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Como pessoas com deficiência 'driblam' o preconceito no trabalho

Empresas devem, por lei, reservar de 2 a 5% de vagas para candidatos deficientes

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 17 de setembro de 2019 - 10:22
Luana Rayalla tem uma deficiência nas pernas e atualmente trabalha na UFF.
Luana Rayalla tem uma deficiência nas pernas e atualmente trabalha na UFF. -

Por Ana Carolina Moraes*

Quantas pessoas com alguma deficiência você vê ao seu redor no mercado de trabalho? No dia 21 de setembro é comemorado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, a data foi escolhida por ser perto do início da primavera (23 de setembro) e por ser também o dia da árvore, simbolizando o florescer e o renascimento dessas pessoas.

Segundo a Lei Nº 13.146/15, considera-se a pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. E, também segundo a lei, a inclusão e a acessibilidade são um direito dessas pessoas, inclusive no mercado de trabalho.

As empresas devem, por lei, reservar de 2 a 5% de suas vagas para pessoas com deficiência, seja ela física, mental ou de qualquer tipo. A ordem é se empresa tem até 200 funcionários, ela reserva 2% de suas vagas, se ela tem entre 201 e 500 pessoas, ela deve reservar 3% de duas vagas, já se tem entre 5001 e 1000 funcionários, 4% de suas vagas devem ser reservadas, com mais de 1001 funcionários 5% de suas vagas devem ser reservadas. Mas, será que na prática essa cota nas vagas realmente acontece nas empresas?

A jovem Luana Rayalla, 24 anos, é moradora de Sacramento, em São Gonçalo, e estagia no repositório digital na Universidade Federal Fluminense, faculdade que também é estudante no curso de Biblioteconomia e Documentação. Luana também é pré-candidata a vereadora de São Gonçalo, é militante de causas LGBTQ +, no Partido Democrático Trabalhista, é travesti e tem uma doença nas pernas, na qual anda com uma andador. A jovem tem uma opinião muito interessante sobre o tema. “É muito complicado. Além de serem poucas vagas para deficientes, o ambiente também não oferece estrutura para receber uma pessoa com deficiência de forma inclusiva.”

O jovem Eduardo Victor, de 19 anos, é youtuber, cursa Estudos de Mídia na UFF e tem paralisia cerebral. O jovem já trabalhou no Sensibiliza UFF (projeto que ajuda deficientes e sua acessibilidade nos espaços da universidade) e hoje trabalha no NAVE Rio - Colégio Estadual José Leite Lopes. Ele também tem sua opinião sobre as cotas para deficientes. “Eu acredito que essa inclusão é para cumprir dados, mas não gera inclusão de verdade. É apenas um número, uma obrigação. Mas são caminhos importantes para colocar pessoas com deficiência nas empresas.”

Os dois jovens dizem que sempre ficam em dúvida com relação a colocar no currículo se são ou não deficientes. Luana diz que pensa muito antes de colocar na vaga se é deficiente ou não. “Já passei por discriminação duas vezes no trabalho. Inclusive em entrevistas, por ser travesti.” Já Eduardo afirma: “Se eu não falo no currículo, eu falo na entrevista. Eu nunca sei se foi por ser deficiente que eu perdi a vaga. Mas eu não vejo uma inclusão de pessoas com deficientes, não são lugares inclusivos.” 

Luana ainda desabafa sobre a acessibilidade nos espaços. “Claro que tem lugares acessíveis, mas são poucos. Por exemplo, eu nunca fui na Bienal. Eu moro em São Gonçalo e para ir lá fica meio complicado com o transporte público.” 

Apesar da importância das cotas para deficientes nas empresas, Eduardo diz que “gostaria de outras medidas mais inclusivas, além de dar apenas um Riocard para um deficiente que às vezes não consegue entrar em um ônibus.” Já para Luana, a educação é a base de todo esse processo de conseguir emprego. “Acho que o governo deveria olhar com mais atenção à formação da pessoa com deficiência. Para você dar uma boa formação para alguém com deficiência tem que ter estrutura . As empresas querem alguém capacitado.” A estrutura que Luana fala é com relação a elevadores para frequentar as universidades ou tradutores de libras nas aulas para os deficientes auditivos. 

Sobre o dia 21 de Setembro, os dois reconhecem sua importância, mas tem opiniões. Luana afirma “Acho essencial o dia, mas sinto que a mídia não dá espaço. Não vejo muito isso nos jornais.” Já para Eduardo, “Ter um dia para marcar essa luta, esses direitos, é um marco interessante na nossa história. É importante para que a gente possa mobilizar a sociedade em grupos ou em coletivos. Para que nossas vozes sejam ouvidas e possamos abrir novos caminhos.”

A inclusão é um direito e uma lei de todas as pessoas. Comemorar o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, no dia 21 de setembro, é um passo para que a sociedade comece a tratar todos de forma igual.

Mudanças - Algumas prefeituras estão mudando essa situação dos deficientes e sua capacitação. A Prefeitura de Macaé, por exemplo, está oferecendo mais vagas para os deficientes. A Secretária Adjunta de Trabalho e Renda está com uma aba no site da prefeitura para a inscrição de deficientes nas mais diversas empresas. E, além disso, eles também vão procurar investir, junto com o Cetep, em novos cursos profissionalizantes para as pessoas da cidade. Ajudando as pessoas nos seus empregos e as empresas com suas demandas.

*Estagiária sob supervisão de Cyntia Fonseca

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