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Dor e luta de uma mãe atípica: denúncia de agressão a menina autista em São Gonçalo levanta alerta sobre terapias sem preparo

“O autismo virou uma mina de dinheiro. As pessoas abrem clínicas o tempo inteiro e mantêm profissionais sem nenhum preparo", desabafou a mãe da criança

relogio min de leitura | Escrito por Renata Sena | 18 de outubro de 2025 - 13:05
O caso foi registrado na 72ª DP (Mutuá)
O caso foi registrado na 72ª DP (Mutuá) -

“O autismo virou uma mina de dinheiro. As pessoas abrem clínicas o tempo inteiro e mantêm profissionais sem nenhum preparo. Eu precisei falar, denunciar, pela minha filha e pelas outras crianças que poderiam passar pelo que minha filha passou. A gente não pode se calar, porque isso tudo é muito triste. A mãe atípica vive brigando. A gente precisa brigar na escola, nas terapias, pela vaga do carro, pelo espaço. É doloroso e cansativo. Mas a gente não pode se calar”, desabafa Érika Alves Amaral Gomes, de 43 anos, mãe solo de uma menina de 7 anos com transtorno do espectro autista (TEA), que teria sofrido lesão corporal durante um atendimento fonoaudiológico em uma clínica particular de São Gonçalo.

O caso foi registrado na 72ª DP (Mutuá) e a Polícia Civil investiga o ocorrido. De acordo com o boletim de ocorrência, a criança apresentou hematomas após uma sessão terapêutica, o que levantou suspeitas sobre a conduta da profissional responsável. A mãe afirma que só percebeu a maior marca ao chegar a casa e que, ao questionar a clínica, recebeu respostas evasivas.

“Quando a fonoaudióloga entregou minha filha no final da terapia, ela estava chorando muito. A fono relatou que precisou contê-la e que ela chegou a quebrar uma cadeira. Contudo, o relato me causou estranhamento, porque não condizia com nenhuma atitude já relatada sobre minha filha. Outra questão que me deixou incomodada foi: se ela realmente precisou ser contida, por que eu não fui chamada? Ela ficou com a criança durante uma hora, ou seja, todo o horário de atendimento”, contou a mãe, que, ao chegar em casa, encontrou um hematoma grande nas costas da filha.

De imediato, Érika entrou em contato com a profissional para tentar entender o que havia acontecido, mas a fonoaudióloga manteve a versão de que a menina havia sido contida. Sem uma resposta adequada sobre o caso, a mãe procurou a delegacia dois dias depois do ocorrido.

“Fiz o registro de ocorrência 24h depois e, dois dias depois, o exame de corpo de delito, que comprovou um hematoma de 10 centímetros nas costas dela. O laudo confirmou uma lesão corporal”, relatou.

Segundo Érika, a filha era acompanhada na unidade desde os dois anos de idade e já havia apresentado resistência em comparecer às sessões, mas a situação se agravou após o episódio. “Ela chorou, e os outros profissionais relataram o pânico dela durante o atendimento. Eu ainda tentei levá-la, porque ela fazia quatro terapias diferentes na clínica. Para ela não ficar sem acompanhamento, insisti, mas não conseguimos seguir. Ela está com medo. E a fono segue atendendo no local”, afirmou.

A menina, que tem dificuldade de comunicação, não consegue relatar o que aconteceu. Ela fazia acompanhamento com quatro especialidades na clínica e, desde então, está sem as terapias. Para a família, a clínica não ofereceu nenhuma assistência, segundo Érika.

Em nota, a clínica informou que abriu uma apuração interna e trata o caso com “máxima seriedade”. A direção disse que não há registros anteriores de reclamações contra a profissional. A instituição afirmou ainda que todos os profissionais são certificados e que o atendimento segue com outra equipe.

O Conselho Regional de Fonoaudiologia do Rio de Janeiro (Crefono 1) informou que não pode comentar casos sob investigação, mas destacou que atua em parceria com o Ministério Público e a Polícia Civil em apurações que envolvem denúncias de negligência ou conduta inadequada.

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