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Autismo na adolescência e na fase adulta: entenda o que fazer quando o diagnóstico é tardio!

Entenda os sintomas do autismo em jovens e adultos

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 10 de setembro de 2020 - 12:00
O autismo é uma doença que geralmente é diagnosticada ainda no bebê
O autismo é uma doença que geralmente é diagnosticada ainda no bebê -

Por Ana Carolina Moraes*

Em 2018, um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CD), dos Estados Unidos, mostrou um aumento de 15% no número de crianças que fazem parte do transtorno do espectro autista (TEA). Muito pouco se sabe sobre as causas dessas condições médicas que levam a problemas no desenvolvimento, mas os profissionais da área recomendam que quanto mais cedo elas forem diagnosticada, melhor. Mas e quando o autismo é diagnosticado só na fase da adolescência? Ou quando o diagnóstico é feito apenas no adulto? Esse é um dos casos debatidos por psicólogas que estudam o tema. 

O Transtorno do Autismo é caracterizado pela criança que sente dificuldade na comunicação e, muitas vezes, na compreensão do que é falado, além de um prejuízo na socialização dela e uma necessidade de rotinas.  

A neuropsiquiatra Gesika Vianna explica um pouco de como o autismo pode surgir. "O autismo é uma situação epigenética. Existem vários genes ligados ao autismo, mas que não causam, necessariamente, o autismo. Para ter o autismo, deve-se ter uma união entre o cérebro e o ambiente em que vivemos. Vacinas não são causadoras do autismo, como existia uma lenda. Não existe causa 100% comprovada do autismo, mas para ser autista, a criança precisa ter um cérebro sensível, um ambiente tóxico (ela pode ter contato ao ingerir produtos com muitos agrotóxicos e produtos tóxicos ou ter contato com essa substâncias pelo cordão umbilical da mãe durante a gravidez) e a criança tem que ter uma capacidade de desintoxicação prejudicada. É um terreno, uma série de situações que podem gerar um paciente autista", diz a médica que ressalta que ter um diagnóstico precoce do transtorno ajuda no tratamento do portador do autismo. Vale lembrar que o autismo ainda não tem cura.

No entanto, há casos em que o autismo é  identificado nos adolescentes, na fase entre os 12 e 18 anos. Os principais sintomas nessa fase são quando os jovens autistas não conseguem entender coisas pequenas, como uma mudança de escola ou de cidade. Esses jovens também pode sofrer com problemas de sexualidade e de relacionamento com os outros. A situação é angustiante tanto para os pais, que não entendem a situação, quanto para os jovens autistas.

Gesika explica que, quanto a sexualidade, os jovens podem ter mais dificuldade de controlar suas emoções e seus instintos sexuais caso o autismo só seja diagnóstico de forma tardia, ou na fase da adolescência. “Isso pode causar situações constrangedoras, pois o paciente dentro do espectro, não tem filtro para falar o que deseja fazer, e em situações extremas, no caso de pacientes não verbais, pode ocorrer masturbações em públicos ou mesmo o toque dos órgãos genitais de pessoas ao seu redor, o que causa intenso constrangimento", disse a neuropsiquiatra.

A médica conta que para entender se um adolescente ou adulto é autista é necessário contar ao psiquiatra, neuropsiquiatra ou neuropsicopedagogo envolvido no caso toda a história daquele jovem ou adulto, desde sua infância. Gesika ainda afirma que, caso o diagnóstico para o autismo seja positivo, é importante sempre contar ao seu filho que ele é autista. "Jamais deixe de contar ao seu filho que ele é um autista. Proteção demais pode trazer grandes prejuízos no futuro, justo quando ele precisará ter o máximo possível de independência para lidar de fato com o mundo. No mais, autistas sem grandes comprometimentos cognitivos, que sabem seu diagnóstico desde cedo, conseguem lidar mais facilmente com todas estas questões mais difíceis, como por exemplo: relacionamento, sexualidade e mudanças", contou a neuropsiquiatra Gesika Amorim.  

