Acadêmicos do Cubango fecha o último dia de Carnaval

Por Rennan Rebello

Tradicional escola de samba da Zona Norte de Niterói, a Acadêmicos do Cubango, fechará o último dia de desfiles no Grupo de Acesso na Marquês de Sapucaí, na madrugada de sábado para domingo de Carnaval (entre 2h15 e 3h05, segundo a Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro - Lierj, que organiza os desfiles nesta divisão). A alviverde entrará no sambódromo apresentando o enredo idealizado por Vinícius Natal e os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, intitulado ‘Igbá Cubango - a alma das coisas e a arte dos milagres’.

O enredo faz alusão aos segmentos de comunicação e acadêmico com o termo “Alma das Coisas”, nome de um extinto programa da Rádio Nacional e de um livro de Antropologia, além de ‘dialogar’ com o ano de 1979, quando a agremiação da Rua Noronha Torrezão foi pentacampeã do carnaval niteroiense, levando para a Avenida Amaral Peixoto, o samba-enredo “Afoxé’ (que foi interpretado por Elza Soares). Este tema costuma dar ‘sorte’, e em 2009, chegou a ser reeditado como ‘Afoxé é Cortejo, é Ritual, é Festa, Afoxé é Carnaval’ e deu à comunidade cubanguense o título do Grupo RJ-1 (atualmente Grupo B, o equivalente à 3ª divisão).

O público terá a oportunidade de assistir a verde e branco da ‘Cidade Sorriso’ mostrar o quanto os objetos que neste contexto são conhecidos pela palavra de origem latina ‘ex-voto’, que simboliza o presente de um fiel ao seu santo, como a vela ou uma imagem, por exemplo, são itens capazes de conectar uma pessoa através de sua fé e devoção a um plano sagrado e imaterial. E neste cenário, por isso, o resgate ao passado da escola, especificamente no desfile com o tema ‘Afoxé’, de 79, onde um dos versos da música exaltada por seus componentes, diz: “Onde a figura principal, era o boneco Babalotim, mensageiro da alegria, da força do axé, um ídolo menino, levado por menino em sua fé e assim teve origem o afoxé”. Neste trecho, o boneco ‘Babalotim,’ oriundo da religiosidade afro-brasileira, que simboliza um ex-voto, retratado ao lado de uma vela no logotipo oficial da Cubango para o Carnaval 2019 e o nome ‘Igbá Cubango’ fazem referência ao terreiro da agremiação.

A composição deste samba-enredo que será colocado à prova dos jurados na Marquês de Sapucaí, tem um sabor ‘especial’ para o compositor Anderson Lemos, que é um torcedor ‘fanático’ da escola e pela primeira conseguiu emplacar um samba, onde trabalhou em coletivo para ser apresentado na avenida. “Eu fui criado na Viradouro, mas sou torcedor ‘doente’ da Cubango. Eu amo esta escola, e eu realizei um sonho, porque esta é a primeira vez que um samba que compus em parceira, foi o campeão, após cinco anos de tentativas. Estou muito feliz com o resultado e principalmente por ver a nossa comunidade com a letra na ‘ponta da língua’. Ouvi comentários de pessoas ligadas ao ‘mundo do samba’, lá no Rio, de que este samba-enredo é um dos melhores do Grupo A, por ter refrões fortes”, revelou o sambista. Os outros parceiros da composição são Robson Ramos, Sardinha, Duda Tonon, Ailtinho, Sérgio Careca, Carlão do Caranguejo e Samir Trindade.

Com o objetivo do acesso traçado, o presidente cubanguense Rogério Belizário, se mostra satisfeito com o trabalho desenvolvido apesar das dificuldades enfrentadas para desenvolver o trabalho final, que contou com esforço e muita criatividade para ‘driblar’ o orçamento enxuto. “Assim como as outras escolas, nós também tivemos problemas de ordem financeira. A Prefeitura de Niterói nos ajudou, porém não temos patrocinadores. Contudo, conseguimos fazer um trabalho digno da nossa história e posso afirmar sem medo de errar que este desfile será melhor do que o do ano passado”, garantiu o presidente.

Ida da Viradouro para o Grupo Especial alivia peso na disputa entre as duas escolas de Niterói

Todo ano, o sonho do tão almejado acesso à divisão de elite do Carnaval Carioca, organizada pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), é ‘reaceso’ na Cubango. No entanto, nesta temporada, o fato da antiga rival Unidos do Viradouro, estar no Grupo Especial, de certa forma, segundo o mandatário da escola, tira o ‘peso’ dos cubanguenses na busca pelo título e consequentemente da vaga para a primeira divisão, em 2020. “Não existe mais aquela rivalidade antiga com a Viradouro e costumo dizer que para chegarmos ao nível deles, precisamos trabalhar forte e isso nós estamos fazendo. Neste cenário de disputa, com certeza a ida deles ao Grupo Especial, tira um pouco do ‘peso’ das nossas costas, porém, temos que respeitar nossos adversários como a Porto da Pedra, de São Gonçalo, que também tem sua historia na divisão superior”, opinou o presidente Rogério Belizário, que acredita na conquista devido a concepção geral do trabalho carnavalesco realizado. “Vamos levar para a avenida um desfile que conta a nossa origem e também a nossa religiosidade, além disso, temos um ‘chão muito forte’ (componentes que cantam e sambam o tempo inteiro) e creio que esse clima que iremos mostrar na Sapucaí tem tudo para coroar a nossa quarta de cinzas, com uma boa notícia para nossa comunidade. Mas sempre devemos manter a cautela, mas a Cubango vai brigar para estar ao menos entre as melhores do Grupo de Acesso”, finalizou.