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A arte de ser avó

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 26 de julho de 2015 - 08:54

Há dois ou três anos atrás, escrevi, aqui, sobre o dia da avó. Mas o fiz falando sobre a riqueza de se ter uma avó, aquela pessoa cuja paciência está sempre disponível para os netos, tenham eles a idade que tiverem. Hoje, dia 26 de julho, Dia da Avó, minha emoção, como avó, me encaminhou em direção ao tema. Mas, desta vez, com o olhar direcionado, não ao fato de ter avó, que é uma coisa indescritível, mas ao fato de ser avó. Lembrei-me, então, de um belíssimo texto que eu li há algum tempo, A arte de ser avó, da extraordinária escritora brasileira cearense, Raquel de Queirós, que desenvolveu trabalhos como tradutora, romancista, jornalista, cronista política, dramaturga e autora de destaque na ficção social nordestina.

Ela inicia seu texto falando que netos São como heranças que se ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus.” E os ingleses têm razão: netos são um ato de Deus. Depois de ter os filhos, de ser responsáveis pela sua formação e pelo que eles são e virão a ser, recebemos, de presente, aquele pequenino ser que renova nossa vida e nos dá a alegria de abraços, de carinhos e daquela agitação infantil a nossa volta. Surge, então, um duplo sentimento de vivenciar o passado e o presente: um sentimento de saudade - das crianças que tivemos - e um sentimento de exultação - pela criança que nossos filhos tiveram e que os sentimos, também, como nossos.

Mas, diz Raquel de Queirós, numa outra parte de seu texto, que “nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa, por isso, de ser a mãe do garoto (ou da garota), aquela que tem todos os direitos sobre a criança, os mesmos que, um dia, tivemos sobre os filhos e impedimos que outro, mesmo que fosse a avó, se interpusesse no caminho. Somos chamadas, sim, quando há necessidade e quando a insegurança bate à porta da vida. Acabado o susto, exatamente como deve ser, cada um se coloca no seu devido lugar. No entanto, se a avó não tem direitos legais, ela tem direitos afetivos, pois ela é, para a criança, aquela que “oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas {...}É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia.”

Os direitos afetivos pode não valer para a justiça dos homens, mas vale para a justiça dos sentimentos, para a vida daqueles que necessitam dela. Ser avó é ter sempre tatuado no olhar o brilho que a visão dos netos lhes infunde. Avó, é aquela que sonha o sonho dos netos, que deseja o desejo dos netos. São mágicas em qualquer tempo, pois trazem de volta os sabores da infância. É aquela que conhece a felicidade, o amor doce e profundo. Ser avó é viver de carinho e ansiedade. Hoje as avós mudaram, são mais jovens, não tricotam mais, mas trazem, no coração, a mesma exultação que vence idade e tempo: o amor pelos netos.

Como é bonito observar o olhar de uma avó para o neto? Que mistério existe nesta relação? Que magia há no entendimento entre os dois, na hora em que repreendido o neto olha para a avó, na certeza de que ela nada vai fazer, mas na certeza, também, de que há ali, uma incondicional cumplicidade. Olha para ela na certeza de que assim que for possível, aqueles braços frágeis, mas donos de uma fortaleza inominável, estarão abertos para o aconchego do coração.

A professora Marlene Salgado de Oliveira é mestre em Educação pela UFF, doutoranda em Educação pela UNED (Espanha) e membro de diversas organizações nacionais e internacionais.

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