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Família diz que jovem negro foi preso sem provas em Niterói e pede justiça

Um abaixo-assinado do caso já conta com mais de 5 mil assinaturas

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 04 de setembro de 2020 - 15:21
O jovem é músico desde os sete anos de idade
O jovem é músico desde os sete anos de idade -

Por Ana Carolina Moraes*

O município de Niterói vê mais um caso de prisão supostamente sem provas de um jovem negro de comunidade. Assim como o que houve com Danillo Félix, no caso já relatado pelo jornal O SÃO GONÇALO, quem sofre agora é a família de Luiz Carlos da Costa Justino, um músico de 23 anos, que toca em uma orquestra. Luiz foi preso na última quarta-feira (02), por volta das 19h, enquanto estava em um bar próximo ao Terminal Rodoviário Presidente João Goulart, no Centro de Niterói. Também neste caso, a família relata que ele foi preso através de um reconhecimento de uma foto do Facebook, pois o jovem também não possuía ficha criminal.

De acordo com familiares do rapaz, os agentes não teriam provas de que ele cometeu o crime e, inclusive, a família teria provas de que Luiz estava em outro local no momento do delito do qual ele é acusado. Luiz é pai de uma menina de 3 anos e há cinco anos é casado com Mariana. A família inteira clama por Justiça.

Segundo familiares de Luiz, o crime pelo qual o jovem foi acusado foi um roubo ocorrido em 2017, no bairro da Vila Progresso, em Pendotiba. No entanto, no mesmo dia no qual a polícia alega que ele cometeu o roubo, Luiz estava em uma padaria em Piratininga tocando violoncelo e a família tem provas disso, mas, mesmo assim, o pedido contra a prisão do jovem foi indeferido pela Justiça. A família, no entanto, vai entrar com um recurso hoje (04) para continuar o processo e a busca por justiça. 

"É bem difícil, não só para mim, como para a família toda. Não sabemos mais o que fazer, estamos tentando fazer o que a gente pode e o que a gente não pode. Ele nunca foi bandido, desde pequeno fazia parte do projeto de música, todo mundo sabe que ele é um menino bom", contou a Mariana Soares do Nascimento, de 18 anos, a esposa de Luiz. Os dois moram na comunidade da Grota, em Niterói. No local, todos se mobilizaram para provar que Luiz não cometeu roubo algum.

A mãe de Luiz, dona Angélica da Costa, uma comerciante de 40 anos, afirma que ver o filho preso sem provas é muito ruim. "Não tem como responder, é muito ruim, imagina como é para uma mãe receber uma notícia dessa. Eu estava no meu trabalho quando o tio dele falou comigo o que tinha ocorrido, fiquei nervosa", contou a mãe dele que, junto com o advogado e o resto da família do jovem, busca por justiça e pela libertação do filho.

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A família ainda não pôde ver ou falar com Luiz, por isso, o desespero é maior, como confirmou Mariana. "O advogado falou que ele estava muito nervoso. Ele está pagando pelo erro dos outros, não sabemos como ele está, não mandaram entregar nada dele no presídio. Ele foi preso por agentes de uma DP de Niterói, mas hoje já está em um presídio em Benfica e não temos notícias", contou a jovem estudante que é mãe da filha de Luiz.

A família e os amigos de Luiz estão buscando auxílio nas redes sociais para conseguir mobilizar a população nesse caso. Com a hastag #JustiçaproLuiz e o abaixo-assinado que já conta com mais de 5 mil assinaturas, a família tenta mostrar na internet mais um dos inúmeros casos que eles alegam ser de racismo e sem provas do crime contra o acusado.

"Ele é integrante de uma orquestra da comunidade desde os sete anos de idade. Eles não têm provas contra Luiz. Todos nós acreditamos que foi um caso de racismo, uma ação arbitrária, não tem nada nessa acusação. Ele foi preso num bar, pois falaram que tinha um mandado de prisão em aberto contra ele desde 2017, nessa hora, a polícia afirmou que ele foi identificado por causa de uma foto no Facebook, mas nem sabemos se é verdade. Ele não fez nada, nunca foi criminoso e, inclusive, há três semanas atrás fizeram uma operação e entraram na casa dele. Lá, procuraram a ficha criminal dele e ele não tinha nada, como agora pode ter um mandado de prisão em aberto?", disse Alexandra Seabra, de 30 anos, que está montando um abaixo-assinado físico, além do online, para ajudar no caso. O abaixo-assinado físico já conta com mais de 400 assinaturas, segundo ela.

O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, falou sobre o caso através das suas redes sociais. "Esse é o Luiz Carlos, integrante do projeto da Orquestra da Grota há 16 anos, segundo me informou o amigo Paes Selles - maestro e professor do grupo. O jovem foi detido ontem ao chegar nas Barcas porque contra ele há um mandado de prisão preventiva por roubo de celular em 2017. Luiz Carlos nunca foi ouvido e a investigação muito superficial aponta tão somente reconhecimento da vítima (que sofreu a ocorrência de roubo de celular com 4 elementos) através de uma foto.

O Luiz Carlos, segundo Paes Selles informou, estava trabalhando no dia e há provas disso. O Luiz Carlos ainda está detido. Evidentemente que decisão judicial deve ser cumprida, mas não poderia deixar de me pronunciar sobre o caso. Um jovem, músico, negro e morador de uma comunidade, está sofrendo ao que tudo indica, uma injustiça. E isso não pode perdurar. Peço atenção a esse caso grave contra um jovem niteroiense de uma comunidade de nossa cidade. Que o mais rápido possível o recurso judicial feito pelo advogado da família possa ser acolhido e que Luiz Carlos seja colocado em liberdade e a injustiça reparada."

Em nota, a Polícia Civil informou que "de acordo com informações da 76ª DP (Niterói), o homem foi preso por policiais militares e encaminhado à unidade onde foi cumprido um mandado de prisão expedido em 2017. O inquérito, a época, foi concluído com base em provas colhidas na investigação e encaminhado para apreciação do Ministério Público. O Inquérito está com a Justiça."

O Tribunal de Justiça informou que "no dia 31/08 a Justiça deferiu a realização das pesquisas requeridas pelo órgão ministerial, caso a pesquisa dê negativo para o réu, ele tem o prazo de quinze dias para recorrer da decisão".

Para quem quiser ajudar, use a hastag #JustiçaproLuiz e assine abaixo-assinado aqui.

Veja as matérias anteriores sobre o caso de Danillo Félix e outros tipos de racismo no município clicando aquiaqui.

*Estagiária sob supervisão de Thiago Soares

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