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Jovens moradores do Salgueiro, em SG, vencem desafios através da educação

Eles são os primeiros de suas famílias a ingressarem na universidade

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 19 de abril de 2019 - 08:55
Bryan Pinheiro, Milena Aguiar e Higor Andrade
Bryan Pinheiro, Milena Aguiar e Higor Andrade -

Por Myllena Vianna*

“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. O pedagogo e escritor Paulo Freire ensina que um indivíduo com educação transforma a realidade dele e de quem está à sua volta. Através do estudo, jovens conseguem construir um pensamento crítico e lutar por seus direitos. Milena Aguiar, de 18 anos, Higor Andrade, de 21 anos e Bryan Pinheiro, de 19, são exemplos de superação para todos que estão em seu meio. Moradores da comunidade do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, eles são os primeiros de suas famílias a ingressarem numa universidade.

“Eu tenho 21 anos e até o ano passado eu não havia completado o Ensino Médio. O acesso à escola para nós, moradores do Salgueiro, é muito ruim. Poucos professores, e quando tinha professor não havia aula por conta de operações policiais na comunidade. Em 2017 foi quando resolvi me dedicar aos estudos. Eu não tinha foco nenhum, não sabia o que era pré e muito menos uma faculdade”, conta Higor.

Atualmente, cursando Educação Física na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Bryan afirma que antes de frequentar salas de aula, não tinha perspectiva de vida. “Meus pais não chegaram a frequentar a universidade. Um primo meu muito próximo foi morto em 2009. Quando isso aconteceu, eu o tive como exemplo de que não era isso que queria para minha vida e sempre tentei me esquivar daquele mundo. Eu não tinha um projeto de vida, hoje eu tenho. Meu sonho é ser preparador físico da Seleção Brasileira e resgatar as joias que precisam ser lapidadas na minha comunidade”, falou.

Cursando Ciência da Computação, também na Uerj, Higor compartilha com os colegas muitas histórias de perda de amigos no decorrer de sua trajetória e percebeu que esse não era o caminho certo a seguir.

“Você é cercado por aquilo e se não tem o apoio de alguém, acaba indo para o mesmo caminho. Em 2016 já estava me desviando, começando a me envolver em coisas erradas, mas eu queria uma oportunidade para me dedicar e conseguir entrar na faculdade”, contou.

Em comum, os três foram acolhidos por um projeto do curso preparatório VP, do professor Vitor Quintan, que atende estudantes de comunidades e que não tenham renda para custear as despesas com o pré-vestibular.

‘A universidade não é um sonho distante’

Em seu segundo período na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cursando Farmácia, Milena conta que sua percepção de mundo se transformou, quando viu que podia conquistar muito mais do que imaginava.

“Muita coisa mudou. Você observa que todos têm direito a entrar em uma universidade federal independente da condição financeira. Traz um sentimento de esperança e conseguimos impactar outras pessoas através disso”, afirmou.

A conquista deles para os jovens da comunidade em que vivem é de extrema importância. Através de suas conquistas, os amigos puderam ver que a universidade não é uma realidade distante e com dedicação e esforço é possível que todos realizem sonhos.

“Nós somos recebidos com a maior receptividade no Salgueiro. Eles começam a perceber que você está indo por um caminho que é muito mais interessante. Muitas pessoas não têm oportunidade porque precisam trabalhar, mas a gente não desiste nunca de ajudar ao próximo”, disse.

Histórias como essa fazem a comunidade acreditar que quando a juventude melhora sua condição de vida, contribui para uma sociedade menos desigual. O futuro das próximas gerações se constrói no presente, com os jovens de hoje que serão cidadãos e incentivadores amanhã.

“Todos são capazes e é importante resgatar quem está a nossa volta. Temos o objetivo de chegar lá e contribuir na melhoria de quem ficou”, concluiu Milena, ao lado de Bryan e Higor.

Pré-vestibular particular cumpre função social

Com 101 aprovações de alunos de comunidades neste ano, o curso preparatório VP, desde sua fundação, em 1997, oferece aulas para estudantes que não possuem condições de pagar um pré-vestibular. Vitor Quintan, idealizador do curso, afirma que sempre viu que as desigualdades na cidade são significativas e como professor precisava ajudar. Milena, Higor e Bryan passaram por lá no ano passado e foram acolhidos desde o início.

“Nós não somos um pré-social, temos uma função social. É muito importante olhar para esses jovens e resgatá-los. Eu vivo isso. Meu cotidiano vai na contramão do que os outros dizem: pessoas que não possuem condições financeiras não chegarão a lugar nenhum. E não é assim. Tenho muitos alunos que venceram, saíram de São Gonçalo, Itaboraí, Manilha e hoje estão em Toronto, no Canadá, fazendo pós-graduação. É gratificante ver isso acontecer”, disse.

As oportunidades estão abertas durante todo ano. Para saber mais sobre as bolsas, basta entrar em contato com o pré-vestibular.

“O VP não tem prova de bolsão. Quando eu faço um bolsão, eu estou dizendo o seguinte: o seu passado me interessa. E o passado do meu estudante não me interessa. O que importa é o que ele quer fazer e onde pretende ir a partir do momento que entrou aqui. Como esse trio, nossos alunos venceram. Todos capazes. Eu olho para essa garotada e os vejo como resultado. A universidade é o caminho mais seguro”, concluiu Vitor.

*Estagiária sob supervisão de Renata Sena

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