Mulher escravizada em MG ainda 'pagava' faculdade da filha dos patrões
Madalena viveu por 38 anos em condições análogas à escravidão

A história da mineira Madalena Giordano, 46 anos, que foi submetida à condições análogas à escravidão por 38 anos pela família Milagres Rigueira, em Minas Gerais, teve mais um capítulo revelado. Segundo auditores fiscais do Ministério Público do Trabalho, que participaram da operação de resgate de Madalena, desde 2003 ela tinha direito a uma pensão de R$ 8,4 mil, mas que era recebida pela família que a escravizava.
Madalena tinha direito ao benefício por ter sido obrigada a se casar, em 2001, com um tio do dono da casa onde era escravizada, Marino Lopes da Costa, ex-pracinha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) tendo lutado na Itália, na Segunda Guerra Mundial.
Marino morreu aos 80 anos, em 2003 e, desde então Madalena teria direito à pensão deixada por ele.
No entanto, ela nunca teve acesso ao valor, que ficava nas mãos de Maria das Graças Milagres Rigueira e do filho dela, Dalton César Milagres Rigueira.
O casamento entre Madelena e Marino teria sido planejado por Maria das Graças, que segundo as investigações, seria a responsável pela suposta adoção e escravidão de Madalena. A ideia era, que diante da idade avançada e da frágil saúde de Marino, Madalena casasse com ele, numa relação de fachada, para garantir a pensão.
As investigações dos auditores do MPT apontam que a maior parte do dinheiro recebido foi usado para pagar a faculdade de uma das filhas de Maria, que se formou em 2007, na Faculdade de Medicina de Petrópolis.
O casamento entre Madalena e Marino chegou a ser alvo de investigações do INSS em 2008, mas o caso foi arquivado pela Justiça em 2015, com a alegação de falta de provas.
A partir de 2008, foi Dalton quem passou a ser o responsável por 'administrar' a pensão recebida por Madalena. Foi a partir de declarações dele que o MPT pôde concluir que a renda dele não condizia com seus gastos. Com essa investigação, foi possível determinar como a pensão de Madalena era gasta pela família.
Dalton afirmou que ganhava cerca de R$ 10 mil como professor universitário e mais R$ 1,3 mil do aluguel de dois imóveis. Mas, segundo as contas do MPT, sem a pensão de R$ 8,3 mil de Madalena, a família não conseguiria pagar o imóvel de quatro quartos localizado em Patos de Minas e nem pagar a universidade das duas filhas de Dalton, que também fazem medicina em universidades particulares.
Também foi descoberto que a família do professor universitário solicitou o auxílio emergencial do governo na pandemia, mesmo com o salário elevado de Dalton. A mulher dele e duas filhas tiveram o benefício aprovado, e cada uma recebeu R$ 3,3 mil, sendo cinco parcelas de R$ 600 e uma de R$ 300.
O advogado de defesa da família, Brian Epstein, disse que ainda não teve acesso aos laudos do caso.