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Cabo Frio: CPI do Hospital da Mulher ouve relatos de violência obstétrica

CPI investiga mortes de recém-nascidos

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 18 de setembro de 2019 - 09:50
Imagem ilustrativa da imagem Cabo Frio: CPI do Hospital da Mulher ouve relatos de violência obstétrica

Lizandra Rodrigues Gonçalves, de 27 anos, foi uma das 20 mães que perderam seus bebês no primeiro semestre deste ano no Hospital da Mulher, em Cabo Frio. Ela foi vítima de violência obstétrica com 41 semanas de gestação e contou a sua história nesta terça-feira (17/09) para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) que investiga mortes de recém-nascidos no hospital da Região dos Lagos.

De acordo com o pré-natal que realizou na rede particular, Lizandra estava com o parto previsto para o dia 18 de fevereiro. Ela sentiu dores dois dias antes e foi até o Hospital da Mulher. "Quando dei entrada no dia 16, o médico fez o atendimento e me mandou de volta para casa. Retornei no dia 18 com fortes dores e mandaram para casa novamente. No dia 24 foi a mesma coisa. No dia 26 queriam que voltasse de novo para casa mas eu insisti e disse que não tinha sentido o meu bebê mexer desde a manhã. Fui internada e avisada de que não havia mais batimento cardíaco no meu filho, e a cesariana aconteceu dez horas depois', lamentou Lizandra, que é mãe de uma menina de 8 anos. Além do descaso da unidade de saúde, ela reclama ainda de não ter tido acesso ao prontuário médico. "Sem o prontuário não conseguimos saber nem mesmo a causa da morte ", contou.

Presidente da CPI, deputada Renata Souza (PSol), comentou que esses relatos ajudam a comissão a identificar onde estão as falhas nesse processo e a apresentar recomendações no relatório final da comissão. "Precisamos urgentemente de mudanças e são esses depoimentos é que podem qualificar ainda mais o documento que apresentaremos", disse a parlamentar.

A CPI também ouviu vítimas de outros hospitais, como a produtora cultural Dayana Lima que teve uma gravidez tubária seguida de hemorragia interna e precisou fazer uma cirurgia de emergência na Maternidade Municipal Fernando Magalhães, em São Cristóvão, Zona Norte da capital. Ela contou que não recebeu nenhum tipo de assistência do hospital diante da perda. Atualmente, Dayana faz parte do Movimento do Luto à Luta, que apoia famílias que passaram pelo mesmo processo.

"Existe uma falta de sensibilidade dos profissionais de saúde ao abordarem as questões da perda, tanto na hora de dar a notícia quanto aos procedimentos adotados após a perda. Os hospitais não são preparados para ter um espaço reservado para essa mãe que perdeu o bebê. Eu mesma, após a minha perda fiquei ao lado de duas mães dando à luz. A educação para esse momento é muito pertinente e precisa ser um assunto de maior abrangência na sociedade", defendeu.

Mulheres presas

Quando se trata de mulheres presas os casos de violência obstétrica são ainda mais graves. De acordo com Natália Damázio, que integra o Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura (MEPCT/RJ), elas enfrentam violações desde que entram no sistema prisional. Muitas grávidas em trabalho de parto chegam a levar 12 horas das unidades prisionais até o hospital. "Elas só chegam à maternidade em expulsão, o trabalho de parto é muito anterior e todo ele é feito com a mulher algemada", relatou.

Ainda de acordo com Natália, a presa que está em privação de liberdade passa por uma desassistência absoluta. "Faltam profissionais de saúde adequados nas unidades onde elas estão, o pré-natal não é feito de forma regular, o meio de transporte não é adequado e não é assegurado à presa o direito a um acompanhante durante o parto", informou.

A relatora da CPI, deputada Enfermeira Rejane (PCdoB), disse que é preciso pensar políticas públicas que protejam as mulheres. "Essa audiência foi muito importante para ampliarmos esse debate", disse.

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