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ARTIGO 314: A CASA DOS MIL ESPELHOS

Escrito por Redação | 24 de julho de 2016 - 12:34
Nas andanças das minhas leituras, deparei-me, nesta semana, com um conto do folclore japonês muito interessante, chamado “A casa dos mil espelhos”. Conta o conto que, tempos atrás, num pequeno vilarejo, havia um lugar conhecido como A Casa dos mil Espelhos. Um cãozinho bem serelepe, ao saber do lugar, ficou curioso e decidiu visitá-lo. Assim que chegou à casa, subiu a escada lépido e fagueiro e se lançou porta a dentro. Olhou em volta, com as orelhas em pé e a cauda levantada, balançando tão rapidamente quanto podia. Para sua surpresa, viu sediante de mil pequenos e felizes cães, todos com suas orelhas em pé e com as caudas balançando tão rapidamente quanto a dele. Abriu um enorme sorriso e recebeu de volta, mil outros enormes sorrisos. Quando saiu da casa, pensou: Que lugar maravilhoso! Voltarei sempre que puder.
Neste mesmo vilarejo, vivia outro pequeno cão bem mal humorado, que resolveu visitar a casa. Lá chegando, escalou raivoso as escadas e olhou através da porta. Deparou-se, então, com mil cães agressivos que o olhavam fixamente. Assustado, rosnou, mostrou os dentes e ficou apavorado ao ver mil cães rosnando e mostrando os dentes para ele. Imediatamente, fugiu dali o mais rápido que pode e pensou: Que lugar horrível! Nunca mais volto aqui. 
Assim são as relações pessoais: cada rosto é um espelho que expõe ao mundo os frutos dos seus pensamentos, sentimentos e atos e, na maioria das vezes, recebe de volta o que ofereceu ao outro. Ouvimos dizer que gentileza gera gentileza. Se a recíproca é verdadeira, agressividade gera agressividade. Estamos vivendo no mundo da pressa, da impaciência, do julgamento rápido, da egocentricidade, dos sorrisos trancados. 
É certo que na vida há aqueles que são naturalmente pessimistas e apreciam prever infortúnios e fazer lamentações, mostrando uma visão de mundo negativa. Com isto, tornam-se escravos da dor, obscurecendo todo o novo que surge à sua frente. Alimentam o corpo e a alma com o negativismo absoluto, tornando suas existências um amontoado indizível de ansiedades que compõem o cenário de suas vidas.
No entanto, estas pessoas não se percebem assim e acabam mostrando, agressivamente, os dentes para os espelhos do mundo, os quais, como na história do cãozinho mal humorado, voltam-se para si mesmas. Além disto, só conseguem reclamar, seja lá do que for. E o responsável pelas lamentações é sempre o outro: os colegas de trabalho, o chefe irascível, a esposa rabugenta, os filhos desobedientes, a saúde, o trânsito,etc. 
A história da casa dos mil espelhos concretiza, perfeitamente, o resultado do olhar que cada um tem para o mundo. Aquele cãozinho feliz nos mostra que a causa do bem-estar vem de dentro. Somente aceitando esta premissa, podemos transformar os dissabores em possibilidades de melhores dias. São os olhos que dirigem a vida; são os olhos e a disposição que cada um tem de amar-se a si próprio e ao outro; são os olhos que ajudam a lidar com a paisagem que se avista da janela da vida. Se árida, deve-se regá-la e transformá-la em fértil e cultivável; se fértil, deve-se mantê-la cada vez mais viva, podendo vir a ser nova a cada dia. Esse olhar penetra na alma e dessa escolha, brotam as relações sadias que mantêm a paz.
Depois de ter trancado o coração a sete chaves, vem alguém e o destranca com um sorriso apenas, porque o sorriso é o brinde da alma, da cooperação, das relações sadias. Afinal, quem só vive olhando as pedras do chão, jamais conseguirá ver as estrelas do céu.

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