Hoje é o Dia da África: reconhecimento das heranças africanas em destaque no Rio
Brasil tem a segunda maior população negra do planeta

Neste sábado (25), o mundo celebra o Dia da África, data que reverencia o continente considerado o berço da humanidade. No Brasil, país com a segunda maior população negra do planeta (aproximadamente 110 milhões, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2019 - PNAD), as homenagens vão além da simbologia: medidas concretas de valorização das culturas de matriz africana foram anunciadas nas últimas semanas, com destaque para a cidade do Rio de Janeiro, que consolida seu papel como território de resistência e memória viva do povo negro.
Em março, uma decisão inédita foi publicada no Diário Oficial do Município do Rio: o reconhecimento oficial das práticas de saúde das religiões de matriz africana como parte da política de saúde complementar ao Sistema Único de Saúde (SUS). Com isso, rituais como ebós, amacis e boris — utilizados para purificação, equilíbrio espiritual e fortalecimento energético — passam a ser considerados recursos terapêuticos nas unidades de saúde da capital fluminense.
Além disso, estados de preceito, interdição e quizila, que envolvem restrições alimentares, de contato e vestimenta por razões religiosas, deverão ser respeitados pelas equipes médicas. A medida representa uma reparação histórica e o reconhecimento de saberes ancestrais que há séculos resistem à invisibilização.
Pequena África no Rio
O território simbólico da Pequena África, região central do Rio de Janeiro que engloba os bairros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo, Praça Onze e Centro, também ganhou protagonismo neste mês. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou um edital inédito para selecionar arquitetos e urbanistas negros que irão projetar um museu a céu aberto no Cais do Valongo, ponto histórico de desembarque de cerca de um milhão de africanos escravizados no Brasil e Patrimônio Mundial pela UNESCO.
O objetivo é promover intervenções urbanísticas, culturais e educativas que reforcem o afroturismo e a identidade da região como espaço de memória e cultura viva. Para o babalawô Ivanir dos Santos, a escolha de profissionais negros para liderar o projeto é uma forma de valorização, não de exclusão. “É o olhar negro sobre o território que traduz com legitimidade o que esse chão representa”, afirmou.
Escola Olodum
A memória também se fortalece na educação. No dia 29 de maio, o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), localizado na região portuária do Rio, será o palco do lançamento da Escola Olodum Rio, uma extensão da tradicional escola baiana que há décadas forma jovens através da arte afro-brasileira.
A unidade carioca vai oferecer aulas gratuitas de percussão samba-reggae, dança afro e canto coral, promovendo inclusão social, autoestima e valorização da cultura de matriz africana. Na mesma ocasião, será lançado o livro “Pedagogia Olodum – Epistemologia do Samba-Reggae”, da autora Mara Felipe, que sistematiza o método pedagógico utilizado pelo grupo baiano desde os anos 1980.
Ancestralidade como base de um futuro mais justo
As iniciativas se somam à agenda de políticas públicas que resgatam e celebram a ancestralidade africana como base de construção social. Para a ministra da Cultura, Margareth Menezes, todas essas ações fazem parte da “construção do retorno”, um retorno à dignidade, ao pertencimento e ao reconhecimento do papel central da população negra na formação da identidade brasileira.