Mulheres conquistam espaços e fazem a diferença dentro dos batalhões da PM
Policiais militares femininas conquistaram funções importantes dentro da corporação nos últimos anos

Nesta quarta-feira, 17 de março, o estado do Rio de Janeiro celebra o Dia da Policial Militar Feminina, em homenagem às mulheres que estão demonstrando cada vez mais sua importância e ganhando destaque dentro da corporação, que sempre foi predominantemente ocupada por homens.
O jornal O SÃO GONÇALO reuniu histórias de mulheres que atuam nos batalhões de São Gonçalo (7º BPM), Niterói (12º BPM) e Itaboraí (35º BPM) para mostrar os desafios travados e as conquistas que elas têm conseguido à frente dos cargos em que ocupam.
Juliane Rodrigues Menezes Silva, de 33 anos, faz parte do batalhão de Itaboraí e atua há nove anos na corporação. Ela afirma que foi uma mulher, sua tia, que a inspirou a fazer parte da Polícia Militar.
"Tenho uma tia que é policial militar reformada e ela conversou comigo sobre o que é ser policial. Ela disse que tudo que ela conquistou na vida dela é devido à Polícia Militar e que se eu entrasse para a corporação não me arrependeria. Hoje, eu vejo que realmente nasci para isso, para ajudar o próximo, para fazer o bem e a diferença na vida de quem precisa", afirmou.
No batalhão de Itaboraí, Juliane é uma das responsáveis por coordenar as ações sociais que são realizadas pela instituição, como campanhas de doação de alimentos, brinquedos e roupas, que são entregues a orfanatos e a instituições de acolhimento na cidade.
"No início, sofri esse preconceito, mas depois que os homens trabalham com a gente e eles veem que não é da forma como eles pensavam, conseguem ver como nós fazemos a diferença. A força não está no tamanho!", afirma.
Antes de entrar para a Polícia Militar, Aline Gouttnauer, de 45 anos, se formou como técnica de enfermagem e atuava na área de saúde. Ela prestou o concurso público da PM com objetivo de trabalhar no atendimento médico dentro corporação, mas acabou se apaixonando por outros setores da polícia e já atua há 18 anos na profissão.
"Não foi fácil. Antes do meu concurso, ficamos muito tempo sem ter uma prova para polícia feminina. As policiais femininas que estavam antes de mim já eram bem antigas e trabalhavam mais administrativamente", conta Aline, que, antes de ir para Itaboraí, foi lotada no 7º BPM (São Gonçalo), onde chegou a ser a única policial mulher a atuar na rua.
Aline afirma que enfrentou preconceitos dentro da corporação no início de sua carreira.
"Claro que existe um preconceito. Obviamente, enfrentamos preconceitos como em todos os lugares, ainda mais em uma função que é ocupada em sua maioria por homens. Muitas vezes ouvi frases do tipo: "O que você está fazendo aqui? Lugar de mulher não é na polícia". Até para conseguir parceiros para trabalhar com você na rua era complicado...", disse.
No entanto, ela conta também que conseguiu conquistar espaços com seu trabalho e sua dedicação. Com o tempo, os colegas, que antes a viam como inferior, passaram a entender que ela é igualmente competente e que o fato de ser mulher não interfere em sua capacidade.
"As coisas foram mudando ao longo do tempo conforme fomos conquistando nossos espaços. A nossa postura é que dita a forma como vamos ser tratadas. Ainda que logo de cara exista essa resistência, conforme vamos trabalhando, eles começam a ver que nós fazemos a mesma coisa que eles, que nossos trabalhos são tão importantes quanto", afirma a policial.
Aline também comemora o crescimento da participação feminina nos batalhões policiais.
"Hoje em dia, o quadro feminino cresceu um pouco. Ainda não somos tantas assim, mas é muito mais fácil você conseguir ver policiais mulheres atuando na rua, inclusive em Itaboraí, coisa que não tínhamos há alguns anos. Atualmente, isso está mais fácil porque as pessoas já entenderam que lugar de mulher é onde ela quiser", disse.
