor e relembrar quem ela é, as perspectivas de vida e o que deseja", explica a especialista.

No entanto, ainda existe uma parcela da população que não acredita na eficiência da terapia, o que torna ainda mais complicado fazer com que a vítima entenda a necessidade de cuidar da saúde mental. A psicóloga aponta um caminho para mudar a visão dessa pessoa sobre o assunto: 

"Se eu faço a terapia e vejo que alguém precisa, mas é muito resistente, eu posso dizer o quanto as sessões funcionam para mim, o quanto me proporciona benefícios. Posso contar situações que já aconteceram comigo e mostrar que de alguma maneira está dando resultado. Eu desperto no outro o desejo de 'se está tão bom para ela, pode ser que seja bom para mim também'", acrescentou Natália.

O caso da Anna é um exemplo, pois mesmo após ela ter tido forças para fazer a denúncia, relatou estar envergonhada.

"Ela se sente fraca com inúmeros questionamentos do porquê não fez isso antes, e se questiona também de ter deixado aquilo acontecer. E na consulta a gente foca em mostrar que não fez antes, mas está buscando agora mudar as coisas. O que uma vítima deve fazer nesse caso é não dar atenção pra esse tipo de coisa, olhar para si e se parabenizar por ter tido uma ação tão nobre a favor da própria vida quanto é a coragem e força de expor um agressor".

Por fim, a psicóloga alerta sobre a prevenção.

"O ideal é buscar alguém que a faça se sentir confortável e acolhida para dividir a situação e dizer que está tomando coragem, pedir um auxílio para ir junto. Tomar as devidas providências com o amparo de alguém acaba dando mais força para quem está dentro do problema. E caso se sinta em perigo, ligar para polícia emergencialmente que eles vão saber como direcioná-la. A vítima precisa ter alguém para confiar, sabendo de todo o cenário", completa Natália, que deixa um apelo: "Esteja com alguém pelo o que ela é e não pelo o que se apresenta esteticamente, isso tem a ver com respeito".

*Sob supervisão de Cyntia Fonseca

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