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Eleições 2002, confira entrevista com o ex comandante geral da PM, candidato a deputado estadual

Coronel Wolney Dias é candidato a deputado estadual pelo Partido Progressista (PP)

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 26 de setembro de 2022 - 07:34
O coronel Wolney Dias Ferreira, de 61 anos, foi comandante geral da Polícia Militar e, mesmo após reformado seguiu trabalhando na área de Segurança Pública
O coronel Wolney Dias Ferreira, de 61 anos, foi comandante geral da Polícia Militar e, mesmo após reformado seguiu trabalhando na área de Segurança Pública -

O coronel Wolney Dias Ferreira, de 61 anos, foi comandante geral da Polícia Militar e, mesmo após reformado seguiu trabalhando na área de Segurança Pública. Atualmente, Dias é candidato a deputado estadual pelo Partido Progressista (PP) e acredita que sua experiência pode ajudar na luta por melhores condições de trabalho aos policiais, familiares de agentes de segurança e, principalmente, aos profissionais da reserva e pensionistas. 

Durante uma conversa com o OSG, Dias falou sobre sua trajetória profissional e os caminhos que o levaram até sua candidatura, além de comentar sobre seus planos de projeto e suas futuras lutas. 

O SÃO GONÇALO - Qual o histórico de vida do senhor?

Coronel Wolney Dias - Em 1969 fui pra Força Aérea, fiquei até 1981 e fui para o ITA. Após experiência como militar, eu vi que minha vocação era realmente essa. Aí em 1982 eu prestei concurso para a academia da Polícia Militar, onde ingressei e até hoje eu tenho certeza que foi a opção correta, porque eu me realizo muito na minha profissão. A minha primeira opção foi enganharia, mas eu vi que minha vocação era pra carreira militar.

OSG - O senhor passou por todos os postos da Polícia Militar, chegando até o Comando Geral da PM. Como foi sua trajetória na corporação?

Coronel Dias - Cheguei a subcomandante, em 2000 assumi como comandante. Passei por diversos batalhões, passei pelo 35º BPM (Itaboraí), pelo 12º BPM (Niterói) fui para o 4º CPA, corregedoria da PM. Em 2015 fui para a reserva e fui convidado a assumir o cargo de corregedor da Secretaria de Administração Penitenciária. Em 2016 fui convocado, retornei pra ativa e assumi o Comando Geral, onde fiquei até 2018. Ao passar o comando, fui convidado a ir para a Secretaria da Ordem Pública do Rio, onde fiquei até 2020, quando enverdei para carreira política.

OSG - O senhor teve uma longa carreira na parte operacional. O que o senhor acha que como policial não conseguiu fazer, mas que pode fazer como político?

Coronel Dias - A gente percebe que depende de uma série de fatores. A instituição da PM não consegue dar conta se ela não tiver um suporte político,  jurídico, do próprio governo. A Alerj tem uma função muito importante, não somente através de emendas parlamentares, mas na elaboração de legislação que possa facilitar o trabalho da polícia. Eu vejo que como parlamentar nós temos condições, e muito, de contribuir para a polícia. Primeiro porque a gente já conhece o problema.  Elaborar emendas que possam contribuir não só com a aquisição de recursos, mas também para a própria formação, para a incorporar mais policiais. A falta de efetivo sempre foi um problema muito grande, e tudo isso passa pela aprovação parlamentar. Então eu acho que lá podemos contribuir muito.

OSG - Quando o senhor estava no comando do 12ºBPM (Niterói) o senhor chegou a falar da falta de recursos na Polícia Militar. O senhor hoje tem essa avaliação ainda? Acredita que trazendo novos policiais o problema pode ser resolvido ou ainda existe uma falta mais ampla de recursos na instituição?

Coronel Dias - A necessidade de investimento na segurança é clara. É preciso investir em recursos materiais e investir nos homens. O nosso maior patrimônio é o policial militar. Cada policial é muito importante para a instituição. Ele precisa de suporte, de apoio para realizar sua função. Então é necessário investimento, no homem, na melhor condição de trabalho, até na segurança dos policiais. Eu entendo que é muito importante esse trabalho e esse investimento para que a gente consiga atingir graus satisfatórios de trabalho.

OSG - Com 39 anos na PM, qual a avaliação que o senhor faz do seu trabalho à frente dos batalhões que ocupou, e o que acredita que culminou com sua ida para o comando geral da corporação?