Sobre a sexualidade e outros tipos de emoções, a médica conta que os pais e médicos do jovem devem ser os responsáveis por guiar os mesmos nessa jornada para entender o autismo e o que é certo e errado diante da sociedade. “Então, é necessário que os cuidadores, terapeutas com experiência em autismo, os profissionais e a família, sejam uma espécie de córtex pré-frontal desse paciente, fazendo-o entender como lidar com essas emoções e sensações; explicando o que é correto ou incorreto e o que pode o que não pode, exatamente como explicamos para uma criança as regras sociais da vida. É importante que eles tenham absoluta confiança em seus pais", disse Gesika, que afirma que terapia e medicamentos para conter o libido podem ser necessários nessa fase. 

No entanto, é importante ressaltar que, apesar disso, os pais não devem tratar seus filhos autista já adolescentes e adultos como crianças. Os pais devem entender que a independência é importante para um jovem autista. "Sabemos que não é fácil e que muitos pais abandonam suas vidas para cuidar de seus filhos, que em graus mais severos do  autismo, acabam sendo absolutamente dependentes. Dito isto, gostaria de enfatizar que: Quanto mais cedo seu filho for diagnosticado, mais chances e melhores elas serão de ele ter independência, que de fato, é o que mais vai importar e o que realmente ele e vocês, pais, por mais que no primeiro momento possam achar que não, vão precisar que ele tenha", falou a neuropsiquiatra que é especialista em Tratamento Integral do autismo, Neurodesenvolvimento e Saúde Mental.

Até o momento, a médica afirma que desconhece programas do governo que tratem autistas adultos com graus mais severos do transtorno na ausência de pais ou de recursos financeiros. No entanto, nem tudo está perdido, já que, em 2012, foi sancionada a Lei Berenice Piana, (12.764, 2012), que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Já em 2020, foi sancionada a Lei de número 13.977, que cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), assegurando que os portadores deste documento tenham atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.

“É muito necessário que ONGs, ativistas, profissionais envolvidos com a causa e famílias, se movam e comecem a buscar este tipo de suporte, porque todos tem  direito a vida com dignidade e sabemos que no autismo, principalmente em casos do  adulto com grau severo, esta não é uma realidade", finalizou Gesika. 

É importante entender que o autismo se caracteriza em diferentes graus, indo do mais brando ao mais severo. O autismo se manifesta, segundo a psicóloga Luciana Castilho Reiniger, principalmente na comunicação e na interação social. 

A psicóloga trabalha ONG Espaço do Autista, sediada no município de São Gonçalo, e explica algumas características que podem ser associadas ao autismo em adultos. Algumas delas são: não entender metáfora, piadas ou ironias; apresentar falta de jeito ao se relacionar com os outros; dificuldade em conversas; apresentar comportamentos repetitivos; ter dificuldade em fazer ou manter amizades; ficar desconfortável em contato visual; não lidar bem com as emoções; ter ansiedade social; apresentar interesses extremos em algum assunto especial; ter problemas para ler a emoção dos outros e não interpretar sinais sociais e falar de maneira áspera com outras pessoas, sem medir o tom de voz. 

A psicóloga ainda explica que quem recebe um tratamento tardio reclama de "ter passado parte de sua vida se sentindo diferente e não saber o porque". Ela ainda explica que ter um diagnóstico tardio pode significar que a pessoa "recebeu diversos diagnósticos errados durante toda a vida além de ter sido privado de receber seus direitos. O diagnóstico abre novas possibilidades para todos eles, não é o fim, mas o inicio de um novo caminho."

Reiniger ainda explica como ocorre o tratamento do autismo em adultos. "O tratamento de autismo na idade adulta se baseia no acompanhamento médico multidisciplinar, composto, por exemplo, de psicólogo, psiquiatra, terapeuta ocupacional e educador físico. Normalmente os adultos não precisam mais focar seus tratamentos em habilidades básicas. A terapia nos adultos foca na autonomia do sujeito, dentro das limitações de cada um, para auxiliar na inserção na comunidade e no mercado de trabalho. São treinos de habilidades sociais", contou ela. 

É importante ressaltar que se o seu filho possuir alguns dos diagnósticos descritos acima, é necessário levá-lo ao médico para que sejam feitos exames para identificar ou não o autismo. Caso a criança, jovem ou adulto seja autista, o tratamento é importantíssimo e deve ser realizado para proporcionar uma qualidade de vida cada vez melhor ao outro.

*Estagiária sob supervisão de Marcela Freitas 

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