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Mãe pede justiça por João Pedro: 365 dias passaram, nenhuma resposta foi dada

A mãe do menino estava em um dos atos de protesto nesta manhã (18)

relogio min de leitura | Escrito por Renata Sena e Ana Carolina Moraes | 18 de maio de 2021 - 12:41
Rafaela Coutinho estava no ato de hoje pedindo justiça por seu filho
Rafaela Coutinho estava no ato de hoje pedindo justiça por seu filho -

"Nada trará o João de volta, mas teremos um pouco de conforto no nosso coração, como familiares, quando conseguirmos ver essa justiça acontecendo, com os culpados sendo punidos. Nós, mães, que perdemos nossos filhos para o Estado, é difícil, pois não vivemos nosso luto, ele tem que virar luta, temos que partir logo para a luta". O relato angustiado é da professora de educação infantil Rafaela Coutinho Matos, a mãe do menino João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, que foi morto durante uma operação policial no Complexo do Salgueiro, onde morava, no dia 18 de março de 2020. Nesta terça-feira (18), estão ocorrendo diversos atos lembrando que o caso completou um ano e ainda não há respostas sobre os responsáveis pela morte do menino.

A mãe de João Pedro estava em um dos atos feito para o menino nesta manhã (18). As pessoas se concentraram no Rodo de Itaúna, às 7h, para marchar pelo 'Amanhecer por João Pedro'. Atos parecidos, clamando por Justiça, também ocorreram em Niterói, Belford Roxo, no Rio de Janeiro, em Saquarema e Maricá.

Ocorreram diversos atos em São Gonçalo e outros locais do Rio de Janeiro na manhã de hoje (18)
Ocorreram diversos atos em São Gonçalo e outros locais do Rio de Janeiro na manhã de hoje (18) |  Foto: Filipe Aguiar
 

Para Rafaela, este um ano do caso marca o pior pesadelo da família, que apenas pede respostas. "Nesse um ano, vivemos uma angústia por causa dessa impunidade que vemos no Brasil. Eu, enquanto mãe, vejo outros casos já sendo solucionados, como o caso do Henry Borel, que já teve uma solução, e o caso do João Pedro eu vejo parado, então, é uma angústia. Eles já sabem quem foram os autores do crime, mas continua essa impunidade. Com certeza essa demora no processo, é uma forma deles ganharem tempo para que a justiça não seja feita", contou a mãe do menino que acredita que essa seja uma forma do Estado de proteger os policiais envolvidos no caso.

A professora relatou que continua morando no Salgueiro, mas que não é uma situação fácil. "Após tudo o que ocorreu, minha família tem tentado seguir em frente, tentamos voltar a antigos hábitos e rotinas, mas não tem sido fácil, tem sido bastante difícil. A nossa relação em estar morando onde tudo ocorreu é bem difícil pelas lembranças, não que se sairmos dali, essas lembranças apagam, mas queríamos não estar mais morando lá", relatou emocionada.

Rafaela ainda deixou um recado para mães que criam seus filhos dentro de comunidades. "Na grande verdade, o único recado que deixo é que as mães continuem instruindo seus filhos nos estudos, como eu sempre fiz com o João, para que eles se dediquem, porque em questão do que acontece nas comunidades eu não tenho nada a dizer, porque o João Pedro estava dentro de casa, como que eu vou dizer para essas mães: "deixem os seus filhos dentro de casa", se quando tudo aconteceu o meu filho estava dentro de casa? É muito difícil", constatou ela.

João Pedro foi morto no dia 18 de maio de 2020
João Pedro foi morto no dia 18 de maio de 2020 |  Foto: Filipe Aguiar
 

Sobre o caso Henry, a mãe de João Pedro acredita que se seu filho fosse da Zona Sul, o caso já estaria encerrado e resolvido. "Com certeza não teria ocorrido o que houve, porque a polícia não teria invadido a casa, porque seria uma casa boa. Se fosse na Zona Sul, eles teriam batido no portão e perguntado o nome de quem estava na casa e não simplesmente atiraria contra ela. Eles não perguntaram nada, eles invadiram a casa e mataram o meu filho. A casa que João Pedro estava brincando com os primos quando tudo aconteceu é uma casa de família, de anos de trabalho, pertence aos pais da minha cunhada. Não é porque você mora na comunidade que não pode trabalhar honestamente e ter uma vida boa. Nem todos que moram em comunidades são bandidos", disse indignada.

A manifestação em questão saiu do Rodo de Itaúna e seguiu em direção à Praça Dr. Luiz Palmier, no Centro de São Gonçalo.

Recordando

No dia 18 de maio de 2020, João Pedro estava com seus primos brincando em uma casa na Praia da Luz, em Itaoca. Segundo depoimentos da época, os policiais que estavam em operação chegaram atirando e um dos disparos acabou acertando João Pedro na barriga.  A família de João Pedro passou 17 horas sem notícias do menino, já que ele foi levado por policiais sem que nenhum dos familiares soubesse. Ele foi encontrado pelos parentes já sem vida no Instituto Médico-Legal (IML) do Tribobó.

A operação no Complexo do Salgueiro naquele dia foi feita por agentes da Polícia Federal, com apoio de policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), e helicópteros da Polícia Militar. Segundo a versão dos agentes, eles dispararam contra a casa onde estava João Pedro, pois seguranças de traficantes da área estavam tentando fugir pelo muro da residência. Algumas armas dos agentes envolvidos na operação no Salgueiro foram apreendidas após a morte do menino.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), através da 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada dos Núcleos Niterói e São Gonçalo, e agora também pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF-RJ). 

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