Instagram Facebook Twitter Whatsapp
Dólar R$ 5,1957 | Euro R$ 5,5298
Search

Ex-The Voice Kids, cantora travesti gonçalense, conta sobre o amor pela música e os desafios da carreira

Aluiz ou Lu Moreira participou do programa no ano de 2015 e desde então tem se consolidado no ramo musical

relogio min de leitura | Escrito por Lívia Mendonça | 18 de novembro de 2023 - 08:01
Aluiz canta desde os 7 anos e vem se consolidando na música mesmo diante dos desafios diários
Aluiz canta desde os 7 anos e vem se consolidando na música mesmo diante dos desafios diários -

A cantora gonçalense Aluiz ou Lu Moreira, de 21 anos, tem a música correndo em suas veias, isso porque suas primeiras influências musicais estavam dentro de casa. Moradora do Gradim, Aluiz mora com os pais e vive da música, sua maior paixão, que virou profissão.

"Tive uma influência musical familiar muito forte, minha mãe escutava Whitney, minha vó Tina Turner, e meu pai gostava mais de funk, pagode e samba. Eu cresci buscando minhas referências, sempre observando as maiores, como Beyoncé, Rihanna, que eu mais me identificava", contou a artista.


Leia também 

De SG para o mundo: cantores gonçalenses falam sobre participação no The Voice

São Gonçalo realiza leilão no final de novembro


Aos 7 anos, Lu Moreira começou a mostrar seu dom cantando na Igreja Assembleia de Deus, Central do Boaçu, também em São Gonçalo, junto com uma prima. Foi nesse momento que percebeu que realmente cantava e o quanto a música era importante em sua vida.

"Fui até o pastor pedindo para abrir o culto cantando e, desde então, eu sempre quis cantar, em qualquer lugar, porque as pessoas gostavam da minha voz e eu sabia do que eu podia fazer", afirmou.

Ao longo dos anos, a cantora passou a se apresentar em outros locais, como bailes-charme, e em 2016, aos 15 anos, teve o vídeo em que cantava em frente a escola, viralizou, tendo um alcance relevante que a fizeram conhecer pessoas que atuaram para ela participasse do Programa da Xuxa e do Máquina da Fama, o que impulsionou ainda mais sua veia artística.

The Voice Kids

Aluiz já tinha uma inscrição para o programa, e no final do ano de 2016 descobriu que havia sido selecionada para o The Voice Kids. A artista foi para as primeiras seleções e apresentações e passou, tendo a oportunidade de, aos 15 anos, mostrar todo o seu talento. Na época, ela ainda usava o nome de Luiz Ricardo, e foi escolhida pelos técnicos Victor e Léo ao cantar a música tema do filme Tarzan, 'No meu coração você vai sempre estar'. Lu, acabou deixando o programa na fase das Batalhas, onde ela competia com outros participantes do programa cantando a música One Last Time da Ariana Grande.

"A gente sempre tem umas inseguranças né, mas eu estava confiante por causa do meu talento, do que eu tinha ensaiado, do que as pessoas diziam pra mim e foi uma boa passagem, que me gerou bons frutos. Algumas coisas também me frustraram, o que é normal, ainda mais quando se trata de uma competição, mas no final pude ter um reconhecimento maior, até mesmo das pessoas de São Gonçalo. Fiz amigos, tive oportunidade de viajar, fazer musicais, tudo isso graças ao The Voice, que foi o que mais estabilizou minha carreira", declarou a cantora.

Carreira musical

Após a passagem pelo The Voice Kids, Aluiz pôde reconhecer a música como uma profissão e vivenciou todas as oportunidades que foram aparecendo pelo caminho.

"Acredito que tenha sido depois do The Voice que eu tenha pensado em música realmente como profissão. Porque antes eu era muito nova, era tudo muito fantasioso, mas depois do programa, com maturidade, comecei a pensar mais na minha carreira", disse.

Atualmente, Aluiz vive exclusivamente da arte e da música, mas conta que a trajetória não é fácil e requer determinação e persistência.

"A situação artística tá um pouco difícil, mas vivo somente da música e da minha dança. Recentemente me apresentei com o Grupo Selma, que é um coletivo de mulheres pretas de São Gonçalo do qual faço parte, no espetáculo "A coisa tá preta", no Theatro Municipal da cidade. Porém, no momento essa é minha única profissão, mas estou em busca de outro trabalho até mesmo para me ajudar a impulsionar a carreira musical, poder investir nos meus trabalhos", iniciou o relato.

