Secretário de Saúde de SG diz que cidade ainda tem leitos e respiradores disponíveis
Antunes diz que policlínica do Vila Três não está disponível para o combate ao covid-19 por problemas estruturais

Por Rennan Rebello
Diante da pandemia do novo coronavírus (covid-19), além dos gestores executivos, seja o presidente, governadores ou prefeitos, a população acompanha com atenção o desempenho dos responsáveis pela área de Saúde. Em nível nacional, é o ministro da Saúde o alvo das atenções da população e da mídia. Aliás, o Brasil acaba de trocar pela segunda vez o seu ministro, em menos de um mês. E diante da disputa política entre Governo Federal, estados e municípios, sobre a melhor forma de conter o avanço do coronavírus no país, são os secretários de saúde que estão na linha de frente, junto com médicos e enfermeiros, comandando essa 'guerra' contra o inimigo invisível.
Para entender quais são esses desafios enfrentados pelos gestores municipais da Saúde nesse momento de pandemia, O SÃO GONÇALO entrevistou secretários de a área de cidades da Região Metropolitana.
Para inaugurar a série, OSG traz as opiniões do secretário municipal de Saúde de São Gonçalo, Jefferson Antunes, 37, que é médico com especialização em otorrinolaringologia, e MBA de Gestão em Saúde. Ele assumiu o cargo após a saída de Dimas Gadelha (também médico), em abril de 2018. Antes, Antunes trabalhou como médico no Pronto Socorro Central Dr. Armando Gomes de Sá Couto (PSC), no Zé Garoto, desde 2008; e no último ano de governo do então prefeito Neilton Mulim (PR), em 2016, assumiu a função de coordenador de Clínica Médica. Em 2018, já na gestão Nanci foi subsecretário de Urgência e Emergência e diretor técnico do PSC.
OSG - São Gonçalo é uma cidade que não tem uma arrecadação alta de imposto e isto impacta nos investimentos em algumas áreas, como a Saúde. Como gestor qual é o maior desafio de comandar um município com esta característica e o que o senhor pensa sobre o sistema de OSs (Organizações Sociais), hoje feita pela empresa InSaúde) no PSC?
Antunes - O maior desafio em São Gonçalo é a gente superar barreiras. Eu como secretário, cobro muito trabalho. As UPAs (Unidade de Pronto Atendimento), eu habilitei e qualifiquei. Hoje, nós temos 14 ambulâncias: oito em operação e o resto em reserva. Coloquei veículos novos, o processo de informatização de toda a (área da) Saúde está em implantação porque a nossa demanda é muito grande e a logística é muito ruim. Adquirimos um mamógrafo e tomógrafo novos. Com estas questões assistenciais da Saúde nós vamos superando e fazendo um bom trabalho. Quanto a OS, o Hospital Luiz Palmier (HLP) que está direcionado para tratamento da covid-19, nós não iremos fazer uma OS como no Pronto Socorro Central. Eu sou a favor do modelo da OS, quando se é bem administrada. O que justifica uma OS é a questão da economicidade e a vantagem de ser menos burocrático e mais ágeis para realizar a gestão.
OSG - Uma reclamação recorrente da população é o fato da Policlínica do Vila Três, não inaugurada, não estar sendo aproveitada com leitos para tratamento de pacientes da covid-19. Por que aquele espaço não foi ativado para este fim?
Antunes - Este edifício no Vila Três é uma edificação que já tem 12 anos, praticamente. E verificando esta estrutura, há uma problemática de carga hidráulica e de reservatório d'água. A estrutura não é confiável e no segundo andar, por exemplo, só tem o sobre piso, e a unidade está muito degradada. Logo, a obra ficaria muito mais cara do que a transformação do HLP para tratamento exclusivo do coronavírus.
OSG - As prefeituras de Niterói e Maricá dividiram o valor de R$90 milhões, destinado ao fundo estadual para a construção do Hospital de Campanha, no Clube Mauá, que está sendo erguido desde o dia 8 de abril e ainda não foi inaugurado. Embora não seja responsabilidade do município, o mesmo não poderia apontar ao Governo do Estado que aquela área do campo de futebol tende a alagar com uma forte chuva? Desta forma, indicado um outro local? Além de que, com este dinheiro não poderia se criar hospitais permanentes?
