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Familiares de crianças do espectro autista comentam importância de fogos de artifício silenciosos

Barulho ocasionado pela queima dos fogos pode provocar crises em pessoas com TEA

relogio min de leitura | Escrito por Felipe Galeno | 30 de dezembro de 2022 - 14:02
Segundo especialista, crises ocasionadas por sensibilidade ao barulho podem ser perigosas
Segundo especialista, crises ocasionadas por sensibilidade ao barulho podem ser perigosas -

A tradicional queima de fogos, que costuma representar alegria para diversas famílias durante a virada do ano, acaba sendo motivo de tristeza para as famílias de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso porque, para alguns deles, o barulho dos estouros pode acabar desencadeando crises severas e angustiantes.

A analista comportamental e gerente de terapia ABA do Grupo Conduzir, Larissa Aguirre, explica que o estampido pode ter um efeito amplificado para algumas crianças do espectro. "No transtorno, é bastante comum que haja uma hipersensibilidade sensorial. Isso significa que fogos ou outros barulhos provocam uma sobrecarga dos sentidos, ocasionando, assim, uma instabilidade emocional e comportamental bastante importante", ela conta.

Esses momentos de instabilidade pode ter diversos efeitos na pessoa com autismo; de um simples desconforto até choro, desmaio e outros comportamentos perigosos. "Movimentos estereotipados também podem acontecer, sendo movimentos motores repetitivos ou até movimentos que podem acarretar em danos físicos ao indivíduo, como se arranhar, se bater, se morder", alerta Larissa.

A niteroiense Juliana Caiaffa, de 43 anos, conhece bem essas reações. Mãe de três crianças com autismo, ela conta que nenhum de seus filhos costuma apresentar comportamento hipersensível ao som. Apesar disso, ela já presenciou ocasiões em que pode ver o tamanho do dano que um barulho alto e inesperado pode causar a outras pessoas com TEA.

Juliana é mãe de três pequenos com TEA: Nina, de 11 anos, Julia, de 4, e Renato, de 2
Juliana é mãe de três pequenos com TEA: Nina, de 11 anos, Julia, de 4, e Renato, de 2 |  Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
  

“Já vi uma situação de o meu filho estar chorando e uma menininha, que tem uma sensibilidade severa, cair no chão de tanta dor que ela sentiu ao ouvir. As pessoas não tem noção do mal que o barulho faz para uma criança autista com sensibilidade. É uma dor física mesmo que as crianças sentem”, ela comenta.

Uma das estratégias que vem sendo adotada em diversas regiões do país para amenizar os problemas que os ruídos dos fogos podem causar é a realização da queimas com fogos silenciosos ou de barulho reduzido. Diversas capitais, como Belo Horizonte, Curitiba e Macapá, proibiram a emissão de fogos de artifício que fazem barulhos.

No estado do Rio de Janeiro, a capital também planeja restringir o barulho durante a queima a partir do ano que vem. Já em Niterói, a expectativa é de um Réveillon mais silencioso já esse ano. Em janeiro, o município aprovou uma lei que proíbe o manuseio e soltura de artefatos pirotécnicos que produzam efeito sonoro ruidoso.

Para os pais de pequenos com TEA, essas mudanças são sinais positivos. A moradora de Niterói Priscila Valentin, de 32 anos, espera que, com os fogos silenciosos, ela possa assistir futuras queimas junto com o o filho Murilo, de 8, que possui sensibilidade aos ruídos. "Acredito que essa queima de fogos sem sons torna aceitável para ele a ida até a parte externa de casa, na varanda, para ver a queima de fogos - o que ajuda toda a família a poder acompanhar a queima de fogo com a criança junto, sem desencadear uma crise", afirma a mãe.

Mãe do Murilo, de 8 anos, espera que tendência de queima de fogos silenciosos continue nos próximos anos
Mãe do Murilo, de 8 anos, espera que tendência de queima de fogos silenciosos continue nos próximos anos |  Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
  

Mesmo com essas medidas, as comemorações de ano novo ainda podem trazer barulhos hostis aos ouvidos de crianças com hipersensibilidade. Larissa Aguirre reforça que é sempre importante que responsáveis de menores que enfrentam a questão se preparem para o período.

"Os pais podem antecipar e explicar como serão os eventos de final de ano, que tipo de barulho vai ter, qual será o volume do barulho. Outro ponto importante é que o filho esteja em terapia ABA, intervenção ABA e em integração sensorial com supervisão. Essas terapias combinadas amenizam a hipersensibilidade. Durante os eventos, também, é importante o acolhimento. E também é possível utilizar, como recurso para amenizar o sofrimento, fones de ouvido", aconselha a especialista. 

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