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'Rua da Feira' faz bodas de ouro

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 16 de outubro de 2016 - 12:08
Imagem ilustrativa da imagem 'Rua da Feira' faz bodas de ouro

Ela acaba de fazer 50 anos, mas continua atraente e desperta a atenção de milhares de pessoas todos os dias. Com o fôlego de uma debutante, a “Rua da Feira”, mesmo com tantos anos de existência, ainda faz jus ao título do maior centro comercial de São Gonçalo. Basta andar pela Rua João Caetano, nome oficial da via, para ter acesso às mais diferentes ofertas de produtos. 

Ponto de encontro de revendedores e destino de quem está de olho na moda, a Rua da Feira ganhou este nome na década de 1960, quando pequenos produtores se reuniam aos domingos para vender a produção de seus sítios. Só no final da década de 1980 que o local ganhou uma “ nova roupagem”, com a chegada dos ambulantes e as lojas de jeans. 

De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista Autônomo de Ambulantes e Feirantes de São Gonçalo, João Fernandes Arêde Neto, o popular Gordo, de 58 anos, atualmente são 245 ambulantes licenciados na cidade, deste 136 atuam na “Rua da Feira”. 

“Essa rua era conhecida como Estrada do Laranjal que compreendia as ruas que chamamos hoje de Yolanda Saad Abuzaid, Raul Veiga e João Caetano. Com a mudança no trânsito, os ambulantes começaram a vir para este ponto. Mas antes disso, a região só era conhecida por ter feira livre aos domingos” explicou. 

Uma das vendedoras ambulantes mais antigas, Sebastiana Mendes, 76, trabalha com o comércio varejista há 30 anos. Há 14, ela mantém a barraca no mesmo ponto.

“Temos que comemorar muito esses 50 anos de ‘Rua da Feira’. Aqui pude criar os meus filhos. Faço o que gosto e me sinto privilegiada por isso”, afirmou.

Os consumidores compartilharam da opinião. 

“Venho atrás de preço, oferta e qualidade. Aqui encontro tudo isso. Quando penso em comprar, aqui é sempre minha primeira opção", disse a dona de casa Eliane Bastos, 39, enquanto escolhia uma bolsa na barraca de Elaine Ribeiro, 55. 

“Esperei passar o ‘Dia das Crianças’ para comprar o presente para  meu filho. E não tive dúvidas de escolher o local. Gosto muito de comprar aqui. Faço isso desde a adolescência", contou a também Camille Almeida, 27.

Jeans - uma atividade forte do comércio formal 

Uma das lojistas mais antigos do Alcântara, Carmem Cerdeira Pedro, 68, proprietária da Celcar Jeans, foi uma das precursoras da fabricação de roupas com este tecido. A primeira loja foi inaugurada em 1977, na Rua Yolanda Saad Abuzaid, com a venda das chamadas roupas coloridas. Na década de 1980, com a grande procura de clientes pelo jeans, ela mudou de ramo e montou uma fábrica também no bairro. Em 1981, foi aberta uma loja na "Rua da Feira" e no ápice do jeans, Carmem chegou a ter 18 lojas espalhadas por várias cidades. Atualmente são cinco, sendo duas em Alcântara.

“Quando chegamos ao Alcântara tínhamos poucas lojas. A 'Rua da Feira' já contava com as feiras dos produtores aos domingos, mas as lojas eram escassas. Quando vimos a oportunidade de investir em jeans, fizemos e tivemos muito sucesso. No início, contava com ajuda de representantes para divulgar a marca depois foram as lojas. Tivemos sete espelhadas pelo Alcântara. Haviam também propagandas da região, que ajudaram a impulsionar ainda mais o bairro como um polo da moda jeans”, contou.

Trabalhando nas lojas Celcar há 30 anos, a gerente Rute Alves Nascimento, 56, disse que viveu os melhores momentos do jeans.

"Comecei a trabalhar na fábrica e depois fui para a loja. Fiquei uma década no Rio, onde tínhamos loja e depois fui transferida para cá, onde estou até hoje. Acredito que a qualidade dos nossos produtos nos faz continuar até hoje.  Amo o que faço. Vender é uma arte ", explicou. 

