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“Ela nem conseguiu chorar”, diz avó de bebê queimada gravemente no Getulinho

Família pede que hospital se responsabilize pelo ocorrido

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 20 de agosto de 2020 - 17:06
Bebê de seis meses sofreu queimaduras enquanto estava sob os cuidados de funcionários do Getulinho, em Niterói
Bebê de seis meses sofreu queimaduras enquanto estava sob os cuidados de funcionários do Getulinho, em Niterói -

Por Thalita Queiroz*

Um lugar que era para ser referência de cuidado e segurança acabou causando traumas irreversíveis para uma família que mora no Gradim, em São Gonçalo. A história da bebê de apenas seis meses, que foi queimada nas duas pernas e na barriga, supostamente por médicos do Hospital Municipal Getúlio Vargas, no bairro Fonseca, em Niterói, choca ainda mais quando os detalhes desse trágico acidente vem à tona.

A pequena Juliana Duarte Anastásio sofre com meningite e microcefalia, e desde que nasceu precisa fazer visitas constantes ao hospital. Na terça (18), o que era para ser um momento tranquilo se tornou um verdadeiro pesadelo. A mãe da criança, Luara dos Santos, 23 anos, descobriu por uma pessoa que não trabalha no hospital, que sua filha havia sofrido queimaduras pelo corpo. De início, os pais da menina acharam que havia sido durante o banho, mas como somente a parte da frente da menina ficou queimada, logo foi descartado essa hipótese.

Após a primeira perícia averiguar o caso, a versão mais próxima do que realmente aconteceu surgiu. Os funcionários da saúde que estavam cuidando da menina teriam esquecido a manta térmica em cima da criança, sem nenhuma proteção. Como a bebezinha precisa usar uma sonda de aspiração traqueal todo o tempo, ela não conseguiu chorar para tentar alertar os médicos que algo estava errado, apenas lágrimas escorriam pelo rosto da criança.

A avó da criança, Adilene, conta que quando sua filha chegou para ver como estava a criança, os médicos já haviam realizado a raspagem das queimaduras e ela estava toda enfaixada. “O hospital nem se deu ao trabalho de ligar pra família para avisar, minha filha soube pois entrou em contato com uma mãe de outra criança internada no CTI e ela avisou que teve um tumulto ao redor da bebê minutos antes”, relata Adilene, que completa: “A bebê nem conseguiu chorar”.

Destruídos, a mãe e o pai da bebezinha Juliana sofrem ao ver que a filha precisou ser sedada e agora respira com a ajuda de aparelhos. O pai da bebê, Jeferson dos Santos Gonzaga, 24 anos, e a mãe, estavam revezando nas idas ao hospital por causa do trabalho e também para cuidar da filha mais velha do casal, de 3 anos. Jeferson é cuidador de idosos e está revoltado com a negligência da unidade hospitalar. Luara segue abalada e sem acreditar no que aconteceu.


Segundo a avó da criança, o hospital não prestou até o momento nenhuma assistência aos pais. “Ninguém veio falar nada pra gente. O hospital está fazendo nada mais que a obrigação deles, que é de fornecer os remédios e fazer os curativos. Fora isso, nem informaram qual o tipo de grau da queimadura, não veio nenhuma psicóloga conversar, nem assistente social”, relata a avó.

O que se sabe até agora é que a bebê vai precisar passar por uma série de cirurgias plásticas daqui alguns anos e que o tratamento será longo. A perícia retornará ao local do acontecimento para fazer uma nova análise da situação e o grau da queimadura pode ficar ainda pior.

Problemas desde o nascimento

A situação da bebê Juliana requer cuidados especiais desde os seus 14 dias de vida, quando ela começou a ter febres e foi levada para o Pronto Socorro de São Gonçalo. Diagnosticada com meningite, ela precisou ser transferida para um outro hospital no Ingá, já que o Pronto Socorro não teria condições de fazer o tratamento. Ao completar 3 meses de vida ela recebeu alta e voltou para casa, mas uma semana depois um novo pesadelo começou para a família.

Com febre alta, os pais de Juliana resolveram levar a menina para o Hospital Municipal Getúlio Vargas. Nesta unidade, ela ficou internada e foi diagnosticada com sequela de herpes no cérebro, com isso, metade do cérebro dela não responde aos estímulos e não faz o movimento de respiração. “Ela vai ter que ficar com um tubo durante toda a vida para conseguir respirar”, explicou a avó.

Com o quadro de saúde bem mais agravado, a menina vai precisar de uma home care 24h e mais medicamentos, além dos que já precisavam comprar. Sem condições financeiras para custear um profissional da saúde em tempo integral, a família ficou ainda mais perdida após o caso e optou por recorrer a um advogado. Após resistência da própria polícia, que exigiu uma documentação que o hospital alegou precisar de 30 dias para entregar, eles voltaram atrás e deram início a denúncia na Justiça.

Para a família da bebê, o sentimento agora é de justiça pelo que aconteceu com a criança, já que Juliana entrou na unidade de saúde com uma situação e agora tudo piorou.

A 78ª DP (Fonseca), que está a frente do caso, revelou que a investigação está em andamento e que na última quarta (19) foi feita perícia do local e exame de corpo de delito. Uma nova perícia está prevista para acontecer ainda hoje.

A direção do Hospital Municipal Getúlio Vargas Filho, o Getulinho, informou em nota que "lamenta profundamente o ocorrido e está prestando toda a assistência necessária para a paciente e para família, além de contribuir com as investigações da polícia.


Informações sobre o estado de saúde da paciente não podem ser divulgadas devido ao sigilo médico. O prontuário já foi disponibilizado para a família e para a Polícia.


Foi aberta uma sindicância para apurar o fato, e a direção tomará as medidas cabíveis. Nesta quinta-feira (20), já foi realizada uma perícia médica na paciente. A direção já identificou os profissionais que atenderam a criança e está ouvindo todos os envolvidos no caso no âmbito da sindicância. Também está sendo realizado um levantamento técnico e análise dos insumos e equipamentos utilizados no tratamento da paciente a fim de descobrir as causas do fato."


*Estagiária sob supervisão de Thiago Soares

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