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Queimadas: um perigo que ronda as matas do Rio de Janeiro

Em São Gonçalo, foram registrados 24 incêndios, contra quatro no mesmo período de 2018

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 04 de setembro de 2019 - 07:24
A fumaça desencadeia uma série de problemas respiratórios em quem mora na região
A fumaça desencadeia uma série de problemas respiratórios em quem mora na região -

Daniela Scaffo

Nos últimos dias, todas as atenções mundiais se voltaram para os incêndios na Amazônia que sofre há pelo menos três semanas com os focos de queimadas. Mas não precisa ir tão longe para perceber que isso não é um problema isolado.

Segundo dados do Corpo de Bombeiros, os incêndios em vegetação registrados nos municípios de Niterói, Maricá, Itaboraí e São Gonçalo, entre janeiro e julho de 2019, comparado ao mesmo período de 2018, subiram quase 343%. No primeiro ano, foram identificados 93 casos nas quatro cidades, enquanto no segundo, 21.

Apenas em São Gonçalo, foram registrados 24 incêndios em vegetação em 2019, contra quatro em 2018, ou seja, um aumento de 500%. Para prevenir essas queimadas, o Corpo de Bombeiros elabora em todo o Estado, planos de prevenção e ações com entidades parceiras (Unidades de Conservação e  Defesa Civil Municipal/Estadual), além da realização de trabalho de conscientização por meio de distribuição de material impresso, vídeos e palestras para diversos públicos.

Durante épocas de altas temperaturas e baixa umidade, a corporação também realiza sobrevoos inopinados de aeronaves sobre áreas protegidas, a fim de detectar focos iniciais.

Recentemente, o Centro de Estudos e Pesquisas (Cepedec) elaborou um estudo que identifica as áreas de vegetação mais vulneráveis a ocorrências de incêndios florestais no território fluminense. O chamado Mapa de Susceptibilidade ajuda no planejamento das ações de prevenção e leva em consideração três cenários possíveis - anual, trimestre seco e úmido.

"O Mapa de Susceptibilidade é muito importante para as ações de Defesa Civil. Esse trabalho possibilita que os órgãos da Sedec, do Ambiente e do Corpo de Bombeiros possam adotar medidas específicas de redução de riscos de focos de incêndio em matas", disse o diretor do Cepedec, tenente-coronel Rodrigo Werner.

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão vinculado à Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, também atua em ações para prevenir incêndios florestais por meio de 250 guarda-parques distribuídos nas 38 unidades de conservação administradas pelo órgão ambiental estadual.

As equipes de guarda-parques realizam o monitoramento das áreas protegidas, a limpeza de trilhas e a emissão de Notificações Preventivas de Incêndio, que é um documento oficial de caráter educativo voltado à população do entorno das unidades de conservação.

A Gerência de Guarda-Parques do Inea ministra cursos de “Capacitação em Prevenção e Defesa Florestal” para servidores do estado do Rio de Janeiro e integrantes de entidades governamentais e não governamentais para efetivação da proteção ambiental e preservação do bioma Mata Atlântica.

Além disso, a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade monitora as florestas do estado, via satélite, por meio do Programa Olho no Verde, que visa combater o desmatamento ilegal. O sistema emite alertas de possível supressão de vegetação para as equipes de fiscalização. As ações de combate a crimes ambientais também ganharam reforço com novas viaturas cedidas pela secretaria ao Comando de Polícia Ambiental (CPAm).

Dados gerais - O número de focos acumulados de queimadas registrados pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é o maior já analisado de janeiro a agosto, em cinco anos. Apenas no ano de 2019, os incêndios aumentaram 77% no Brasil em relação ao mesmo período de 2018.

O instituto também disponibiliza os números por estado do Brasil. Entre 1 de janeiro e 27 de agosto desse ano, comparado a esse período do ano passado, o Rio de Janeiro teve um aumento de 175% dos focos analisados pelo satélite. Foram 396 em 2019, e 144 em 2018.

Essas queimadas são medidas pelo Inpe, com dados do satélite Aqua, o mesmo utilizado pela Agência Espacial Americana (Nasa), que também acompanha os focos de desmatamento. As informações são disponibilizadas no portal Programa Queimadas, diariamente.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), uma organização científica não-governamental, aponta dados onde os dez municípios que tiveram mais focos de incêndios florestais em 2019 também são os que tiveram as maiores taxas de desmatamento.  Os registros são maiores nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Roraima .

“Não há fogo natural na Amazônia. O que há são pessoas que praticam queimadas, que podem piorar e virar incêndios na temporada de seca”, explica a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, uma das autoras da nota. “Mesmo em uma estiagem menos intensa do que em 2016, quando sofremos com um El Niño muito forte, o risco do fogo escapar é alto.”

A fumaça desencadeia uma série de problemas respiratórios em quem mora na região, o que gera ainda gastos com saúde pública e prejuízos econômicos pela ausência de funcionários. No Acre, que a nota destaca como exemplo, os satélites já registraram 1.790 focos de calor, número 57% mais alto do que em 2018 e 23% mais alto do que em 2016, com cidades respirando uma quantidade de material particulado muito acima do que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

“As consequências para a população são imensas. A poluição do ar causa doenças e o impacto econômico pode ser alto”, diz o pesquisador sênior do IPAM Paulo Moutinho. “Combater o desmatamento, que é um vetor das queimadas, e desestimular o uso do fogo para limpar o terreno são fundamentais para garantir a saúde das pessoas e das florestas.”

Construções irregulares - A Seas e o Inea atuam por meio de fiscalizações nas unidades de conservação e por meio de grandes operações. De janeiro a julho deste ano, a Superintendência Integrada de Combate aos Crimes Ambientes (Sicca), vinculada à Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, realizou 49 operações de grande porte, com apoio das forças de segurança e do Inea, em todo o estado.

Os resultados obtidos são a realização de, pelo menos, 196 demolições em áreas de preservação; 71 medidas administrativas de crimes ambientais expedidas; 82 prisões e desfazimentos de 352 lotes irregulares e quatro poços artesianos ilegais; além das apreensões de 21 máquinas escavadeiras, 20 caminhões, duas motosserras, duas ceifadeiras, 31 animais, 2 traineiras, 10,5 toneladas de peixes e 15 fornos de carvão demolidos.

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