Alcântara antes do centro comercial 

Donato Nogueira Guimarães, 83, viu Alcântara crescer antes da "Rua da Feira". Natural de Itajubá, em Minas Gerais, ele chegou a São Gonçalo em 1949, para trabalhar como ajudante de pedreiro. Ele morou por um período em Monjolos, onde trabalhava no loteamento de terras Vista Alegre e depois se mudou para Alcântara, endereço que reside até hoje.

Donato conta que foi o prefeito Joaquim Lavoura que fundou a feira dos produtores no Alcântara. Prefeito em dois períodos (1955 a 1959 e 1963 a1967), Lavoura retirou as linhas de bondes, alargou as passagens e promoveu os calçamentos. Vendo a dificuldade dos pequenos produtores rurais que precisavam fazer baldeações para revender os produtos no Rio, ele deu como alternativa a criação da feira no Alcântara.

“As feiras eram muito diferentes das que vemos hoje. Haviam só produtores rurais. Tinha tanta laranja que tropeçávamos nas caixas. Hoje, a feira perdeu a característica, sendo oferecidos todos os tipos de produtos”, disse.

Donato conta ainda que, com o crescimento do bairro, viu a necessidade de transformar sua casa em uma edificação.

“Na década de 60, o bairro ficou melhor. Antes não valia nada. Eu adquiri um terreno no Mundel que era o dobro do preço cobrado no Alcântara. Com a chegada do jeans, vieram muitas lojas e cheguei a alugar 18 lojas para revendedores do tecido. Mas, com o tempo, as sacoleiras passaram a produzir suas próprias peças, e o mercado decaiu. Mas como Alcântara já era conhecido se reinventou com novas lojas”, afirmou.

Feirante há 35 anos 

Um dos primeiros feirantes ainda resiste ao tempo, Antonio Lima, 57, chegou à feira dos produtores em 1981. Vendedor de tapioca, ele se especializou na venda de produtos nordestinos e, hoje, atua diariamente na feira dos produtores na Rua João de Almeida, paralela à João Caetano.

“Vim do Nordeste para o Rio e iniciei minha vida na feira. Vivíamos outros tempos. Não havia barracas. A maioria das colheitas eram distribuídas em caixas. Eu era sitiante na Fazenda Engenho Novo e, aos poucos, comecei a aumentar a gama de produtos oferecidos. Hoje trabalho de domingo a domingo com feira”, afirmou.

Associação Comercial quer área específica aos camelôs 

A Associação Comercial, Empresarial, Industrial e Rural de Alcântara ( Aceira), que engloba Alcântara, Monjolos, Jardim Alcântara e Nova Cidade, tem uma nova proposta para a região. Nos próximos dois anos, a entidade espera conseguir que seja efetivada a construção de um camelódromo no Alcântara. O empreendimento traria mais conforto aos vendedores varejistas e otimizaria o trânsito na região, na avaliação da associação. 

De acordo com o presidente Fabiano Rodrigues, estima-se que atualmente 350 camelôs atuem nas ruas do Alcântara. Destes apenas a metade é legalizada. Ainda segundo Fabiano, em 2007, foi feito um estudo pelo Sebrae que apontou a perda de 30% de clientes potenciais, por conta do crescimento desordenado de barracas no bairro. Isso representaria uma perda de R$400 milhões ao ano.

"Todas as grandes cidades tem camelódromos. Esse espaço comum permite ao vendedor varejista  mais segurança e conforto. Nossa ideia é trazer um  espaço com teatro, banheiros e praças de alimentação, aos moldes da Rua Uruguaiana, no Rio. Esse projeto começou a ser feito há quatro anos, mas houve embargos na obra. Estamos trabalhando para retomada do projeto. Quantas pessoas deixam de comprar no Alcântara por conta da desordem? Queremos oferecer ao nosso cliente uma grande shopping a céu aberto", explicou. 

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