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Rildo Hora deixou carreira solo e ganhou os holofotes como produtor musical

Artista coleciona sete Grammys Latinos em seu curriculum

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 27 de dezembro de 2018 - 09:59
O maestro até hoje é ‘parceiro’ de Zeca Pagodinho. E também trabalhou com a cantora Alcione
O maestro até hoje é ‘parceiro’ de Zeca Pagodinho. E também trabalhou com a cantora Alcione -

Por: Ari Lopes e Sérgio Soares 

Rildo hora, com o talento e a ampla experiência que adquiriu ao longo dos anos, poderia ter escolhido a carreira solo de forma permanente. Mas preferiu dedicar-se mais às produções musicais. E assim, de disco em disco, nos bastidores, foi lapidando talentos e se consolidando como um dos mais consagrados do país em seu trabalho. O maestro coordenou ou participou de projetos com diversos nomes, que vão desde o samba à música instrumental, passando pela MPB.

“Já fiz um pouco de tudo, mais a cada ano, me sinto mais jovem”, declarou ele, que além da inseparável gaita, toca também violão e cavaquinho. O som do primeiro instrumento, com certeza, já foi muito ouvido pelas legiões de fãs dos artistas com quem trabalhou. As músicas ‘Azul da cor do mar’, um dos sucessos de Tim Maia, e Estácio, holly Estácio, ‘hit’ de Luiz Melodia, por exemplo, têm solos da ‘mágica’ gaita do artista. O próprio Rildo explica o caminho que resolveu trilhar na carreira.

“Sempre tive hábitos simples e com a experiência musical adquirida, criei um estilo próprio, que acabou me dando credibilidade e respaldo no meio artístico”, declarou. E isso explica porque é um dos mais premiados produtores do mercado fonográfico. Em um dos cômodos reservados estrategicamente para tocar seu trabalho em casa, na lagoa, Zona Sul do Rio, ele guarda o que ganhou. Lá estão os sete Grammys Latinos, prêmios internacionais que recebeu, todos com trabalhos de artistas do samba: Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal e Beth Carvalho. A ‘galeria’ também tem a inacreditável marca de 100 Discos de Ouro, Platina e Diamante, prêmios que as gravadoras costumavam dar às produções do ‘velho vinil’ mais vendidas, com marcas a partir de 50 mil discos, cada uma.

Enquanto olha os prêmios, Rildo vai relembrando histórias da vida profissional. A música, para ele, foi a grande referência que o fez consolidar profundas amizades. Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, seu conterrâneo de Pernambuco, foi um deles. Além de dividir discos solos com o sanfoneiro, Rildo também teve convivência em âmbito familiar: Patrícia Hora, a filha, tem Gonzaga como padrinho. Ele morreu em 2 de agosto de 1989, no Recife, em decorrência de problemas cardíacos.

Zeca - Outra grande amizade que surgiu foi com Zeca Pagodinho, a quem acompanha há anos, fazendo produções de discos e também coordenando os músicos da banda. “Zeca é uma pessoa simples, divertida e muito bom amigo”, declarou o maestro. Entre tantos que descobriu nos meios musicais, está Dudu Nobre, que Rildo passou a admirar quando o cantor ainda trabalhava tocando cavaquinho com grandes nomes do samba, como Dicró, Pedrinho da Flor e Almir Guineto.

Mas foi no período em que tocou com Zeca, que Dudu, em função do grande talento, ganhou um lugar ‘no coração’ do maestro, que o lançou em carreira solo em 1989.

“Dediquei a minha vida às pessoas que fazem a música popular simples: os sambistas. O samba abraça a nação brasileira”, enfatizou. A ampla experiência no mercado faz com que o maestro ainda seja bastante requisitado, não apenas pelos ‘famosos’, mais também por quem ainda está começando. “Eu amo o que faço”, resume ele. As mais recentes produções do maestro foram os discos do Grupo Fundo de Quintal e de Julinho Tibau.

Canções muito marcantes em vários lançamentos artísticos

A trajetória musical de Rildo Hora se confunde com a história e evolução do mercado fonográfico brasileiro. Rildo trabalhou como produtor em todas as grandes gravadoras, dedicando-se ao descobrimento, não apenas de talentos, mas também de músicas de qualidade. E ninguém melhor do que ele para falar do tema, já que compor ainda é um dos seus maiores prazeres. Ele é autor de mais de 300 canções, com parceiros dos mais variados, com temas também instrumentais.