Coronel Dias - Eu acho que tudo é resultado de um trabalho ao longo de mais de 30 anos de serviço. Entre aqueles que estão no posto de coronel, são escolhidos por diversos motivos, operacional, pelo perfil. Eu acho que o que me ajudou foi ter passado esse tempo todo na corporação. Eu integrei uma força das Nações Unidas, em Moçambique. Isso me ajudou muito, eu evolui muito profissionalmente, pessoalmente. Isso tudo conta. Então eu acho que o que me ajudou foi o trabalho que eu excutei com muita dedicação ao longo da carreira.

OSG - O que faz com que uma pessoa reformada, que, teoricamente, já cumpriu sua missão profissional, entre nesse novo desafio da vida política? 

Coronel Dias -  Eu defendo que as pessoas de bem devam entrar na política. As pessoas criticam muito, a gente percebe que há uma indiferença muito grande da população com os políticos. Por isso se você disser que político é ruim eu não vou concordar com você. Pois, político é qualquer um de nós que entra na política. Se vocês fizerem pessoas de bem entrar na política, teremos políticos bons. Se você não entra na política você abre espaço. Nós temos que incentivar que pessoas de bem entrem na política.

OSG -  A gente acompanha o número crescente de policiais mortos em operação, de folga. Mas o que também tem apresentado números assustadores são policiais que tiram a própria vida. O senhor tem isso como uma preocupação? O senhor tem algum projeto para esses profissionais terem algum apoio psicológico?

Coronel Dias - Eu vejo que a nossa atividade policial é muito estressante, e as pessoas sob o risco de perder suas vidas ficam ainda mais estressadas. É muito importante que a gente crie mecanismos de suporte para nosso policial. Seja através de recursos materais ou através de uma legislação que o faça sentir mais seguro nas suas ações. Mais apoiado. Existe também a questão salarial. O policial não pode atuar sabendo que deixou em casa sua família passando necessidade. Então o policial militar que diariamente sangra, que tinge o solo com seu sangue precisa ser valorizado. Como se chama quem dá a vida para salvar a vida do outro? São heróis, então esses heróis merecem ser valorizados. Então a sociedade tem que se conscientizar e se empenhar em apoiar sua polícia. A polícia é a ultima linha entre o estado de ordem e o caos. Heróis tem que ser glorificados e valorizados. Em 2017 havia um trabalho de uma comissão que estudava essa questão de vitimização. A maior dificuldade que enfrentei no comando foi juntamente a morte de políciais em serviço, de folga, é muito duro perder policiais. A questão é aumentar os estudos para descobrirmos de que forma podemos diminuir essa vitimização. O ideal é que não morra nunguém. O policial precisa se sentir protegido para realizar suas funções. Nós temos que nos debruçar sobre esse tema. Pois temos policiais perdendo a vida e isso não pode ser banalizado.

OSG - Para trazer essa valorização aos policiais, a gente precisa de política pública também para a população. O senhor também como representante político obviamente vai lutar por uma classe, mas o senhor vai representar toda a população. O senhor teria um recado, um pedido para fazer para essa população, que precisa inclusive saber como tratar um policial? Porque hoje a gente vê hostilidade e para mudar o outro lado a gente também precisa mudar o lado das pessoas. Como o senhor vê esse tema?

Coronel Dias - Quando a gente se candidata, a gente busca um nicho, um tema, mas quando eleito, nós passamos a ser representantes de uma sociedade. Aqueles que querem ingressar na política tem que ter o sentimento de espírito público muito forte, tem que entender que passa a ser representante de todas as categorias, não somente dos integrantes de Segurança Pública, mas também da Saúde, da Educação, esses sistemas são extremamente importantes, tudo isso tem que funcionar de forma harmônica. Eu entendo que o político que se dedica totalmente a sua atividade pública tem tempo de buscar saber quais são as deficiências nas outras áreas, seja Educação, na Saúde… E a gente pode, através de várias ações, buscar isso, seja através de audiência pública, seja através de interesse em conhecer as dificuldades que esses profissionais enfrentam e buscar adotar medidas, propor legislação que procure melhorar as condições de trabalho dessas pessoas para que elas ofereçam um serviço melhor para a sociedade.

OSG - Durante o tempo que o senhor passou na PM, foram realizados alguns projetos de aproximação da polícia com as comunidades. Como o senhor vê esses projetos? Qual o senhor acha que teve mais êxito? E o que o senhor pensa dos que não seguiram, tipo as UPPs que foi um projeto que teve um ‘boom’ muito grande no início e que não foi para frente? Como que o senhor vê essa aproximação?

