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Do sonho à realidade: estudante custeia faculdade de Odontologia com a venda de jalecos

Apesar da conquista, a realidade pode ser 'esmagadora'

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 31 de agosto de 2020 - 10:32
Thamires Nunes cresceu no bairro de Ipiiba, em São Gonçalo
Thamires Nunes cresceu no bairro de Ipiiba, em São Gonçalo -

Em meio às adversidades do trajeto acadêmico, que podem ser variadas, os desafios financeiros são constantemente apontados como "esmagadores". Uma pesquisa feita pelo 'Quero Bolsa', website que auxilia estudantes a encontrar bolsas em universidades públicas e privadas em todo o país, revelou que 65% dos alunos que deixam de cursar uma faculdade alegam dificuldades financeiras para manter os estudos.

Em 2015, o coeficiente de Gini brasileiro, instrumento estatístico que mede a desigualdade de distribuição de renda, foi marcado em 0,515, deixando o país no 10º lugar no ranking dos mais desiguais do mundo. Devido a essa realidade, somada ao estrito acesso a educação de qualidade, muitos estudantes acabam deixando de lado o sonho de ingressar em uma universidade.

No entanto, existem aqueles não se dão por vencidos nesse quesito. Esse é o caso da estudante de Odontologia Thamires Nunes, de 29 anos, moradora do bairro Fátima, em Niterói. Tudo começou com um sonho de criança pela profissão, que parecia uma realidade muito distante para uma menina de família com baixa renda. Estudando a vida inteira escolas públicas e morando em Ipiíba, São Gonçalo, ao terminar os estudos Thamires não sabia como ingressar em uma universidade.

"Achava que era impossível porque a faculdade de odontologia era muito cara e os materiais também. E mesmo que eu fosse trabalhar para pagar os estudos, não conseguiria porque a faculdade era integral e, com isso não haveria tempo para o trabalho", explicou a universitária. 

No entanto, ainda sem se dar por vencida, Thamires, aos 17 anos, buscou, através de um conselho de um profissional, por cursos na área odontológica, e se formou em auxiliar de dentista. Ganhando um salário mínimo, ela seguiu a carreira, até passar em um processo seletivo do Secs em 2013, o que melhorou seu salário e lhe deu a oportunidade de aprender ainda mais sobre saúde bucal.

Apesar disso, seu grande sonho profissional não havia mudado e três anos depois sua oportunidade surgiu com uma bolsa de uma universidade. "No mesmo dia saí correndo e fiz minha matrícula sem nem saber como ia pagar, mas naquele momento eu senti que era a minha hora, que aquilo que eu mais queria na vida podia acontecer", revelou Thamires, que 'agarrou' seu sonho em 2016.

Thamires Nunes cresceu no bairro de Ipiiba, em São Gonçalo
Thamires Nunes cresceu no bairro de Ipiiba, em São Gonçalo |  Foto: Divulgação

Feliz pela conquista e indo atrás da amada profissão, ainda sim não faltaram lutas. "O momento mais difícil para mim foi em 2017, quando eu chegava em casa e fui assaltada no meu portão. Nessa época eu ainda morava em Ipiíba, São Gonçalo. Os bandidos me levaram para estrada de Santa Izabel à noite, e levaram o carro. Dentro dele estava todo meu material da faculdade, incluindo livros da biblioteca e materiais emprestados de amigos dentistas que fiz ao longo da carreira de auxiliar de saúde bucal. No total, só os matérias que eles levaram estavam avaliado em 4 mil reais, isso sem contar no prejuízo do carro", contou a estudante com pesar.

Sem chão, Thamires resolveu sair de Ipiíba  indo morar em uma república em Niterói, próxima a sua faculdade. "Não tinha dinheiro para comprar o material para devolver aos amigos dentistas, não tinha como para comprar os materiais para usar no meu curso, e muito menos para ter outro carro", detalhou sua situação. 

Mesmo com o trauma, a estudante resolveu recomeçar e, devido a algumas habilidades de costura que aprendeu com a mãe, ela começou a fazer e vender necessaires, kit higiênicos, toucas e máscaras com estampa voltada para odontologia. Vendendo para colegas de sala e de outras turmas, Thamires conseguiu se reerguer e comprar todo o seu material novamente. 

"Quando eu chegava na clínica era uma loucura, todo mundo vindo fazer pedidos, pegando encomenda, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Então eu falei para minha mãe: 'vamos vender jalecos'. No começo ela ficou meia na dúvida, mas depois aceitou. Ela se organizou, comprou os moldes e investiu no négocio", contou a jovem.

E assim nascia a 'WN Jalecos' (@_wnjalecos), com as inicias da mãe Wania Nunes, que atualmente faz roupas e vestimentas próprias para profissionais de Odontologia, com entrega para todo o Brasil. "Com a pandemia, precisava me reinventar e comecei a fazer jalecos impermeáveis, foi outra ideia que me ajudou muito, pois meu contrato de trabalho foi suspenso e eu passei a receber metade do meu salário. 

Os jalecos impermeáveis abriram uma porta enorme na minha vida", revelou Thamires,que  ajuda a mãe fazendo algumas das peças para vender.

Aqueles que tiverem interesse nos produtos da WN Jalecos, basta acessar o seguinte Instagram @_wnjalecos ou ainda : (21) 97115-3275.

E como dito pela própria que 'tudo tem seu tempo certo', Thamires Nunes se forma no final deste ano, deixando sua mãe como empreendedora na venda dos jalecos.

*Estagiária sob supervisão de Marcela Freitas 

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