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Deslizamento de pedra e barro mata 14 pessoas no morro da Boa Esperança, em Niterói

A região não era considerada de alto risco geológico, de acordo com o mapa da DRM

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 11 de novembro de 2018 - 09:19
Trabalho de resgate foi feito por cerca de 80 bombeiros de quartéis do Estado, que continuaram durante a madrugada
Trabalho de resgate foi feito por cerca de 80 bombeiros de quartéis do Estado, que continuaram durante a madrugada -

Por: Marcela Freitas 

Subiu para 14 o número de mortos, na tragédia do Morro da Boa Esperança,  em Piratininga, Niterói. 

Bombeiros encerraram as  buscas às 6h da manhã, quando  foi localizado o último corpo. Entretanto, ainda não  foram informado os nomes ou sexo das vítimas. 

De acordo com o coronel bombeiro  Luciano Sarmento, do Estado Maior, neste momento, eles supervisionam  os trabalhos para remoção dos entulhos. 

“ Estamos com o quartel de  Niterói e Itaboraí, avaliando o trabalho de remoção  dos detritos . As buscas foram encerradas, mas retornarão  se alguma família reclame pelos seus familiares”, disse. 

Ainda segundo  o coronel, 11 pessoas foram socorridas com vida. 

O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, e o secretário municipal de Defesa Civil, Tenente Coronel Walace Medeiros, darão coletiva de imprensa na manhã deste domingo (11) no Centro Integrado de Segurança Pública (CISP), em Piratininga. Os dois falarão sobre o rompimento de maciço na comunidade da Boa Esperança, a atuação das equipes da Prefeitura de Niterói e o atendimento às famílias afetadas. 

Niterói sofre com uma nova tragédia. Desta vez, no Morro da Boa Esperança, em Piratininga, na Região Oceânica. Por volta das 5h de sábado (10), uma pedra se desprendeu do alto do morro e soterrou, pelo menos, sete imóveis e uma lanchonete. Onze pessoas foram resgatadas com vida e levadas para os hospitais estaduais Alberto Torres, no Colubandê, em São Gonçalo; e Azevedo Lima, no Fonseca, em Niterói.

A região não era diagnosticada como de alto risco geológico dentro do mapeamento de risco do Departamento de Recursos Minerais do Governo do Estado (DRM). Ainda não se sabe quantas pessoas ao certo foram atingidas, já que em um dos imóveis acontecia uma festa. Bombeiros de sete quartéis participaram da ocorrência. Aproximadamente, 80 militares da corporação atuaram na operação durante todo o dia de ontem e durante esta madrugada (11), que também contou com o apoio de agentes da Defesa Civil do Estado e de órgãos da Prefeitura.

O secretário de Estado de Defesa Civil e comandante-geral do Corpo de Bombeiros, Roberto Robadey Jr., disse que o município estava em estágio de alerta. “Choveu muito em Niterói nos últimos dias. A orientação nestes casos é que as pessoas procurem locais seguros”, disse. O desastre, entretanto, não foi uma surpresa para quem mora no local. De acordo com o presidente da Associação de Moradores, Cláudio dos Santos, há cerca de um ano, houve um deslizamento de terra e de alguns imóveis e, na época, ele acionou a Defesa Civil, que condenou os imóveis que desmoronaram. “Infelizmente, mesmo com a interdição, as pessoas não quiseram deixar as casas por não terem para onde ir. A pedra sempre foi uma preocupação”, contou ele, afirmando que cerca de cinco mil pessoas vivem na comunidade.

Moradora da parte baixa, Lucivania Silva, 46, lembrou do último desastre. “No ano passado, enfrentamos dias de chuva forte e, pelo menos, oito casas desceram. Mas era cedo e todos puderam sair com vida. Eu morava na parte alta e me mudei. Infelizmente, as pessoas não deixaram suas casas por não terem escolha. Para onde iriam sem nenhuma solução?”, questionou.

A doméstica Rosemary Caetano, 48, foi uma das sobreviventes deste sábado e comemorava, na noite anterior, o aniversário do neto. “Estava em casa com três filhas e dois netos. Um deles, o Arthur, dormia comigo. Foi aniversário dele na sexta-feira. Consegui tirar algumas pedras e sair com ele. Mas não consegui retirar a minha neta de oito meses que dormia em outro quarto”.

