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Quem não gosta de samba?

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 22 de outubro de 2016 - 20:32
Dorival Caymmi, compositor baiano, que sempre se inspirou nos hábitos, costumes e tradições do seu povo, já dizia que “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é / É ruim da cabeça, ou doente do pé”. Vinícius de Morais, carioca da gema, diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta essencialmente lírico, cantor e compositor, seguindo a trilha de Caymmi, nos conta que “O samba nasceu lá na Bahia / e se hoje ele é branco na poesia / e se hoje ele é branco na poesia / ele é negro demais no coração”. 
É verdade. O samba surge da mistura de estilos musicais africanos e brasileiros. Mas, apesar de ter nascido na Bahia, no século XIX, criou suas raízes e se desenvolveu no Rio de Janeiro. Nasceu, ficou engatinhando e, em 1916, no quintal da casa da Tia Ciata, lá na Praça Onze, numa roda de samba, compõe-se aquele que foi considerado o primeiro samba, já que foi o primeiro gravado, ouvido por muita gente e fez grande sucesso: Pelo telefone.
Embora alguns músicos que participavam da roda de samba onde ele foi composto também reivindicassem sua criação, ele é, oficialmente, composição de Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga e do jornalista Mauro de Almeida. Conta-se que em 27 de novembro de 1916, Donga vai à Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro e registra, como samba carnavalesco, a partitura de Pelo Telefone. Surge, neste momento, uma dúvida e uma grande polêmica: seria mesmo aquela música a primeira do gênero?
Esta interrogação, no entanto, não tirou da composição a sua força e ela se impôs como marco, já que, se não foi a primeira a ser composta, foi a primeira a ser registrada como tal. Ao procurar a Biblioteca Nacional para registrar seu samba, reivindicando os direitos autorais para uma obra popular, impensável para a época, Donga faz surgir uma posição nova no panorama da música popular brasileira. Mas, com certeza, o samba não nasceu com hora e data marcada. Pelo Telefone  tem, como antecedente, a tradição das religiões e batuques afro-brasileiros, das modinhas dos saraus, do lundu, do chorinho, do samba de Roda da Bahia, e do ritmo do maxixe tocado nos salões.
A verdade é que o ritmo e a sonoridade da letra eram tão bons que Pelo Telefone tornou-se o maior sucesso do Carnaval de 1917.  O samba caiu na boca do povo e virou até paródia na propaganda da cerveja Fidalga que dizia assim: “O chefe da folia / Pelo telefone / Manda-me dizer / Que há em toda a parte / Cerveja Fidalga / Pra gente beber”. 
Mas, se o samba foi o primeiro ou não do gênero, não importa muito. O que importa mesmo é que ele foi o pontapé inicial para que se produzisse e se gravasse, daí em diante, uma gama de belíssimas canções com este ritmo ardente. 
As páginas musicais de Noel Rosa são de uma maestria irretocável. De “Com que roupa que eu vou, ao samba que você me convidou” a “Quem nasce lá na Vila, nem sequer vacila a abraçar o samba”, uma infinidade de pérolas musicais foram escritas, gravadas e cantadas até hoje. 
Em verdade, Caymmi foi feliz ao dizer que Quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça, ou doente do pé e Vinícius acertou em cheio quando disse que “o samba nasceu lá na Bahia, e se hoje ele é branco na poesia, ele é negro demais no coração”. Da mistura de branco e negro, do sangue quente e gostoso, ou seja, deste amálgama bem temperado floresceu o samba que, cultivado num terreiro baiano plantado no Rio, criou asas e virou um símbolo da cultura nacional, uma das marcas de nossa identidade e um dos ritmos mais ricos do mundo. Na sua contínua exaltação da arte do samba, Vinícius, com toda a seriedade e contrição assim poetiza: “Fazer samba não é contar piada /porque samba assim não é de nada /o bom samba é uma forma de oração”. Então, oremos!

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