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Porto da Pedra sonha em voltar ao Grupo Especial após sete anos

Desta vez o enredo homenageia do ator Antônio Pitanga

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 28 de fevereiro de 2019 - 11:20
O ator possui uma vasta história na dramaturgia brasileira e já foi tema de documentário dirigido por sua filha, a atriz Camila Pitanga, e pelo diretor Beto Brant
O ator possui uma vasta história na dramaturgia brasileira e já foi tema de documentário dirigido por sua filha, a atriz Camila Pitanga, e pelo diretor Beto Brant -

Por Alan Emiliano e Rennan Rebello

Para ‘brigar’ pelo título e pelo direito de voltar ao Grupo Especial após sete anos, a Porto da Pedra aposta no enredo “Antonio Pitanga, um negro em movimento”, homenageando o ator e militante da causa negra no Brasil.

O samba-enredo escolhido foi composto por Bira, Claudinho Guimarães, Duda SG, Márcio Rangel, Alexandre Villela, Guilherme Andrade, Adelyr, Bruno Soares, Rafael Raçudo, Paulo Borges, Eric Costa e Oscar Bessa e será entoada na Sapucaí, no sábado de carnaval, dia em que a Vermelho e Branco gonçalense será a quarta Escola a desfilar pela Série A.

O presidente da escola, Fábio Montibelo, conversou com o O SÃO GONÇALO sobre a expectativa para o desfile, que deverá começar por volta de 1h. “É a nossa grande oportunidade e estamos confiantes por esse acesso tão esperado para o Grupo Especial. Fazia tempo que eu não via a escola tão organizada e com tanta fantasia bonita. A ansiedade só aumenta para o sábado e prometo que vamos levantar a Sapucaí neste dia especial”, afirmou.

Além disso, Montibelo agradeceu a participação de todos no barracão da agremiação, no Santo Cristo, Zona Central do Rio, que trabalharam para alçar o ‘Tigre’ à elite da folia carioca.

“A comunidade sempre esteve conosco, mas esse ano tivemos uma participação muito especial de todos, ajudando o nosso Carnaval na montagem de alegorias e fantasias, além da presença forte nos ensaios. Somos gratos e vamos colocar a nossa escola no Grupo Especial”, concluiu.

Incêndio - Em julho do ano passado, conforme noticiado por O SÃO GONÇALO, um incêndio atingiu cerca de 30% do Barracão da escola. De acordo com informações de testemunhas, um homem teria atirado um coquetel molotov (bomba incendiária) contra as instalações da escola.

“A Porto da Pedra sempre enfrenta grandes desafios. Mesmo sem ajuda do poder público estamos garantindo o nosso espaço (a escola foi a terceira colocada no Grupo A de 2018). Apesar do que aconteceu, temos a ajuda de amigos e não vamos enrolar a bandeira. Ficamos tristes porque foi um crime, mas vão ser apurados os motivos”, afirmou Montibelo, na época.

Uma fábrica de amor e criatividade em SG

A Praia das Pedrinhas, em São Gonçalo, reduto dos moradores da cidade que procuram por descanso e lazer, é onde também funciona o ateliê da Porta da Pedra. Lá, os membros da comunidade trabalham na produção das fantasias que os componentes irão desfilar na ‘avenida do samba’ da Marquês de Sapucaí, no Rio.

“Se a Porto da Pedra conseguir o acesso ao Grupo Especial neste ano, eu me aposento da escola e poderei dizer que meu objetivo foi concluído”. A declaração de Dona Maria da Conceição, de 78 anos, que desfila há 24 anos pela Escola, retrata o ‘clima de paixão’ dentro do ateliê da alvirrubro.

“A Porto da Pedra precisa de pessoas que amam a escola e fazem de tudo para o bem dela. Durante todo o meu tempo aqui, sempre fiz tudo por amor, até em momentos difíceis da minha vida. Nunca abri mão de desfilar pela escola e sempre farei isso até ela voltar ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído”, afirmou a veterana.

As palavras de D. Maria da Conceição foram repassadas para uma das musas da Porto da Pedra, Larissa Cunha, de 21 anos.

“Cheguei na escola com 7 anos de idade e sou muito grata a todos que me ajudaram e me incentivaram a crescer. Tenho um amor único pela Porto da Pedra e não me vejo em outra agremiação. Todo mundo sempre me tratou bem, desde o presidente Fábio até o pessoal da limpeza da quadra e todos têm uma grande parcela de importância no meu crescimento no samba”, afirmou Larissa, também conhecida como Lari Morena, que se dividiu entre seus estudos de enfermagem, o trabalho como auxiliar de escritório na confecção de fantasias no ‘ateliê do Tigre’.

“Eu queria ter ajudado um pouco mais, entretanto os afazeres da vida, como o estudo e o trabalho me impediram de ter ajudado mais. Se dependesse de mim, viria aqui todo dia e daria o meu “sangue” para ajudar essa comunidade que eu amo muito”, concluiu.

Renda extra - Por mais que a maioria dos ‘operários da criação’ trabalhem como voluntários, alguns deles recebem um valor simbólico para ajudar nas despesas pessoais

Uma delas é Jupira Regina, 49, que afirmou não se tratar de uma questão financeira, e sim por ajudar a agremiação gonçalense.

“Nós somos uma família e um ajuda o outro em todos os momentos. Nos unimos e contamos com a participação de várias pessoas. Eu amo essa escola, que me acolheu tão bem e nada irá mudar esse sentimento”, afirmou a gonçalense.

A responsável pela organização e coordenação da montagem de alegrias e fantasias é a jovem Francine Montibelo, filha do presidente da agremiação.

“O meu pai me concedeu essa oportunidade e eu fiz de tudo para ajudar a Porto da Pedra, que é a escola do meu coração. Ver todas essas pessoas ajudando e dando o seu melhor é contagiante além de ser uma alegria poder ter vivenciado e ter feito de tudo isso”, afirmou Francine, que revelou que este é o primeiro Carnaval em que atua de forma intensa na preparação do desfile.

Do exterior para defender a Porto da Pedra

O desfile da Porto da Pedra contará com a presença da cantora angolana Titica, a primeira artista em seu país a assumir a transexualidade. Ela é considerada ícone da música pop de Angola e rainha do ‘kuduro’ (ritmo tradicional africano).

“Participar do carnaval carioca é uma grande realização. O brasileiro é muito parecido com angolano em termos de alegria e música. Vai ser fácil aguentar o pique da festa. Difícil é ser trans, negra, angolana e kudurista, por isso tenho motivos para comemorar e agradecer a chance de mostrar meu trabalho”, afirmou a artista.

Outra presença ilustre será a da ‘musa’ Elaine Debrito, que mora em Chicago (EUA) desde 2008 , e que já desfilou por Tradição, Império Serrano e Caprichosos de Pilares. “A escola me concedeu essa oportunidade incrível de ser musa e representar a comunidade tão querida de São Gonçalo, onde fui bem muito recebida. Agradeço a todos por isso”, disse.

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