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'Vapes' têm menos malefícios que o cigarro tradicional: verdade ou mentira?

Especialista explica os impactos do consumo dos dispositivos para o organismo

relogio min de leitura | Escrito por Yasmin Martins | 08 de dezembro de 2024 - 08:00
Mais de 2,9 milhões de brasileiros utilizaram o aparelho em 2023
Mais de 2,9 milhões de brasileiros utilizaram o aparelho em 2023 -

Você sabia que os cigarros eletrônicos são tão prejudiciais para a saúde quanto os cigarros convencionais? Apesar da ideia de que os dispositivos - conhecidos popularmente como vapes - são uma saída para a dependência em nicotina, profissionais da área comprovam que isso não passa de uma informação falsa. 

Em pesquisa realizada recentemente pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica(IPEC), pode-se perceber que o número de "vapers" aumentou consideravelmente no Brasil. No ano de 2023, mais de 2,9 milhões de pessoas utilizaram o aparelho no país, um crescimento de 580% em relação ao ano anterior.

Como surgiram? 

O primeiro protótipo dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar(DFE) foi criado oficialmente por Joseph Robinson, em 1927. Porém, o modelo se popularizou com a criação do farmacêutico chinês Hon Lik, em 2003. Na época, o aparelho era usado como vaporizador de um líquido contendo nicotina. Já no Brasil, o novo jeito de consumir tabaco chegou no início de 2010, mas com a sua proibição de consumo vigente por lei desde 2009. 

Atualmente, a maioria dos cigarros eletrônicos usa bateria recarregável com refis. Esses equipamentos geram o aquecimento de um líquido para criar aerossóis, popularmente chamados de vapor, que serão inalados pelo usuário.

Os líquidos (e-liquids ou juice) podem conter ou não nicotina em diferentes concentrações, além de aditivos, sabores e produtos químicos tóxicos à saúde - em sua maioria, propilenoglicol, glicerina, nicotina e flavorizantes.

Riscos para a saúde

O pneumologista e professor adjunto da Universidade Federal Fluminense, Leonardo Pessôa, explica que o uso de tais dispositivos começou através da divulgação de informações errôneas sobre suas composições. O especialista, que é o atual presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro(SOPTERJ), diz que as novas formas do tabaco sempre se assemelham aos formatos antigos - já conhecidos pelo público.

“Ao final, toda forma de uso do tabaco tem riscos, não há forma segura do uso do tabaco e todas são muito semelhantes. Isso não exclui o cigarro eletrônico em absoluto, ainda que ele possa conter menos de uma substância do que o cigarro convencional, ele sempre vai ter nicotina em uma quantidade que garanta o vício. E outras substâncias cancerígenas, por exemplo, tem uma quantidade que traz riscos para o desenvolvimento de câncer, principalmente o câncer de pulmão”, afirma.

Níquel, chumbo, acroleína, nitrosamina são algumas das substâncias - comprovadas por cientistas - que contribuem para a o desenvolvimento de câncer. Todas elas estão presentes nos cigarros convencionais e eletrônicos. 

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Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico (EVALI)

O uso desses aparelhos está associado ao aumento de risco para doenças relacionadas ao tabagismo e principalmente para um tipo específico de lesão pulmonar aguda, conhecida por EVALI. Os sintomas dessa injúria pulmonar incluem dor torácica, tosse, vômitos, náuseas, diarreia, febre, dor abdominal, calafrios e perda de peso. "A gente já tem comprovação científica de que ele predispõe a diversos casos de pneumonia, a pneumonia clássica até pneumonias mais raras, como Lipoídica, por Hipersensibilidade e a EVALI. A EVALI é uma doença que se assemelha à Covid-19, não tem vírus no caso, mas as imagens e tomografias são muita parecidas, e a evolução pode ser parecida também. Eventualmente, em situações mais graves, pode combinar com necessidade de transplante e até morte", ressalta o médico. 

Leonardo também revela que, cientificamente, há comprovações de que o cigarro eletrônico pode predispor o infarto agudo do miocárdio, já que as partículas presentes no aparelho são muito pequenas. Elas passam pelo pulmão, caem na corrente sanguínea e vão até o coração. Além disso, evidências científicas apontam a asma como outra consequência para os seus usuários, principalmente entre os jovens. 

Aumento do uso entre a população mais nova

Os dispositivos têm apresentado um forte crescimento entre a população mais jovem, que os usam para aliviar o estresse, ansiedade ou por pura curiosidade. "Jovens em geral, quando se apresentam, são os pais trazendo. Pais desesperados que não tinham noção de que aquilo poderia trazer malefícios", conta o médico.

Porém, segundo o professor, a maior parte de seus pacientes faz parte do grupo de pessoas que acreditaram que o cigarro eletrônico seria um caminho para sair da dependência. "Nossa experiência é muito mais com aqueles fumantes de anos de tabagismo, e que caíram nessa armadilha de tentar usar o cigarro eletrônico no lugar do cigarro convencional para interromper o tabagismo acreditando que o cigarro eletrônico não faria mal", completa. 

Formato prático, aromas e sabores agradáveis tornam o dispositivo atrativo aos indivíduos
Formato prático, aromas e sabores agradáveis tornam o dispositivo atrativo aos indivíduos |  Foto: Arquivo Pessoal

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Proibição da Anvisa 

Apesar do maior número de usuários, a comercialização dos cigarros eletrônicos continua sendo proibida pela legislação brasileira. A proibição inclui a comercialização, fabricação, importação, transporte, armazenamento e propaganda dos aparelhos. A decisão se estende ao uso de cigarros eletrônicos em locais coletivos fechados, públicos ou privados. Vale ressaltar que a deliberação está em vigor desde 2009, e sua última atualização ocorreu em 19 de abril de 2024. 

Tratamento para combate ao tabagismo 

“O cigarro eletrônico vicia mais rápido, vicia mais agressivamente, algumas doenças nós já conseguimos comprovar que estão relacionadas ao uso do cigarro eletrônico, outras estamos em vias de[comprovar]. Minha sugestão é que não se inicie nenhuma forma de tabagismo, quem já iniciou, que interrompa imediatamente. Quem não está conseguindo interromper, provavelmente já está dependente. Procure auxílio de um profissional, de um pneumologista para conseguir interromper o tabagismo. Há algumas possibilidades de tratamento gratuito pelo SUS, por meio de uma fila de espera”, destacou Leonardo sobre recomendações médicas para o combate à dependência.

Como sinalizado pelo pneumologista, o Sistema Único de Saúde(SUS) promove um tratamento gratuito para quem quiser encerrar o ciclo vicioso. Através do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), o procedimento inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou intensiva, terapia medicamentosa(quando necessária), acompanhamento com médicos especializados e terapia de reposição de nicotina - com adesivos, pastilhas e gomas de mascar. 

O processo inclui encontros semanais, onde serão avaliados hábitos que revelam tendências ao uso dos dispositivos, o nível de dependência do indivíduo e a eventual existência de comorbidades. 

*Sob supervisão de Cyntia Fonseca

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