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“Mãe, na sua graça, é eternidade”

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 09 de maio de 2015 - 22:48

O título deste artigo é um dos versos do poema Para sempre, escrito por Carlos Drummond de Andrade, em louvor à mãe. A reverência à figura da mãe é ancestral e mitológica. Na Grécia antiga, em honra a Reia, mãe dos deuses, festejava-se a entrada da primavera. Era uma festividade que advinha do costume de adorar a mãe. Nesse dia, os gregos faziam ofertas, dando presentes à deusa, além de prestarem-lhe homenagem. Os romanos, que também eram politeístas e seguiam uma religião muito parecida com a dos gregos, também faziam este tipo de celebração. As festividades duravam três dias e eram feitas em homenagem a Cibele, mãe dos deuses. O caráter cristão da comemoração teve início bem nos primórdios do cristianismo, quando começaram a fazer festejos em homenagem à Virgem Maria, mãe de Jesus. Na Idade Média, os trabalhadores que moravam longe de suas famílias ganhavam um dia para visitar suas mães. Este dia era chamado pelos ingleses de “mother day”, ou seja, dia da mãe.

Pelo exposto, vê-se que a mãe sempre foi respeitada como uma criatura especial, muito tempo antes deste dia se tornar altamente comercial. Mas a comercialização do dia das mães não tira dele a beleza nem a poesia. Independente de presentes, a mãe é aquela figura em que o amor se aloja em seu coração, transbordando por todo o seu corpo e sua alma. Nada mais puro, mais singelo e mais violento que o amor de mãe. O Poeta Mário Quintana, querendo expressar seu sentimento sobre a mãe, escreveu: Mãe, são três letras apenas / As desse nome bendito. / Três letrinhas, nada mais... / E nelas cabe o infinito /E palavra tão pequena - confessam mesmo os ateus - És do tamanho do céu/ E apenas menor que Deus.

Ninguém melhor do que os poetas sabe escrever sobre mãe. Quando perguntaram ao poeta chileno Pablo Neruda, um dos maiores da modernidade, em que época escreveu o seu primeiro poema, ou seja, quando nasceu a sua poesia, ele disse que foi na sua infância. Conta que, mal sabendo ainda escrever, sentiu uma imensa comoção e começou a rabiscar umas tantas palavras semirrimadas, mas bastante estranhas para ele, uma criança, pois aquelas palavras estavam longe de pertencer à linguagem do cotidiano. Então, Neruda passou o rabisco a limpo num papel, e como ele confessa, fez isto “dominado por uma ansiedade profunda, um sentimento até então desconhecido, misto de angústia e tristeza”. E o que foi que o poeta escreveu? Um poema dedicado à sua mãe, ou seja aquela que o poeta conheceu como tal, pois ela era, nada mais nada menos, segundo ele, que “a angélica madrasta cuja sombra suave me protegeu toda a infância”. É isto que é a mãe - angelical e protetora - tenha gerado o filho no ventre ou simplesmente o colocado no ventre de seu coração. Um ser que, acima de tudo e contra tudo, acalanta angelicalmente o filho e o protege contra ventos e tempestades.

Numa entrevista, Marisa Raja Gabaglia perguntou a Clarice Lispector: - Você tem paz, Clarice? Resposta: - Nem pai nem mãe. E Marisa retruca: - Eu disse “paz”. E Clarice explica: - Que estranho, pensei que tivesse dito pais. Estava pensando em minha mãe alguns segundos antes. Pensei - mamãe - e então não ouvi mais nada. É isso aí. Mãe é sempre presença, é norte, é porto seguro, é vela que se abre ao vento e empurra o filho para a aventura da vida, é força, é anjo, é paz. Por isso, Carlos Drummond de Andrade termina o poema que deu título a este artigo, assim: Fosse eu Rei do Mundo. baixava uma lei:/ Mãe não morre nunca, / mãe ficará sempre junto do seu filho / e ele, velho embora, / será pequenino feito um grão de milho.
Parabéns, a todas as mães do mundo!

A professora Marlene Salgado de Oliveira é mestre em Educação pela UFF, doutorada em Educação pela UNED (Espanha) e membro de diversas organizações nacionais e internacionais.e-mail: recadodaprofessora@jornalsg.com.br

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