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Livro que promete "cura" do autismo causa críticas e revoltas de pais de autistas

Entenda como o método MMS pode ser prejudicial para a saúde da criança

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 29 de abril de 2020 - 18:16
O livro de Kerri Rivera não tem embasamento científico
O livro de Kerri Rivera não tem embasamento científico -

Por Ana Carolina Moraes* 

A síndrome do autismo é caracterizada pela criança que sente dificuldade na comunicação e, muitas vezes, na compreensão do que é falado, além de um prejuízo na socialização dela e uma necessidade de rotinas. Os autistas são tratados com remédios e acompanhamento médico e, apesar de não existir uma cura cientificamente comprovada para a situação, muitos pais buscam novos métodos para conseguir "curar" seus filhos da síndrome.

Uma dessas "curas não convencionais" é o tratamento com MMS (do inglês, Solução Milagrosa Mineral), que vem sendo divulgado no livro "Curando os Sintomas Conhecidos como Autismo", escrito por Kerri Rivera, em 2013. No entanto, o método apresentado vem sendo criticado por médicos e pais das crianças por causar um mal estar na criança, além de vômitos e diarreias e não ter sua comprovação científica confirmada. 

Kerri Rivera é uma mãe norte-americana que lançou um livro dizendo que anulou todos os sintomas do autismo de seu filho ao restringir alimentos com açúcar, glúten e laticínios. Além disso, a mulher ainda afirmou que fez sessões em câmaras de oxigênio com seu filho e deu a ele dióxido de cloro para eliminar parasitas e metais pesados do organismo da criança, acreditando que eles prejudicam no autismo. Em seu livro, ela tenta mostrar como isso ajudou seu filho e comprovar o método com outras famílias. No entanto, logo na primeira página, ela logo afirma que não se responsabiliza pelo que está escrito e pela sua ligação com a ciência.

O método proposto por Kerri vem recebendo críticas e diversos livros dela foram retirados das plataformas digitais. Além de não ter nada comprovado na comunidade científica de que esse método funcione, o autismo não tem cura e, por isso, tentar achar um método onde se introduz cloro na criança pode ser um método perigoso e prejudicial para a saúde do pequeno.

A neuropsiquiatra Gesika Vianna Amorim informou que "o livro não é divulgado no meio científico e o autismo não tem cura". O livro não tem embasamento no meio científico e não é comprovadamente um método eficaz contra a síndrome. Além disso, inserir cloro no corpo da criança, como propõe o método, pode causar também desidratação, prostração, irritação e lesão das mucosas do organismo.

"O autismo é uma situação epigenética. Existem vários genes ligados ao autismo, mas que não causam, necessariamente, o autismo. Para ter o autismo, deve-se ter uma união entre o cérebro e o ambiente em que vivemos. Vacinas não são causadoras do autismo, como existia uma lenda. Não existe causa 100% comprovada do autismo, mas para ser autista, a criança precisa ter um cérebro sensível, um ambiente tóxico (ela pode ter contato ao ingerir produtos com muitos agrotóxicos e produtos tóxicos ou ter contato com essa substâncias pelo cordão umbilical da mãe durante a gravidez) e a criança tem que ter uma capacidade de desintoxicação prejudicada. É um terreno, uma série de situações que podem gerar um paciente autista", informou a neuropsiquiatra.

Para as mães de alguns pacientes com autismo, a história do livro "Curando os Sintomas Conhecidos como Autismo" também não é agradável. É o caso de Luciene Dias, de 35 anos, mãe do pequeno Pedro Henrique, de 4 anos. Luciene, que descobriu que seu filho tinha autismo quando ele tinha apenas 1 ano e 2 meses, não concorda com o método MMMS.

"Pelo que vi, se trata de uma substância. Essa substância é tóxica e pode trazer vários danos para qualquer indivíduo. Não acredito nessa curas milagrosas, o autismo não tem cura. Mas pode sim um autista ter uma vida saudável, mediante as terapias necessárias. E alguns medicamentos", disse Luciene.

A mãe de Pedro Henrique acredita que o livro continua sendo vendido porque muitos pais não aceitam que seus filhos tem a síndrome do autismo, que possui diversos graus, desde o mais leve até o mais severo.

