Instagram Facebook Twitter Whatsapp
Dólar R$ 5,2089 | Euro R$ 5,5496
Search

Petrobras fatura R$ 18,8 bilhões, mas dá 'calote' em cooperativa de São Gonçalo

Quase mil famílias do Salgueiro seguem sem assistência

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 22 de agosto de 2019 - 07:46
Quase mil famílias do Salgueiro seguem sem assistência
Quase mil famílias do Salgueiro seguem sem assistência -

Por Karolina Mello

Mesmo com um lucro recorde de 18,8 bilhões no segundo semestre desse ano, anunciado na segunda feira, a Petrobras está há quatro anos (desde 2015) sem cumprir um acordo firmado com a Cooperativa de Reciclagem Óleo Pelo Salgueiro (Copema), em São Gonçalo, que teve suas instalações desapropriadas para a construção da estrada ligando o porto da Praia da Beira, em Itaoca, ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí.

A Copema, inaugurada em 2010, era um projeto socio-ambiental que trabalhava reciclando óleo vegetal saturado, transformando esse produto em biocombustível, e gerando empregos para catadores do Lixão de Itaoca, que foi desativado oficialmente em 2012. Além disso, atendia aos moradores do entorno do Lixão do Complexo do Salgueiro, onde vivem 80 mil famílias, através de projetos sociais em convênios com entidades governamentais, destinando cestas básicas, medicamentos, roupas e outros tipos de donativos para cerca de 980 famílias cadastradas.

A cooperativa era considerada a segunda maior do Estado em reciclagem de óleo vegetal saturado, mantendo parcerias com a Cruz Vermelha, Instituto Oscar Niemeyer, Ceasa, Universidade Federal Fluminense e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). "A função da cooperativa sempre foi inspirada pela preocupação com o coletivo, já que o Estado se mostrava ausente de seus deveres com a comunidade do Salgueiro", afirma o presidente da Copema, Adeir Albino da Silva.

Com a necessidade da construção da estrada de 18 quilômetros para o transporte de milhares de toneladas de peças (vasos pressurizados, torres e reatores, entre outros) para o Comperj, o trabalho da Copema foi interrompido em julho de 2015, com a assinatura de um acordo, em que a Petrobras se comprometia a transferir as instalações da cooperativa para uma nova área doada pela Prefeitura de São Gonçalo, em Guaxindiba.

Pelo projeto, elaborado pela própria Petrobras, e apresentado aos representantes da cooperativa, a empresa se comprometeu a ampliar a capacidade de reciclagem de óleo, que ganharia mais veículos para recolher o produto, além de novos maquinários. Isso possibilitaria a contratação de um maior número de ex-catadores do lixão desativado. A Petrobras também se comprometia a comprar todo o biocombustível produzido pela cooperativa.

De acordo com Adeir, a alegação da Petrobras para interromper a implantação do projeto seria a Operação Lava-Jato, que levou à prisão alguns diretores da empresa. Diante desse impasse, os representantes da Copema entraram com uma ação na Justiça, em abril de 2016, exigindo que a Petrobras cumprisse o acordo.

“Nós só queremos o que foi acordado. Saímos de lá, paramos de realizar nosso trabalho, para que eles pudessem construir a estrada. Queremos continuar com o grande trabalho que a gente realizava. Sabemos que 1 litro de óleo polui 100 mil litros de água. Quantos litros de água poderiam não ter sido poluídos nesses 4 anos em que a cooperativa está fechada? Estamos todo esse tempo aguardando uma decisão da Justiça. A Petrobras interrompeu nosso trabalho e destruiu os sonhos de dignidade de toda aquela gente do lixão. Muita gente já morreu por falta da assistência que recebia. Tivemos que enterrar muita gente”, desabafa Adeir Silva. 

Conforme o andamento do processo, a juíza pediu para a Petrobras apresentar suas alegações para poder tomar uma decisão. O que ainda não ocorreu. Enquanto isso, as quase mil famílias do Salgueiro seguem sem assistência, a cooperativa segue sem funcionar, a Petrobras faturando R$ 18, 8 bilhões, mas sem cumprir o acordo.   

Estagiária sob supervisão de Sergio Soares

Matérias Relacionadas