RJ-104: sinônimo do abandono

Além dos buracos e árvores invadindo a pista, pedestres sofrem com outros problemas, como calçadas sem condições de caminhar e pontos de ônibus em locais totalmente inadequados
Foto: Alex RamosPor Marcela Freitas
Com 23 quilômetros de extensão, a Rodovia Amaral Peixoto (RJ-104) ligando Niterói a Itaboraí recebe um fluxo médio de 80 mil veículos por dia, segundo o Departamento de Estrada e Rodagens (DER). Assim sendo, a via é uma das principais rotas para quem se desloca em direção à Zona Norte de Niterói, para os bairros de São Gonçalo e até para quem vai à Região dos Lagos, pois passando por Tribobó, cruza com o início da RJ-106. Mas apesar da sua importância, a rodovia não vem recebendo os cuidados devidos e necessários para segurança de seus usuários. Basta percorrer o trecho compreendido entre São Gonçalo e Niterói para observar uma série de problemas, como imensos buracos na pista, falta de muretas de proteção, quantidade reduzida de passarelas, pontos de ônibus inadequados, vegetação invadindo a pista e placas de sinalização quebradas.
A equipe de O SÃO GONÇALO percorreu toda a extensão, entre Niterói e São Gonçalo, da subida da Caixa D’Água até Marambaia, e registrou todos os problemas listados. Em Tribobó, por exemplo, na pista sentido Niterói, a vegetação está invadindo a pista e cobrindo placas, o mesmo acontece na altura do viaduto de Maria Paula, no mesmo sentido, onde o mato alto cobre a calçada, fazendo pedestres se arriscarem no asfalto junto aos veículos. Já no Tenente Jardim, sentido Niterói, uma árvore ameaça cair sobre a pista.
A vegetação sem poda, aliás, é um dos muitos problemas crônicos, como na localidade conhecida como Figueira, em frente à garagem da Viação 1001, sentido Niterói, cujo trecho também está repleto de buracos. Já no sentido São Gonçalo, o mesmo acontece no Baldeador, onde além dos buracos um bueiro sem tampa coloca em risco a vida de motoristas e pedestres. No Coelho, em São Gonçalo, e em Santa Bárbara, Niterói, muretas de contenção estão quebradas.
“Trafego diariamente pela rodovia fazendo entregas para uma empresa de construção, e percebo como ela está mal conservada. È preciso ter muita cautela, pois caso contrário, o risco de acidente é grande”, disse o motorista Cleanto Leite, de 38 anos.
Sem abrigos - A falta de abrigos de ônibus em vários trechos da rodovia também é uma queixa da população. “Ficamos no sol e na chuva. Acredito que o investimento de um ponto de ônibus adequado seja pouco. Não há explicação para tanto descaso”, reclamou a aposentada Carmensita Xavier Magalhães, 78, enquanto aguardava um coletivo em Vista Alegre.

É preciso muito mais passarelas
Ao longo dos 23 quilômetros da RJ-104, há 18 passarelas para garantir a segurança de pedestres. Destas, 16 estão no trecho compreendido entre São Gonçalo e Niterói. Entretanto, com o grande fluxo de veículos e a grande quantidade de moradias que se formou ao longo da via, ao que parece esse número tem se mostrado insuficiente para reduzir acidentes.
Há pelo menos 10 anos, o presidente do Centro Pró-Melhoramentos do Novo México, João Galdino, vem lutando para conseguir que seja instalada uma passarela no local. Neste período, Galdino já viu seis amigos morrerem vítimas de atropelamento.
“Hoje estou morando no Arsenal, mas continuo lutando pelo melhoramento da vida dos moradores da localidade Novo México. A travessia é muito perigosa. São centenas de famílias que atravessam naquele trecho todos os dias. Fui pessoalmente ao Palácio Guanabara (sede do governo do Estado, no Rio) entregar um ofício solicitando a instalação dessa passarela. Acho que desta vez nossa reivindicação será atendida”, contou o líder comunitário.
A mesma reivindicação é feita pelos moradores de Vista Alegre, que residem no entorno da RJ-104, na qual a distância entre as passarelas mais próximas chega a 2,2 quilômetros.
“Moramos entre os bairros de Laranjal e Vista Alegre e não temos como caminhar tanto para acessar a passarela. Por isso temos que nos arriscar. É um sofrimento sem fim. Todos os dias levo meu neto para a escola porque tenho medo de que ele atravesse sozinho. Já vi muitas pessoas serem atropeladas. O ideal é que as passarelas fossem mais próximas uma das outras”, opinou o aposentado Edson Conceição, 69.
DER afirma que reparos serão feitos

O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ) informou que serão intensificados os serviços de tapa-buracos, roçado e limpeza de pista da RJ-104. “A ação está dentro do programa de conservação rotineira da malha rodoviária e tem por finalidade proporcionar maior segurança e trafegabilidade às rodovias estaduais”, disse em nota, sem esclarecer, no entanto, o prazo para realizar os serviços. Sobre pacote de obras estruturais, o órgão declarou que aguarda aprovar do Tribunal de Contas do Estado (TCE) para licitação das mesmas. “Constam no projeto a execução de obras para restauração do pavimento, construção de acostamento, recuperação das passarelas e construção de novo viaduto”, completou o DER.
Já em relação à instalação de novas passarelas, o DER ressalta que “a instalação de uma passarela é baseada num minucioso estudo realizado por especialistas do órgão que avaliam a necessidade da instalação da estrutura. Nesse levantamento são levados em consideração diversos fatores, entre eles: contagem volumétrica da rodovia, densidade demográfica da região e índice de acidentes”, argumentou sem especificar prazos e locais para completar os trechos da RJ-104 entre os municípios de Niterói e São Gonçalo.