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Vários pontos de São Gonçalo ficam em estado crítico nesta segunda (13)

Especialistas falam sobre a situação dos rios em Alcântara

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 13 de janeiro de 2020 - 15:37
Rio em Alcântara deixa moradores em estado de alerta
Rio em Alcântara deixa moradores em estado de alerta -

Por Thalita Queiroz*

Alcântara amanheceu nesta segunda (13) debaixo de fortes chuvas e quem precisou passar pelo bairro gonçalense encontrou dificuldades para fazer o trajeto. O rio que passa pela região encheu e a água chegou na pista, levando caos à cidade. O alagamento do rio preocupa quem mora ou precisa passar por lá. O pesadelo de 2010 é lembrado por quem esteve naquela enchente. Na ocasião, os condomínios que ficam próximos ao rio ficaram alagados. No local onde fica o atual mercado Assaí, a situação na época foi de completo caos, com a água do rio adentrando o lugar.

O questionamento dos moradores continuam em relação à drenagem do rio pois em poucas horas de chuva o rio aumentou o nível da água e o escoamento da cidade não funcionou. Bruno Beloni tem uma banca de jornal bem embaixo de onde passa o rio que transbordou e ele revela que o temor com as chuvas é grande: "Toda vez que chove fica esse medo e a dúvida se vai ou não transbordar. Em 2010, eu estava aqui e eu vi o desespero de muita gente que morava próximo aos condomínios aqui do lado. Lembro também que o mercado Assaí ficou debaixo de água", diz ele.

Os supervisores de serviços gerais, Nilson Azevedo e João Isidoro, costumam ficar na portaria de um dos condomínios que fica de frente para o rio. Eles contam que nesta segunda muita gente ficou apreensiva. "Muito morador tentou sair hoje cedo para trabalhar mas não conseguiu", disse Nilson. João afirmou: "Se chovesse mais meia hora isso aqui teria ficado de baixo de água, sem dúvidas". 

A professora de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal Fluminense (UFF), Eloisa Araujo, afirmou que as chuvas torrenciais sempre são um problema em São Gonçalo. Sobre a situação na cidade ela revelou: "O fato de o bairro de Alcântara e bairros do entorno estarem super impermeabilizados com ocupação total do solo, seja por residências, comércios, ruas asfaltadas, etc... não permite a absorção das águas de chuva. E a drenagem das águas pluviais acaba recebendo muitos resíduos não coletados também. O que potencializa o problema das cheias".

Uma solução que a pesquisadora da rede de cooperação em urbanismo diz ser satisfatória é o investimento em um plano de drenagem e em obras estruturais, porém a pesquisadora faz uma ressalva: "Mas lembro que a recuperação de córregos e rios só é possível quando se permite a expansão de seus leitos e/ou a absorção das águas de chuva. E Alcântara, como um dos principais polos comerciais do município, não reservou áreas para isso. Tudo está densamente ocupado".

O professor do curso de Engenharia Ambiental da UFF, Márcio Cataldi, também aponta a densidade demográfica como um dos pontos críticos a serem abordados. "Imagino que uma grande obra de redimensionamento da rede de drenagem da região se faz necessária. Essa rede é relativamente antiga, e o crescimento demográfico da região teve taxas significativas no início dos anos 2000.

Outro ponto de alagamento foi no bairro Marambaia, em São Gonçalo. Vídeos gravados por moradores mostram uma forte corrente de água passando por uma das ruas. Em uma das imagens é possível ver um galo, totalmente ilhado, tentando se equilibrar em um galho, que foi derrubado pelas chuvas.

Segundo relatos de moradores, a estrada de Itaitindiba, em São Gonçalo, ficou alagada também e um bar de esquina teve água até o teto. Uma escola também não conseguiu abrir as portas e teve que suspender as aulas nesta segunda. No final da conhecida Rua da Feira, também em Alcântara, a água invadiu casas e comércios da região. Na Travessa Preciosa com a Zeferino Reis, na saída do estacionamento do Partage Shopping, moradores registraram a situação da rua após o valão transbordar. Segundo eles, a quantidade de areia no fundo é um dos fatores que contribuem para as enchentes e que a prefeitura vai até o local mas não faz a limpeza completa.

O caos foi refletido imediatamente no trânsito, que deu um 'nó' na cidade. Com vários guardas espalhados pela cidade, a situação não apresentou melhoras. No centro de Alcântara, um percurso de 5 minutos de carro estava levando mais de 30 minutos. O viaduto de Maria Paula, em São Gonçalo, ficou com o trânsito paralisado por alguns minutos por causa de uma grande poça de água que se formou na pista, impossibilitando a passagem dos veículos.

Outro fator que chamou atenção foi a quantidade de lixo que subiu nos rios. No valão de Alcântara o montante de lixo impressionou quem passava pelo local, reflexo de um descaso por parte dos pedestres que continuam jogando lixo na rua e da ineficiência da prefeitura ao realizar a manutenção. O professor Márcio explica que quando chove o lixo que está nas calçadas e nas ruas, de uma maneira geral, é carreado até a rede de drenagem, obstruindo o escoamento e a passagem da água, o que leva a uma subida rápida do nível do rio.

O SÃO GONÇALO em contato com a Prefeitura de São Gonçalo para saber como é feito o procedimento de retirada desse lixo para evitar possíveis enchentes, que respondeu que "lixos jogados em rios e na rua são questão de conscientização da população. As equipes de desenvolvimento urbano encontram semanalmente sofás, tvs, pets e animais mortos durante limpezas periódicas. Lembrando que o Inea é o responsável pela limpeza de rios". 

Também foi feito contato com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para saber como é processo de drenagem no rio que corta o bairro de Alcântara e quais são as causas para que o escoamento da água não funcione. Eles informaram que a estão apurando o caso internamente.

*Estagiária sob supervisão de Cyntia Fonseca

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