Escritor gonçalense lança livro para despertar novo olhar sobre religião

Por Rennan Rebello
O professor de Língua Portuguesa e escritor gonçalense, Rodrigo Santos, lançou seu novo romance intitulado ‘Macumba’ através do selo Casa da Palavra. A obra relata a saga de um investigador evangélico da Divisão de Homicídios que precisa deixar suas convicções cristãs de lado para elucidar casos de mortes misteriosas em terreiros de candomblé e umbanda de São Gonçalo. Através da trama policial, o autor retrata o cotidiano violento sofrido pela população das periferias de São Gonçalo e Niterói, além de abordar os preconceitos sofridos por adeptos de religiões de matriz africana.
“O próprio nome “Macumba” é uma provocação. Macumba é o nome de um instrumento, tirado da árvore de mesmo nome, utilizado nas celebrações afro-brasileiras. Dito pelos adeptos, “macumba” tem um tom respeitoso e carinhoso. Pelo olhar do preconceito, o nome macumba possui uma carga pejorativa, de coisa ruim. Eu quero que o livro seja lido, principalmente por aqueles que não conhecem o tema. Acredito que todo preconceito nasce da ignorância, do afastamento, de ver qualquer coisa como “do outro”. Quando você se apropria do conhecimento e passa a ser você também o outro, o preconceito acaba. Se for lido em sala de aula, ótimo. Nós precisamos falar sobre isso”, opinou.
A inspiração para escrever o livro surgiu justamente na sala de aula, quando uma aluna do ensino fundamental estava com a cabeça raspada e disse que estava com leucemia para não ser zombada por seus colegas de classe. Apesar de ser ateu, Rodrigo sentiu a necessidade de abordar essa temática e de incluir na escrita, a história de ritos da cultura africana. “Aquilo me deixou mal por dias... e até hoje me incomoda. Uma criança preferir dizer que tinha uma doença fatal a assumir a sua fé, a sua cultura. Desde então, meu olhar se apurou mais para o fato e o que vejo, diariamente, nas escolas é isso, mesmo entre professores. O que é um absurdo em vários níveis. Religião é uma escolha de foro íntimo, é o modo como alguém realiza a sua leitura sobre o mundo para ser uma pessoa melhor. Independente disso, a mitologia africana faz parte de nossa identidade. Acho um absurdo falar em Thor, Odin, Zeus e outras mitologias e isso ser até matéria escolar, mas se você falar Ogum, Iansã, Exu, escuta logo um: ‘tá amarrado!’”, protesta o escritor.
O lançamento oficial do livro será na próxima terça-feira, a partir das 18h, na Livraria Folha Seca, 37, na Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio. Em São Gonçalo, o autor irá promover o livro no dia 5 de fevereiro na Praia das Pedrinhas. “Fico feliz que um dos lançamentos programados seja justamente no ‘Presente de Iemanjá’, na Praia das Pedrinhas, um evento tradicional de São Gonçalo, idealizado e realizado pelas lideranças do candomblé na cidade e eu terei o prazer de poder contribuir”, finalizou. Sobre o autor - Rodrigo Santos foi um dos fundadores do sarau ‘Uma Noite Na Taverna’, que foi realizado durante 12 anos. Atualmente, ele é coach literário e orienta novos escritores que sonham em ter um livro publicado através de um projeto da Festa Literária das UPPs (Flupp), que promove a literatura em comunidades do Rio de Janeiro.