Antunes - A responsabilidade do Hospital de Campanha: construção, administração e contratação de pessoal é toda do Estado. Eu fiz um projeto, onde estes R$ 90 milhões seriam utilizados para ampliação da rede e englobaria o Hospital das Freiras (em Lagoinha), que seria mais rápido e acessível do que transformar o prédio do Vila Três. Mas este projeto não foi acatado pelo Governo do Estado. Já a escolha pelo campo do Mauá também foi feita pelo Governo do Estado e não há ingerência do município. Na época, oferecemos terrenos no bairro Rosane, perto do Hospital Estadual Alberto Torres e do Posto Halley (ambos no Colubandê) e o estacionamento da Feira Nordestina (em Neves). A abertura de leitos é bem-vinda em qualquer lugar. O Hospital de Campanha está sendo instalado na parte elevada do campo do Clube Mauá. Não é uma área que alaga. E as fotos (do campo do Mauá alagado) que a gente vê são antigas, da época da tragédia da Região Serrana (chuvas de 2011). Portanto, para alagar desta forma é preciso ter um acontecimento atípico. Mas esta questão do alagamento foi apresentada para eles (Governo do Estado).
OSG - Outra preocupação durante esta pandemia é como atender a população das regiões periféricas da cidade, como Santa Izabel, Ipíiba, Itaitindiba, entre outros bairros que são afastados e carecem de infraestrutura, assim como as comunidades. Quais são as medidas adotadas pela Secretária de Saúde para atender esta população?
Antunes - Nessa área que você falou, nós colocaremos o atendimento mais próximo na região do Pacheco, onde abriremos o hospital franciscano. Além disso, temos as unidades de atendimento de emergência, como as UPAs e o Pronto Socorro. E nossos postos de Saúde estão funcionando, com isso, a nossa rede da atenção básica já está operando com protocolo e todo procedimento que deve ser feito. E também estamos usando motofogs (motocicletas adaptadas para sanitizar vias públicas) em áreas carentes, onde é melhor entrar de moto por conta de terrenos mais acidentados. Nós temos um mapa demográfico que aponta os lugares que estão com mais infectados e nestas regiões temos um trabalho maior de sanitização. Além disso, estou abrindo um processo para doarmos máscaras de pano para a população porque sabemos que nossa população é muito carente.
OSG - O Hospital Luiz Palmier tem 100 leitos e 40 respiradores (recentemente a unidade ganhou mais 15 leitos). Com a abertura do Hospital das Freiras, a rede será ampliada para quantos leitos e respiradores? Quando o Hospital das Freiras será inaugurado? Ainda sobre os leitos na cidade, qual é o percentual de uso no momento? Está próximo de 100% da capacidade geral? As pessoas que têm sintomas de covid-19, como devem proceder?
Antunes - O município hoje está utilizando de respiradores para 23 pacientes na UTI e eu tenho capacidade de 40 no HLP, portanto, não estou com a capacidade esgotada, graças a Deus. A abertura do Hospital das Freiras, eu estive lá verificando as obras e a inauguração deve ocorrer daqui a 10 dias. Quem apresentar sintomas deve ir ao centro de triagem, no Zé Garoto, na rua próximo aos Correios ou na UPA mais próxima de casa. E nós também temos um centro de triagem na Parada 40, que é mais destinado para pessoas que contraíram doenças sexualmente transmissível, e que fazem parte de um grupo de risco. Nós também vamos abrir um centro de triagem infantil e outro no hospital franciscano. E lógico, em caso de urgência, pode procurar a unidade hospitalar.
Até o fechamento desta matéria, na noite desta sexta feira, 15 de abril, os dados oficiais da doença eram de 5.309 casos suspeitos, 521 confirmados, 560 descartados, 84 óbitos confirmados e 33 óbitos em investigação.
Com a abertura do Hospital das Freiras, a cidade contará com mais 85 leitos e 60 respiradores em alas de UTI. Já para o período pós-pandemia, o secretário Jefferson Antunes disse que não há nenhum acerto com o Governo do Estado sobre se os equipamentos do Hospital de Campanha do Clube Mauá continuarão no município. A reportagem de OSG entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde, mas não obteve resposta.
Atualização: Nesta sexta-feira (15), a Secretaria de Estado de Saúde, o Hospital de Campanha de São Gonçalo, no Clube Mauá, será inaugurado no próximo domingo (17).