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Eles se viram nos 30: ambulantes revelam rotina de vendas nas ruas de Niterói

Com 10 milhões de desempregados no país, ambulantes se reinventam a cada dia

relogio min de leitura | Escrito por Sofia Miranda | 18 de abril de 2023 - 14:25
Oferta no sinal é diversificada
Oferta no sinal é diversificada -

Marketing, bom condicionamento físico e capacidade de negociação. Esses três requisitos poderiam facilmente apresentar o funcionário de uma grande empresa. Mas se unirmos a resiliência descreveremos muitos trabalhadores das ruas, que espalhados pelas grandes metrópoles, principalmente, nos sinais de trânsito, se destacam entre os carros e precisam ‘se virar nos 30’ para transformar uma oferta em venda.  

Cristiano, vendedor há 20 anos na região
Cristiano, vendedor há 20 anos na região |  Foto: Filipe Aguiar
 

Quem passa pelos sinais da Marechal Deodoro, em Niterói, frente ao Mercado Guanabara já se deparou com alguns dos ambulantes que vendem uma variedade de coisas, que vão desde pano de prato até acessórios para carros. E nos poucos segundos, após fechar os sinais, que os vendedores autônomos precisam apresentar toda a sua mercadoria. Isso faz surgir alguns questionamentos: ‘’será que ele consegue pegar todas as mercadorias antes do sinal abrir?’’ ‘’Como é que ele consegue distribuir as mercadorias sobre os carros, recolher e ainda pegar o dinheiro?’’ ‘’Será que eles conseguem tirar algum sustento desse trabalho?’’. O fato é que uma parcela dos trabalhadores informais estão na atividade há anos, e não sustentam só a si, como possuem também outros dependentes dessa atividade. 

Shirley, ambulante há 10  anos e apelidada como ''Rainha dos Panos''
Shirley, ambulante há 10 anos e apelidada como ''Rainha dos Panos'' |  Foto: Filipe Aguiar
 

Imersos sob o sol quente, dias de chuva, e também rejeição, os ambulantes continuam com a rotina de trabalho, construída de forma que consigam vender suas mercadorias a tempo antes que a luz verde sinalize nos semáforos.  

‘’Eu saio de casa às 6h da manhã e só saio daqui às 16h. A gente tem que correr atrás ‘né’? O motorista chamou a gente vai sem medo e coloca Deus na frente acima de tudo.’’ conta Shirley, vendedora de pano de chão há 10 anos e também popularmente conhecida pelos colegas de trabalho e pessoas que trafegam pela região como a ‘’rainha do pano’’.  

Mesmo acostumados com o tempo para vender e com a tarefa sacrificante, alguns ambulantes relatam que algumas vendas são perdidas pela falta de tempo para recuperar a mercadoria, nesses momentos, é difícil se virar com a correria nos sinais, conforme explica Cristiano, vendedor de bananada e amendoim, que trabalha a pouco mais de 20 anos no sinal da rua Marechal Deodoro.  

"Às vezes não é nem de má fé do cara não, mas o sinal abre. Com medo de levar uma multa a pessoas puxam o trânsito e levam a mercadoria’’.

Luis Claudio, vendedor de produtos veiculares
Luis Claudio, vendedor de produtos veiculares |  Foto: Filipe Aguiar
 

 País registra 38,9% de informalidade em janeiro de 2023 

Além do preparo físico e mental para a rotina exaustiva, a violência e o desrespeito são fatores frequentes no cotidiano dos ambulantes. ‘’A gente, muita das vezes, é muito humilhado, né? Tem muita gente que não aceita, levanta o vidro no nosso rosto, entendeu? Mas não tem jeito, a gente tem que trabalhar né. Muita gente passando fome, muita gente sem ter o que comer, a gente tem que correr atrás (sic)." conta Shirley, a rainha dos panos, dona de uma enorme simpatia.  

Para aceitar essas e outras situações, os trabalhadores informais levam em conta um fator que se sobrepõe a qualquer outro: a necessidade. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país registrou uma taxa de 38,9% de informalidade em janeiro de 2023. O perfil dos trabalhadores informais de subsistência possui um perfil específico: homem, negro e de baixa escolaridade. Sendo a principal fonte de renda dos vendedores, as situações se tornam sustentáveis quando o objetivo é levar para casa o pão de cada dia.  

Dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indicam que atualmente, o país conta com 10,1 milhões de pessoas desempregadas, o cenário viabiliza a informalidade como uma opção possível.  

Shirley, ambulante há 10  anos e apelidada como ''Rainha dos Panos''
Shirley, ambulante há 10 anos e apelidada como ''Rainha dos Panos'' |  Foto: Filipe Aguiar
 

‘’Vivo disso, somente disso. As vendas variam muito. Tem dias que tiro R$100 em outros  temos vendas melhores’’ conta Shirley, que sustenta seus dois filhos há dez anos com as vendas dos panos.

Hoje um vendedor ambulante ganha em média R$ 1.528,00 no mercado de trabalho brasileiro para uma jornada de trabalho de 43 horas semanais.

As informações são de acordo com pesquisa do Salario.com.br junto a dados oficiais do Novo CAGED, eSocial e Empregador Web com um total de 4.036 salários de profissionais admitidos e desligados pelas empresas no período de Fevereiro de 2022 a Janeiro de 2023.

 A rentabilidade das vendas varia de acordo com os produtos vendidos. ‘’Com vendas a gente trabalha com tudo, é do momento entendeu? No momento é chocolate, acessórios de carro, frutas. Aqui não é certo não, se entrar uma mercadoria melhor, tá vendendo? A gente vai vender”, disse Cristiano.  

 O ambulante, também explica que a frequência em que estão nos sinais também ajuda na hora das vendas. ‘’Tem cliente que já me conhece, todo dia no mesmo sinal. É matar um leão por dia”, finalizou.  

  Estagiária sob supervisão de Marcela Freitas*

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