Menino gonçalense apaixonado por ônibus sonha em conhecer garagem da Mauá
Morador do Portão do Rosa tem Transtorno do Espectro do Autismo e se apaixonou por linha de ônibus

Usar o transporte público não é exatamente a parte favorita da rotina de muitos gonçalenses, mas para o pequeno Gabriel Vidal, de 8 anos, pegar um ônibus é motivo de muita alegria. O morador do bairro Portão do Rosa é completamente apaixonado por ônibus e tem como um dos principais sonhos da vida uma meta inusitada: conhecer a garagem da Viação Mauá e trabalhar lá quando crescer.
Os pais do menino, que tem Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), contam que não sabem muito bem quando a paixão pelo coletivo começou. “Ele sempre gostou muito de carrinho, caminhão de brinquedo. Depois de um tempo, começou a gostar mais de ônibus. E especificamente os da Mauá”, explica o cozinheiro Diogo Vidal, de 38 anos, pai de Gabriel.
A mãe, Luciana Abreu, de 36 anos, especula que o gosto tenha começado com a observação dos veículos na rua. “Quando a gente começou a levar ele para a terapia, ele prestava muita atenção nos ônibus na rua e criou essa paixão”, ela relembra.
Essa paixão é expressa pelo pequeno através de diversos desenhos de ônibus que ele faz quase todos os dias e espalha por todos os cantos da casa. “Tem muita coisa. É ônibus na cozinha, no banheiro. São muitos desenhos, tivemos até que conversar com ele para tirar alguns do caminho”, relata o pai.

O amor pelos ônibus é tanto que o pequeno prefere nem comentar sobre. Enquanto os pais contam sobre sua paixão, ele aguarda ansiosamente o fim da conversa para poder ir no portão de uma garagem de ônibus no Boaçu, próximo a sua residência. “Vamos lá ver”, ele pede, sem esconder a antecipação.
Apesar disso, ele nunca entrou no espaço onde os veículos de sua viação favorita ficam estacionados. Por vezes, ele só passa por perto, no portão do local e observa de um fresta os ônibus. Outro de seus passeios prediletos é apenas sair por aí no transporte público. “Às vezes eu pego ele e vamos de ônibus só para sair por aí, passear”, conta Diogo.
O dia a dia da família é de bastante correria. Além de Gabriel, o casal também tem o pequeno Bento, recém-nascido. Mesmo antes da chegada dele, a vida deles tem envolvido uma série de adaptações desde o diagnóstico do primeiro filho, que veio aos 4 anos.
Entender as demandas e desafios de pai e mãe de uma criança do espectro autista não foi nada fácil no início. “Eu e minha esposa passamos muitas noites na sala aqui chorando, nos perguntando como fazer porque não sabíamos como ia ser”, revela o pai. Luciana complementa: “É um universo novo. Tem muita coisa que não dá para a gente entender, a gente vai se adaptando”.
Aos poucos, eles foram compreendendo que a única diferença de Gabriel é que ele enxerga o mundo de uma maneira diferente, com mais imaginação e atenção. “Ele tem uma percepção incrível. Ele presta atenção em uns detalhes, às vezes, que a gente nem percebeu”, explica a mãe.
E, no tempo dele, as coisas foram se acertando e hoje o pequeno já superou muitos dos principais desafios dos primeiros anos após o diagnóstico. “A gente insistiu em algumas coisas, e teve muita paciência. Com o autismo, tem que ter paciência. Hoje em dia, ele vai ao banheiro sozinho, pega o que precisa na geladeira sozinho sem problemas”, comemora Diogo.

Os ônibus, protagonistas das muitas ilustrações e mesmo dos conteúdos que ele assiste na internet, ajudaram Gabriel a se expressar e a se divertir com as coisas. Para celebrar isso, a família escolheu presentear ele, no último Natal, com uma réplica de um pequeno veículo da linha ‘422 - Portão do Rosa x Niterói’, a favorita do pequeno.
“Minha esposa conseguiu contato de uma pessoa lá no Rio que faz essas miniaturas. Ele entregou até antes do Natal. A gente falou para o Gabriel escrever uma cartinha, pedindo para o Papai Noel trazer um ônibus”, conta o pai. Agora, a réplica do coletivo se tornou um de seus brinquedos favoritos.
Para o aniversário dele, os pais já planejam outro presente parecido, adianta Diogo: “No aniversário, a gente vai tentar fazer um da ABC. Ele tem essas prediletas, mas conhece todas as linhas, todas as empresas. É incrível”.
