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O cultivo de um país

Escrito por Redação | 06 de novembro de 2016 - 12:00
A data de ontem – 05 de novembro – foi dedicada ao Dia Nacional da Cultura, porque foi neste dia que veio ao mundo um dos homens mais cultos do país. Um dos maiores, senão o maior estadista, político, diplomata e jurista que o Brasil já teve: Rui Barbosa.
Dizem que aos cinco anos, ele fez seu professor exclamar: Este menino de cinco anos de idade é o maior talento que eu já vi. Aos 11 anos, outro professor relata a seu pai: Seu filho nada mais tem a aprender comigo. E, ainda sem idade para ingressar na universidade, conclui o curso ginasial. No ano seguinte, ingressa na Faculdade de Direito de Olinda.
Refletindo sobre a comemoração, comecei a pensar como é interessante se conhecer a origem das coisas. Aprendi há algum tempo que a palavra “cultura” – que vem do latim - culturae – originou-se a partir de outro termo latino – colere – que quer dizer cultivar as plantas ou ato de plantar e desenvolver atividades agrícolas.
Com o passar do tempo, fez-se uma analogia entre o cuidado no tratamento do plantio com o cuidado no cultivo das capacidades intelectuais e educacionais das pessoas. O conceito de cultura, então, ficou diretamente ligado ao cultivo do conjunto de manifestações linguísticas, sociais, artísticas e comportamentais de um povo ou de uma civilização. 
Assim, atividades e manifestações como música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, forma de organização social, etc., fazem parte da cultura de um povo. 
Nada mais justo, portanto, do que se comemorar o Dia Nacional da Cultura na data de nascimento de Rui Barbosa, excelente estadista que tanto fez pela cultura de nosso país. Apoiou o movimento republicano e teve grande participação no processo da Proclamação da República. 
Dotado de vasta erudição, revelou-se um excelente orador. Um de seus méritos incontestáveis foi a sua atuação como embaixador do Brasil na Conferência de Paz de Haia. Sua participação foi tão brilhante, face ao desafio quase impossível de ser superado, já que implicava em perdas de soberania dos Estados que, além de fazer o Brasil ser respeitado frente às grandes nações, recebeu o apelido de o “Águia de Haia”.
Além disso, deixou-nos, como legado, pensamentos de ética e moral de grande valia. Porque, sem dúvida, cultura é educação e educação se baseia na ética, na moral, nos conhecimentos, nas atitudes de dignidade. Dentre seus valiosos escritos, destaco esta frase: Toda a capacidade dos nossos estadistas se esvai na intriga, na astúcia, na cabala, na vingança, na inveja, na condescendência com o abuso, na salvação das aparências, no desleixo com o futuro.
E esta outra, vastamente conhecida e transcrita: De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Estas frases, parte de textos do jurista, foram publicadas há 102 anos – em 1914. Parece que só o tempo mudou; o resto, aqui, permanece inalterado. 
A cultura, embora mantenha certa tradição, muda de acordo com os fatos vividos pelos agentes sociais. Por isso, valores que constituíam uma força no passado abrandam-se no novo contexto das novas gerações. Um povo, quanto mais culto, mais condição tem de ler por trás do que é escrito ou dito e de defender-se, lutando com palavras em vez de fazê-lo com armas. 
Quando se abrem as portas para a cultura, multiplicam-se espaços para as diversas vozes que pensam sobre os problemas da sociedade. Se um homem sem cultura é como uma árvore sem raiz, um país sem cultura é como uma imensa floresta frágil sem solo que a sustente. 
Que o Dia da Cultura se propague pelos quatro cantos do nosso rincão.

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