Três minutos para agir: Bombeiros de São Gonçalo são referência em resposta rápida
Com mais de 11 mil atendimentos em 2024, quartel investe em preparo, estrutura e relação com a população para salvar vidas sob pressão

Três minutos para sair do quartel. Três minutos para começar a salvar uma vida. Essa é a meta de tempo adotada pelo 20º Grupamento de Bombeiro Militar (GBM), em São Gonçalo. Após o toque do telefone da emergência, os militares correm. Em até 180 segundos, as equipes já devem estar com as viaturas fora dos portões, prontas para agir.
“Tem evento que nem esperamos confirmação. Chegou a ligação, a equipe já está com o trem de socorro na rua”, explica o tenente-coronel Gilvane dos Santos Dias, comandante do 20º GBM, localizado em São Miguel, durante uma entrevista à equipe de O SÃO GONÇALO.

A rapidez no atendimento é apenas um dos fatores que colocam o quartel entre os mais eficientes do estado. Em 2024, foram 11.674 atendimentos realizados na área de abrangência da unidade, sendo mais de seis mil somente na sede, que responde diretamente por bairros populosos como Jardim Catarina, Alcântara, Trindade e Salgueiro.
A estrutura atual é fruto de investimentos e modernizações feitas nos últimos anos. A frota foi renovada e os equipamentos atualizados. As viaturas hoje contam com aparelhos individuais de respiração autônoma, materiais para salvamentos em altura, em vegetação e também em áreas alagadas. Além disso, o quartel conta com planos operacionais prontos para períodos de estiagem e de chuvas intensas.

“Temos embarcações, coletes e equipes preparadas para atuar em situações de enchentes. Também temos os GRD's (Guarnição de Resposta a Desastres), que são grupamentos rápidas e especializados, prontos para serem enviados para apoiar outras regiões do estado quando necessário”, detalha o comandante.
Para manter o preparo, os treinamentos são diários. O turno de socorro é assumido entre 8h e 9h da manhã, quando o volume de ocorrências ainda é menor. Neste intervalo, os bombeiros treinam com os equipamentos e as viaturas que usarão em campo.
“A gente brinca que, até certo ponto, somos humanos. A partir dali, viramos bombeiros. A farda pesa, e a responsabilidade também”, resume Dias.
Paixão que inspira
“Eu não sonhava em ser bombeiro”. É assim que o tenente-coronel Gilvane Dias inicia sua própria história na corporação. Formado em Administração, ele trabalhava com representação laboratorial quando decidiu prestar concurso. Passou, entrou no Corpo de Bombeiros e, ali, descobriu sua verdadeira vocação.

“Hoje eu não me imagino fazendo outra coisa. Meu primeiro nome morreu. Agora meu nome é Dias. Somos bombeiros 24 horas”, diz.
A paixão de quem está há 24 anos na corporação também se reflete nos mais jovens. O oficial Vitor Costa de Carvalho, de 27 anos, está no Corpo de Bombeiros desde 2019. Natural de São Gonçalo, ele conta que escolheu a profissão mesmo diante da preocupação da família.

“Eu queria ser militar, mas esse era um assunto negado lá em casa. Fiz faculdade, mas, quando pude escolher, eu sabia que queria ser militar e, dentro da minha vocação, eu escolhi ser bombeiro. Meu pai ficou desesperado quando soube. Achava muito perigoso. Mas foi a melhor decisão da minha vida. Não tenho bombeiros na família, mas hoje não me vejo fazendo outra coisa”, diz.
O sentimento que une os militares da unidade vai além da camaradagem. É o que faz com que bombeiros que estão de folga se ofereçam espontaneamente para reforçar o efetivo durante grandes ocorrências.
“Já cheguei em incêndio de madrugada e vi todos chegando juntos, perguntando se era preciso reforçar, se era pra avançar. Isso não tem preço. A equipe abraça o serviço com o coração”, conta o comandante, que é morador de São Gonçalo e começou a carreira como aspirante na unidade que há nove meses comanda.
Representatividade e missão
Além da agilidade e da técnica, há algo que o comandante e sua equipe fazem questão de cultivar: a relação com a população. Seja com visitas escolares, seja com um aceno da viatura durante uma ocorrência, o carisma é parte da farda.
“Toda criança tem o sonho de ser bombeiro. A gente sabe o que representa e leva isso a sério. Cada vida salva, cada resgate bem-sucedido é uma história de vitória que a gente gosta de contar. E a vitória não é só nossa. É da vítima também”, conclui Dias.
O compromisso é claro: estar pronto, seja para combater incêndios, fazer salvamentos ou simplesmente ouvir uma ligação. Mesmo quando se trata de um trote.
“Infelizmente, ainda tem. A população está mais consciente, mas volta e meia uma criança desavisada liga. Isso atrapalha o atendimento, porque, em casos onde o evento não pode aguardar confirmação, a equipe vai. E, quando descobrimos que era trote, muitas vezes pode atrapalhar e atrasar uma chamada de urgência real”, explicou o coronel.

Um pedido em comum de todos os bombeiros durante nossa visita foi: atenção no trânsito. São Gonçalo registra muitos acidentes automobilísticos, grande parte com motocicleta envolvida. E, em muitos casos, motoristas atrapalham a circulação do trem de socorro, como chamam internamente o comboio de salvamento.
“Se você perceber uma viatura se aproximando, abra caminho, ajude. A gente leva menos de três minutos para sair da unidade, mas, às vezes, levamos quase trinta minutos para chegar ao evento. E o tempo é um fator importante para salvar vidas”, concluiu.