Glauber Lee, 25, foi uma das primeiras pessoas que chegou ao local. Ele contou que passou pela área poucos minutos antes do desmoronamento. “Eu moro mais em cima e desci para comprar lanche. Assim que passei, ouvi um barulho forte, que acreditei ser o estouro de um transformador. Um colega de moto subiu e voltou para falar que havia caído uma casa. Quando chegamos, apesar do escuro, vimos que era algo muito maior. Ouvíamos, a todo o momento, gritos de pessoas pedindo socorro. Foi horrível”, relembrou.

O motorista Edson Vanderson Santos, 48, chorou bastante ao descobrir que seu amigo Claudemar, conhecido como Peroba, foi uma das vítimas fatais. “Nós sempre conversamos sobre os riscos dele morar ali. Tinha medo por causa da pedra. Infelizmente, ele não tinha para onde ir. Estou muito triste”, chorou.

O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, estava viajando para Barcelona, na Espanha, onde discursaria pela Frente Nacional de Prefeitos. Logo ao sair do avião, ele recebeu a notícia e, segundo sua assessoria, iria chegar ao Brasil na madrugada deste domingo (11). Em nota, a assessoria de imprensa do Governo do Estado informou que está mobilizado em auxiliar a prefeitura de Niterói. O governador Luiz Fernando Pezão lamentou as mortes ocorridas e se solidarizou com as famílias. O governador eleito do Estado, Wilson Witzel, esteve, na tarde deste sábado, na comunidade para se solidarizar com familiares e amigos das vítimas e acompanhar o trabalho de resgate para colher informações a serem estudadas durante o período de transição do governo.

Cerca de 200 profissionais da Defesa Civil de Niterói, secretarias de Obras, Conservação, Assistência Social, Saúde e Companhia de Limpeza estavam na comunidade trabalhando de forma integrada com as equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil Estadual no socorro às vítimas. A assessoria de imprensa da Prefeitura de Niterói não confirmou que as casas tinham sido interditadas anteriormente.

SOLIDARIEDADE

Diante da tragédia, muitos moradores do local se mobilizaram para ajudar. Alguns doaram água e gelo para hidratar quem estava trabalhando. Outros ajudaram na retirada dos escombros com baldes através de um cordão humano. Igrejas locais também ajudaram com a doação de quentinhas.

A Escola Municipal Portugal Neves (Rua Quatorze, em Piratininga, ao lado do Centro Integrado de Segurança Pública - Cisp) virou ponto de recolhimento de doações para as famílias vítimas da tragédia. No colégio, estão sendo recolhidos produtos de higiene pessoal, alimentos não-perecíveis, roupas, roupas de cama, água e colchonetes.

A 77ª DP (Icaraí) também funcionará como base de apoio para arrecadação de alimentos não-perecíveis, além de produtos de higiene, água, biscoitos (seco sem recheio) e vestimentas.

INVESTIMENTOS

Em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Niterói informou que, desde 2013, a Prefeitura de Niterói fez cerca de 70 obras de contenção de encostas, entregou mais de três mil casas populares e está desenvolvendo um trabalho específico, focado em áreas de alto risco geológico. A Prefeitura também municipalizou o sistema de alertas e alarmes por sirenes em setembro de 2016, quando o Governo do Estado anunciou que não poderia arcar com a manutenção dos equipamentos.

Em nenhum momento o serviço deixou de funcionar na cidade e, atualmente, Niterói conta com 33 sirenes de alerta para desastres naturais em 28 pontos, além de 51 pluviômetros. Já foram implantados 52 Núcleos Comunitários de Defesa Civil (Nudec), com 200 voluntários capacitados em primeiros socorros, prevenção e combate a incêndio, percepção de riscos geológicos, sistema de alerta e alarme e gestão de voluntariado.

O município também criou o grupo Executivo para o Crescimento Ordenado e Preservação das Áreas Verdes, que realiza a fiscalização em áreas verdes e a prevenção do crescimento desordenado. Só no último ano, foram realizadas 120 demolições de construções irregulares na cidade. Em caso de emergência, a população pode acionar a Defesa Civil pelos telefones 199, 2717-2631 e 2620-0199.

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