Remédios para dormir: uso sem orientação médica preocupa especialistas
A busca por sono de qualidade cresce junto com o consumo de medicamentos e suplementos, mas especialistas alertam para riscos à saúde e alterações na arquitetura do sono

Uma boa noite de sono revigora o corpo e a mente. O ato de dormir, além de proporcionar descanso, auxilia na eliminação de toxinas prejudiciais ao organismo. No entanto, para que essas funções ocorram adequadamente, é necessário um sono de qualidade por, no mínimo, oito horas. Algo cada vez mais difícil devido a inúmeros fatores. A solução encontrada por muitos para contornar a falta de sono tem sido o uso de medicamentos, que podem melhorar a qualidade do descanso, mas, quando ingeridos sem acompanhamento médico, causam prejuízos à saúde.
Diante da dificuldade para dormir, muitos pacientes recorrem a medicamentos como Rivotril, Alprazolam, Midazolam, Zolpidem e seus derivados. Além dessas substâncias, também são utilizados antidepressivos e suplementos como magnésio e melatonina que, embora não seja um indutor do sono, pode atuar como auxiliar.
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De acordo com o levantamento realizado pela Timelens, empresa de tecnologia e inteligência de dados, nos últimos cinco anos houve um aumento de 1,450% de pesquisas online, por “remédios para dormir sem receita”. Entretanto, o consumo dessas substâncias, especialmente sem prescrição médica e de forma descontrolada, pode acarretar diversos problemas de saúde, como explica o neurologista Rodrigo Queiroz Silveira, em entrevista ao OSG.

“Nenhum medicamento deve ser tomado sem receita, inclusive os suplementos. Seja para o uso de magnésio, seja o uso da melatonina, o ideal é que seja acompanhado, porque pode ter efeitos colaterais. Por exemplo, a melatonina pode parecer muito inocente, mas tem paciente que sente dor de cabeça com o uso de melatonina. Então, quem tem enxaqueca tem que ter cuidado com a melatonina, porque ela pode provocar enxaqueca. O uso de Rivotril, de Alprazolam, que são medicamentos controlados e que precisam de receita azul, quando em uso de longo prazo, interferem na memória. A mesma coisa o Zolpidem, essa classe de agonistas também interfere na memória e pode gerar alucinações. [...] Não podem ser feitos sem indicação médica, até porque são medicamentos que causam sonolência. Isso, em idosos, por exemplo, aumenta o risco de quedas”, explicou o médico.

O suplemento conhecido como melatonina, que é vendido com uma imagem semelhante à de balas e que facilmente podemos encontrar em farmácias, não deixa de ser um medicamento, mesmo que de baixa eficácia, dependendo do paciente que consumir o produto.
"Elas têm eficácia. Há pessoas que têm mais sensibilidade à melatonina. Então, para pessoas que têm insônia crônica, mais severa, provavelmente essa dose baixa de melatonina não vai fazer diferença nenhuma, mas se for uma insônia leve, algo pontual, ela pode ter efeito”, explicou o neurologista, que ressaltou a importância de fazer o uso do medicamento junto com o acompanhamento de um especialista.
O aumento na procura de medicações para dormir acendeu um alerta sobre a rotina agitada dos pacientes, que, por muitas vezes, não conseguem deixar de lado os problemas do cotidiano, levando-os para a cama, sem se desconectarem das telas e redes sociais. Além disso, a casa do paciente deixou de ser um ambiente de paz e tranquilidade e se transformou em uma extensão do trabalho e das preocupações, graças ao home office. Todas essas situações acabam interferindo diretamente na qualidade do sono.
“Pela dificuldade que as pessoas têm de se reeducar... A gente tem ficado ligado à tela até muito tarde da noite. Uma das coisas que aconteceu também foi a mudança na forma de trabalhar. A gente tem levado mais trabalho para casa, e muitas vezes a casa se tornou o ambiente de trabalho, o home office, que é uma coisa que aumentou muito. As redes sociais favoreceram que as pessoas continuem ligadas no trabalho, e isso faz com que elas tenham mais dificuldade de desligar”, disse Rodrigo.

A insônia, que está entre as principais causas do uso de medicamentos para dormir, apresenta diferentes classificações clínicas. Ela pode ser inicial, quando há dificuldade para pegar no sono; de manutenção, quando o paciente acorda no meio da noite e não consegue retomar o sono; ou terminal, quando o despertar ocorre antes do horário previsto.
Sono de qualidade pode ser afetado por medicamentos
Durante a noite, a pessoa precisa passar por algumas fases do sono para que o cérebro elimine toxinas e outras substâncias nocivas ao organismo, além de consolidar a memória.
“O sono tem fases diferentes. A gente tem a fase que se chama REM, onde há maior quantidade de sonhos e ocorre a maior consolidação das memórias. E tem a fase não REM, que é N1, N2 e N3, o sono mais profundo”, explicou o neurologista.
De acordo com o especialista, a arquitetura do sono do paciente que utiliza remédios para dormir, pode ser drasticamente afetada pela química usada, porém isso vai depender das medicações.
“Alguns medicamentos podem interferir na arquitetura do sono. Ao longo da noite, a gente precisa passar por todas essas fases, inclusive nas fases mais profundas, quando há maior limpeza do cérebro de toxinas e proteínas que causam doenças. Então, a insônia crônica pode envelhecer mais rápido o cérebro. [...] Dependendo da medicação que se usa, isso pode mudar a arquitetura do sono. O Alprazolam e o Clonazepam, por exemplo, alteram essa estrutura. Temos falado muito do canabidiol, que, quando possui uma quantidade muito grande de THC para induzir o sono, também pode alterar a arquitetura do sono, interferindo na fase REM. Mas os medicamentos de uso habitual, como a Trazodona, a própria Melatonina ou algumas suplementações como o Magnésio, não têm uma interferência tão grande na arquitetura do sono e podem ser usados de forma mais segura.”

Dicas de Higiene do Sono
Praticar a Higiene do Sono, pode ajudar o paciente a dormir mais rápido e com qualidade, assim evitando tomar remédios para dormir.
Reduzir a intensidade da luz;
Reduzir o brilho da televisão;
Não usar celular 1h antes de dormir;
Não comer muito próximo do horário de dormir;
Fazer atividades físicas no período da manhã;
Usar luz amarela;
Ouvir sons calmantes;
Resolver problemas do cotidiano antes de dormir e evitar levá-los para a cama;
Evitar depois das 16h: estimulantes como café, chá verde, chá mate, chá preto, energético.
Sob supervisão de Marcela Freitas