A policial militar Adriana de Abreu, de 37 anos, faz parte da PM há sete anos e atualmente está lotada no 7º BPM (São Gonçalo). Ela afirma que sempre teve o desejo de atuar na corporação realizando serviços sociais.
"Eu sempre estive muito ligada a essa atuação social e sempre quis entrar para a Polícia para poder fazer parte desses projetos. É uma possibilidade muito grande que nós temos de realizar campanhas e outras ações para ajudar as pessoas através do nosso trabalho", diz.
Assim como Juliane e Aline, Adriana também afirmou que sofreu preconceitos e enfrentou dificuldades ao ingressar na corporação, mas, ao longo do tempo, conseguiu superar esses problemas e também conquistou seu espaço.
"Não há como negar que existe esse preconceito. É muito complicado no início. Mas nós não podemos desistir. Com o tempo, conforme vamos nos firmando, mostrando nossa capacidade e nossa força, passamos a conquistar o respeito e admiração dos colegas", conclui.
A cabo Monique, de 34 anos, está lotada no 12º BPM (Niterói) e faz parte da corporação há nove anos. Antes de entrar para a PM, ela trabalhava em uma livraria, mas tudo mudou quando viu a entrevista de uma mulher policial na televisão.
"Fiquei muito motivada depois que assisti a uma entrevista da tenente-coronel Pricilla Azevedo, quando ela ainda era capitã e comandava a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] do Morro Santa Marta, no Rio. Ela me chamou muito a atenção pela forma como falava, como se comportava, a postura e o respeito que ela tinha na comunidade. E aí, depois disso, procurei saber mais sobre como era o ingresso na corporação", conta.
A policial também destaca que é necessário ter determinação e foco para vencer muitas dificuldades enfrentadas no dia a dia.
"Eu sempre digo que o principal, para nós, é vencer o cansaço. Quando entrei para a PM já tinha um filho e também precisava trabalhar e estudar. É preciso ter foco e determinação para vencer o cansaço. A realidade de muitas mulheres é de dupla jornada: tem que ser dona de casa, mãe, profissional... Então é importante focar sempre no objetivo", disse.

Patrulha Maria da Penha - Juliane e Aline comemoram também um dos principais projetos desempenhados pelos batalhões policiais: a Patrulha Maria da Penha. Institucionalizado em agosto de 2019, o projeto é realizado através de convênio entre a Polícia Militar e o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) e atualmente está presente em todos os batalhões do estado.
As equipes recebem do judiciário todas as medidas protetivas que são deferidas em favor das mulheres com objetivo de diminuir o índice de reincidência dos crimes, evitar o feminicídio e fazer valer efetivamente a medida protetiva.
"Nós temos um setor só para assistir essas mulheres. Nós acompanhamos semanalmente, levamos cesta básica e temos um telefone 24h que fica à disposição das mulheres. Já tivemos casos de prender em flagrante homens que desrespeitaram a medida. É uma ação muito importante", afirma Juliane.
"Esse trabalho é importante para que o agressor saiba que a medida protetiva não está simplesmente no papel, mas para que ele saiba que ele tem que cumprir a decisão. E, caso ele descumpra, será preso", comentou Aline, que atua na Patrulha Maria da Penha no batalhão de Itaboraí.
A PM Adriana ressalta que a participação das policiais femininas nesse programa é essencial para fazer um acolhimento mais adequado às vítimas de violência doméstica.
"Uma mulher consegue se colocar no lugar da outra, consegue ouvir a vítima, ter uma conversa melhor e até mesmo fazer com que ela consiga se abrir um pouco mais. Em muitos casos, as mulheres ficam com vergonha de falar, têm medo, e quando elas têm esse acolhimento de uma outra mulher elas se sentem mais confortáveis para falar. Existe uma empatia maior e isso é fundamental para o nosso trabalho de acolhimento", afirma.
"Nossa participação é essencial na patrulha. As vítimas se sentem acolhidas e mais seguras de compartilhar as informações com uma mulher. Isso tem um grande valor", reforça a PM Monique.