"Tenho como objetivo lançar umas músicas autorais para as pessoas me conhecerem, conhecerem o meu estilo, a minha mensagem, e futuramente lançar um álbum, que eu já tenho montado. Quero fazer bastante coisa em São Gonçalo também", concluiu a cantora.

Mulher, preta, travesti

Aluiz se descobriu travesti no ano de 2021 e desde então vem lutando para ser respeitada e valorizada na música como a artista que é, por seu dom, por suas capacidades e competências, mesmo diante de um cenário ainda repleto de preconceito e estereótipos.

Aluiz se descobriu travesti no ano de 2021 e desde então vem lutando para ser respeitada e valorizada na música
Aluiz se descobriu travesti no ano de 2021 e desde então vem lutando para ser respeitada e valorizada na música |  Foto: Divulgação

"Esse processo de me descobrir foi muito natural, porque eu me enxergava como uma coisa, mas a partir de um momento eu senti que não me encaixava mais e comecei a pesquisar e me entender. Depois de 2021 eu me descobri travesti, mulher trans, mas nunca vejo a necessidade de passar por esse processo de me assumir para as pessoas. Não gosto dessa ideia, porque não preciso assumir o que eu sou, isso é muito estranho. Apenas sou", afirmou a cantora.

"Ser travesti e preta é muito difícil né, esses atravessamentos eu tenho desde sempre, muito antes de entender esse lugar que estou, que sou. Mas comecei a perceber o preconceito na diferença do tratamento mesmo, as vezes em eventos que a gente vai e você vê que a presença de certas pessoas é marcante só por ser uma pessoa padrão e no meu caso, eu sempre preciso fazer o dobro, o triplo pra ser notada e respeitada", declarou Aluiz.

Preconceito e adversidades

Em abril do ano de 2022, Aluiz passou por uma situação de discriminação durante um trabalho em São Gonçalo, caso esse que a marcou profundamente e hoje corre em processo na Justiça.

A cantora estava junto de duas amigas, uma travesti e uma cisgênero, enquanto realizavam um ensaio fotográfico perto de um shopping, quando precisaram fazer uma troca de roupa para ir até outros locais para finalizar o trabalho.

Foi então que Aluiz e suas amigas entraram no banheiro feminino do shopping e perceberam movimentações estranhas de algumas pessoas que queriam que elas fossem para outro banheiro.

"Fomos vítimas de transfobia de pessoas que nem ao menos queriam entender a nossa situação, passamos por uma humilhação e isso acontece recorrentemente, são pessoas que não tem preparo para lidar com a diversidade. No mundo que a gente tá, as pessoas precisam de preparo. A gente não precisa ter prótese para ser ou nos identificarmos como mulheres trans, travestis. É uma caixa que a sociedade machista e transfóbica tenta enfiar a gente o tempo todo", declarou a artista.

Representatividade

Aluiz teve diversas influências musicais dentro da própria família, mas entre os artistas renomados no cenário musical, uma de suas maiores inspirações, a cantora Liniker, também é travesti, mostrando a importância da representatividade em todos os âmbitos.

"Liniker é uma cantora travesti que me inspira muito, pela qualidade vocal, presença e suas letras que são impecáveis. Ela foi, inclusive, a primeira mulher preta travesti a ganhar o Grammy Latino de melhor álbum", afirmou.

Próximos passos na música

No próximo dia 1 de dezembro, a cantora Aluiz participa do Sarau LiRa, no Rio de Janeiro. O evento, que acontece às 17h no Sesi Firjan, no Centro do Rio, será a primeira oportunidade da artista de apresentar suas músicas autorais.

"É um evento cheio de artistas incríveis do Rio, estou muito ansiosa. Vai ser o primeiro show que vou cantar minhas músicas autorais e também misturei músicas do meu estilo Hip-hop R&B", afirmou.

Aluiz se apresenta no Sarau LiRa no próximo dia 1 de dezembro
Aluiz se apresenta no Sarau LiRa no próximo dia 1 de dezembro |  Foto: Divulgação

Aluiz divulga seu dia a dia e projetos musicais através do seu Instagram e também no YouTube.

Sob supervisão de Marcela Freitas 

Matérias Relacionadas