A carreira de produtor começou a se intensificar a partir da década de 70. Rildo foi o responsável pelo lançamento do primeiro disco de João Bosco. Também produziu o CD “Canta canta, minha gente”, de Martinho da Vila. Em 1976, foi o produtor de “Mundo melhor”, disco de Beth Carvalho; “Galos de briga”, de João Bosco e “Capim novo”, de Luiz Gonzaga.

Neste mesmo ano, Ataulpho Alves Júnior gravou “Pedro sonhador”, e Eliana Pittman, no LP “Pra sempre”, pela RCA Victor, interpretou “Quincas Berro D”Água”. As duas composição foram feitas junto com o jornalista Sérgio Cabral (pai).

Outras duas músicas -“Compositor” e “Prezado amigo” -, também em parceria com o jornalista, foram gravadas por Elza Soares, em 1977. Mais tarde, Emílio Santiago regravaria “Compositor” e Elizeth Cardoso interpretaria “Prezado amigo”. Neste mesmo ano, de 1977, sua composição “Feira livre” (c/ Sérgio Cabral), foi incluída como tema da novela “Dona Xepa”, da Rede Globo.

Meninos da Mangueira - Uma das músicas de Rildo cantadas até hoje nas rodas de samba é “Meninos da Mangueira”. O maestro conta que tinha a melodia pronta e a repassou a Cabral, que fez a letra. “Ele homenageou, de forma brilhante, personagens importantes na Mangueira, através da história imaginária de um menino que ganhou instrumentos de bateria no Natal”, relembrou o maestro.

Dona Neuma, Cartola, Delegado, Padeirinho, Xangô e Carlos Cachaça estão entre os homenageados. A música virou um grande sucesso, sendo gravada por Ataulpho Alves Júnior, ganhando novas versões ao longo dos anos com outros artistas, como Jair Rodrigues e Os originais do samba.

Maricá - O bairro do Espraiado, em Maricá, onde Rildo Hora manteve um sítio durante anos, também entrou para o mundo musical do maestro, que fez uma canção que leva o nome do local.

Da infância, em Caruaru, para a fama no ‘berço’ da música

E tudo começou como uma gaita, ou realejo, como chamam carinhosamente os pernambucanos de Caruaru, o popular instrumento de boca. Nessa cidade nasceu Rildo Hora, que ainda menino, aos seis anos, ganhou o instrumento do seu pai, o dentista Mizael Sérgio Pereira da Hora, que a exemplo de milhares de nordestinos, decidiu morar no Rio de Janeiro, após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, em busca de maior projeção e oportunidades profissionais, ao lado da mulher, a professora de teoria musical e pianista, Cenira Barreto Hora.

E assim, de sopro em sopro, o realejo, se tornou um instrumento inseparável. O maestro se recorda que foi o principal passatempo a bordo do navio que trouxe a família Hora na viagem do Recife ao Rio de Janeiro. Um ano depois, o menino dava mostras de seu talento ao vencer o concurso realizado pelo “Programa Paulo Neto”, patrocinado pela firma Gaitas Hering, na Rádio Mauá, do Rio de Janeiro. Quis o destino que os familiares do menino escolhessem o bairro de Madureira, um dos mais conhecidos redutos do samba, para morar.

E Rildo, já adolescente, começou a se apaixonar pelo gênero frequentando os botequins próximos à sua casa e a escola de samba Portela, apreciando Candeia, Waldir 59, Chico Santana, e Manacéa, entre outros. O garoto tinha apenas onze anos quando começou a tocar em festas populares pelos subúrbios da cidade. “Tive uma adolescência musical embalada pelos tamborins da escola”, relembrou.

No ano de 1953, participou de diversos programas nas Rádios Vera Cruz, Mauá e Guanabara. Levado por Augusto César Vanucci, também marcou presença em vários especiais da TV Globo escritos sobre a vida e obra de grandes compositores, entre eles o de Noel Rosa, no qual fez duo de gaita e voz com Maysa na música “Último desejo”.

Anos mais tarde, participou de outros especiais importantes com Gilberto Gil, Gal Costa, Vanusa, Alcione e Fagner. Rildo orgulha-se de ter estudado com o maestro Guerra Peixe.

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