"Infelizmente continua sendo vendido, porque muitos pais de autista querem acreditar que um dia isso pode mudar. Acreditamos que um dia a cura pode aparecer. Ainda mais pra quem tem filhos saudáveis, que nasceram bem e o autismo apareceu ao longo do desenvolvimento da criança", contou a mãe.

A diretora da ONG Espaço do Autista, sediada no município de São Gonçalo, Márcia Medeiros, explicou o método MMS e porque ele é prejudicial para a saúde das crianças autistas.

"Existem algumas pesquisas e artigos científicos que demonstram existir uma alteração na microbiota de indivíduos dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), influenciando no eixo intestino-cérebro, levando a algumas alterações comportamentais . O tratamento MMS promete a " cura" do autismo,  através da modificação ( limpeza) dessa alteração da flora intestinal", contou Márcia, que acredita que não há nenhum benefício nesse tratamento do autismo, já que a ideia é introduzir alvejante no corpo da criança.

"Vemos o MMS como charlatanismo e uma forma de se aproveitar de pais que ficam desorientados após receber o diagnóstico dos filhos e buscam ajudar os mesmos de alguma forma. Não existe cura cientificamente comprovada, existem sim, tratamentos médicos e terapêuticos para que as pessoas que estão dentro do TEA possam evoluir dentro desse quadro, conseguindo ter uma melhor interação social, avanços na comunicação e autonomia em suas atividades de vida diária. O tratamento médico deve ser prescrito por um neuropediatra ou psiquiatra infantil e as medicações têm três objetivos: reduzir sintomas autísticos da criança; melhorar as comorbidades que se acoplam junto com o autismo, como distúrbios de sono; e melhorar o nível de atenção e concentração para atividades importantes do dia a dia", contou Márcia que recomenda apenas o tratamento do autismo com uma equipe interdisciplinar formada por médicos e terapeutas, utilizando o método A.B.A (do inglês, Análise do Comportamento Aplicada), que é cientificamente comprovada.

Em páginas onde o livro é vendido na internet, os comentários são de críticas ao modo como o autismo é tratado. "Criminoso! Absurdo! Este livro promove cura do autismo - o que não existe - e ensina pais a enfiarem alvejante diluído no reto de crianças. É tortura e crime. Há registros de mortes no mundo todo por causa disso. Espero que tirem do catálogo", diz uma pessoa na página virtual de uma loja de venda de livros.

"O título já é enganoso, promete algo que não existe: a cura do autismo. Entre os "tratamentos" recomendados, estão métodos que são equivalentes à tortura, como a ingestão via oral ou aplicacão de enemas com a chamada "substância milagrosa mineral", que nada mais é que dióxido de cloro, derivado de água sanitária. Vender este livro é ser conivente com a disseminação de promessas mentirosas e métodos que podem levar a um grave adoecimento", escreveu outra pessoa sobre o livro.

Portanto, o livro não é recomendado pela comunidade científica como um método eficaz para tratar o autismo. O tratamento do autismo deve ser feito com recomendações de profissionais especializados. A neuropsiquiatra infantil Gesika Vianna Amorim faz recomendações para os pais que acreditam que seus bebês possam ter autismo.

"O mais importante é a precocidade de detectar esses sintomas do autismo. O bebê que não olha no olho quando você amamenta, o bebê que sorri pouco, o bebê que a mãe chama pelo nome e não a atende e o bebê que não fala, pelo menos, umas 50 palavras até um ano e meio, podem ter autismo. Se alguma coisa estiver errada, procure um especialista e um profissional que possa te ajudar", informou a médica.

Para quem quiser saber um pouco mais sobre o autismo, basta entrar em contato com Gesika pelo seu Instagram (@dragesikaautismo), pelo Facebook (Dra. Gesika Amorim - Tratamento Integral do Autismo) ou pelo Whatsapp (22 99213-8234). 

Serviço: 

A clínica de Gesika se localiza se chama Clínica Tereza Rambaldi e se localiza na Rua Barão da Lagoa Dourada, 353 - Centro, Campos dos Goytacazes. 

Estagiária sob supervisão de Cyntia Fonseca*

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