Coronel Dias - Isso é resultado da evolução do nosso trabalho. A gente fala em polícia de proximidade, polícia comunitária, mas na verdade todos esses conceitos são muito próximos e devem nortear o trabalho da polícia. Você não deve pensar na polícia distante da sociedade, distante da população. Então quanto mais integradas estejam a população e a polícia, melhor vai ser o resultado. Esses projetos, na verdade, como você falou das UPPs, são projetos extremamente caros. Nós começamos com uma UPP, depois chegamos a quase 40. Mas você precisa formar policiais, precisa de recursos. Eu acho que sempre passa pela questão de recursos, mas a continuidade desses projetos depende de políticas públicas, de governo. Nós temos necessidade de atualizar nossos processos porque uma medida que é eficaz hoje, daqui a 10 anos poderá não ser mais, então tudo isso tem que ser revisto, estudado, e novas medidas, novas formas de atuação têm que ser implementadas, então tudo isso é consequência. Ainda existem UPPs em vários territórios, nós temos aí várias comunidades que ainda estão contempladas com as UPPs, mas tudo isso é resultado de uma evolução. Outras formas de policiamento, talvez ao longo do tempo, à medida que forem surgindo outros fatores, talvez possam ser mais eficazes. 

OSG - Com os recursos que a gente tem hoje, em janeiro de 2023, não lutaria pelo retorno de UPPs, por exemplo?

Coronel Dias - Eu discutiria esse problema com a sociedade, com o comando da corporação e com o governo do estado. Eu dei a minha opinião, mas é muito importante que a gente ouça o comando da corporação, que é quem sabe realmente dos problemas, a melhor forma de atuação e também das dificuldades. Eu discutiria isso com o secretário, com o comando e procuraria ajudá-lo a desenvolver os projetos. A nossa finalidade no mandato parlamentar é contribuir e ajudar, a gente não pode trabalhar de forma diferente, eu tenho meu pensamento, mas tenho que buscar o que é melhor. Muitas vezes, eu posso até não concordar com a ideia, mas eu vou aderir se for o melhor para a população. Eu acho que é dessa forma que o parlamentar tem que pensar: sempre levado por forte espírito público.

OSG - Quais são as tuas principais propostas de campanha? E se for eleito, qual vai ser sua prioridade no mandato?

Coronel Dias - O parlamentar tem que ter um forte espírito público, se dedicar à causa pública integralmente. Por que falei de poder trabalhar em todas as áreas? Porque aquele que se dedica exclusivamente ao seu mandato tem tempo. Ele vai buscar saber quais os problemas da Saúde, da Educação, da Segurança, e propor formas de melhorar esse processo. O atendimento do serviço público… Quais coisas podemos fazer, que propostas podemos apresentar para que isso melhore? Especialmente em relação à Polícia Militar, os nossos inativos hoje… quando você passa pela inatividade, a sensação que dá é que você não tem mais voz, então nós precisamos representar essa categoria de inativos pensionistas, não só na Polícia Militar, mas também nos demais segmentos do estado. Mas especialmente em relação à PM, nós temos que lutar para defender os direitos porque depois que você passa pela inatividade, às vezes quando você mais precisa ter um suporte, quando se tem uma idade avançada então, essas pessoas ficam abandonadas. Então, nós queremos defender os inativos, os veteranos, os pensionistas e logicamente também os ativos, buscar saber quais são as suas necessidades, o que podemos fazer para melhorar o serviço e dar a nossa contribuição. 

Em relação a nossa atividade como parlamentar, descobrir de que forma podemos melhorar a saúde, melhorar a educação. Como eu disse, o segmento de inativos é muito grande, de aposentados também. Nós temos que tratar essa categoria com carinho, que deu 30, 40 anos de sua vida à causa pública e hoje fica abandonada, nós precisamos cuidar dessas pessoas e buscar formas de ajudar a trazer desenvolvimento para o estado, gerando empregos, fazendo com que as pessoas melhorem seu patamar de vida e é para isso que vou me dedicar, buscando alternativas e caminhos para que a gente possa desenvolver o estado, melhorar a vida das pessoas gerando empregos e trazendo renda, cuidando das pessoas. Acho que essa é uma função muito importante do parlamentar: a preocupação em cuidar das pessoas.

 

Autor: Filipe Aguiar
 

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