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Flordelis é condenada a 50 anos pela morte de ex-marido

Em um dos julgamentos mais longos do Estado do Rio, ex-deputada federal e parte dos filhos foram julgados durante sete dias pela morte do pastor evangélico Anderson do Carmo, em Niterói, em 2019

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 13 de novembro de 2022 - 08:16
Ex-deputada foi condenada a mais de 50 anos
Ex-deputada foi condenada a mais de 50 anos -

Passados quase três anos e cinco meses do assassinato, a tiros, do pastor Anderson do Carmo, na luxuosa casa em que vivia com a mulher, a então deputada federal e líder evangélica Flordelis, em Pendotiba, área nobre de Niterói,  em 16 de junho de 2019,  o caso chegou ao fim, nesse domingo (13). Após uma verdadeira 'maratona' de sete dias, um dos mais longos julgamentos da história policial fluminense, o Conselho de Sentença do Tribunal do Juri de Niterói condenou Flordelis, que recebeu pena de 50 anos e 28 dias de prisão pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio (por tentativas de envenenar a vitima), uso de documento falso (pelo plano de uma carta fraudada) e associação criminosa armada.

Além da pastora, foi condenada sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues. Ela recebeu pena de 31 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de homicídio, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Os outros três réus - Marzy Teixeira, André Luiz de Oliveira e Rayane dos Santos - foram absolvidos. O juri foi composto por sete moradores de Niterói, quatro homens e três mulheres, que não necessariamente têm formação jurídica.

Nesse domingo (13), o caso  teve seu desfecho, em uma trajetória que envolveu investigações municiosas da polícia e da justiça, com a revelação de escândalos em série, dentro da própria casa em que viviam Anderson e Flordelis, em uma família numerosa de 55 filhos,  a maioria adotivos. 

Flordeslis e Anderson construíram, juntos, um 'império religioso e político
Flordeslis e Anderson construíram, juntos, um 'império religioso e político |  Foto: Divulgação
  

Nos bastidores da justiça brasileira, já se dava como  certa a condenação de Flordelis, uma mulher negra e pobre, oriunda de uma comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que junto com Anderson, conseguiu, como humilde líder evangélica, chegar, em alguns anos, aos mais altos escalões religiosos e políticos no país. Em ascenção, montou a própria igreja, o Ministério Flordelis, e fez de São Gonçalo, a partir da déca de 2000, a sua base de trabalho, chegando facilmente à Câmara de Vereadores da cidade, graças aos votos numerosos de seus seguidores relligiosos, alguns anos mais tarde, em um trajetória que foi coroada de êxito, como a eleição para deputada federal, pelo PSC, em 2018. No auge do poder, a pastora, um autêntico fenômento eleitoral, àquela altura do acontecimentos, já tinha como certo o plano de se eleger prefeita de SG, num futuro breve, quando a execução do pastor, mudou bruscamente seus rumos de sucesso. 

De investigada no caso, ainda em 2019, até a prisão, em agosto de 2020, a pastora e cantora gospel foi dos céus ao inferno - perdeu o mandato na Câmara dos Deputados e viu se tornarem públicos uma sucessão de escândalos, a começar pelos motivos que a polícia encontrou ao longos das investigações para justificar o crime, que teria ela não apenas como participante, mas também como mandante, num macabro 'plano de morte' elaborado junto com os filhos mais próximos, dentro da própria casa em que todos viviam.

Os investigadores da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DGNISG) chegaram a conclusão de que o pastor, um homem extremente centralizador e ferrenho controlador do império conquistado do por Flordelis,  já não era bem visto naquela realidade que se construiu. Sua execução a tiros, na garagem da casa, após sair para jantar com ela, seria, segundo as investigações, o desfecho de toda a trama, em que os envolvidos tentaram, sem sucesso, sustentar a hipótese de que o pastor fora morto em uma invasão do imóvel e tentativa de assalto. 

Ao longo do caso, a opinião pública acompanhou, estarrecida, detalhes da investigação, que mostravam que a luxuosa casa em Pendotiba não era propriamente um 'castelo de flores', e sim um um local de divergências graves, em que a disputa  familiar - num enredo de 'cobiça' e poder pelo controle sobre tudo que fora constrído pelo casal- teria sido o motivo do crime. Os investigadores foram fundo no trabalho de apuração, trazendo à tona até casos de relações afetivas íntimas na própria família e até abusos sexuais. Particulatridades à parte, o Tribunal do juri, ao dar a sentença, considerou a existência de provas robustas e concretas no veredíto final contra Flordelis,, que ficou inconsolável ao ouvir sua pena.      

Julgamento - O julgamento de Flordelis, três filhos e uma neta pela morte de Anderson do Carmo entrou, nesse sábado (12), no sétimo dia. Defesa e acusação realizam os debates, penúltima etapa do processo e última antes dos jurados decidirem pela absolvição ou condenação dos réus. Na abertura dos debates da defesa, a advogada de Flordelis exibiu um vídeo afirmando que o assassinato de Anderson do Carmo foi um plano de Simone dos Santos e Flávio dos Santos, filhos biológicos da pastora.

Juristas acreditam em condenação
Juristas acreditam em condenação |  Foto: Div ulgação
 

Além da pastora, foram julgados neste juri André Luiz Oliveira, filho afetivo que foi o primeiro interrogado neste sábado; Marzy Teixeira, filha afetiva; Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da pastora; e a neta Rayane Oliveira. Flávio dos Santos já foi condenado por ter sido o executor do assassinato. Ao fim da primeira fala, a defesa pediu a absolvição de todos.

Defesa - Os advogados sustentam que a motivação do crime não foi poder e dinheiro, como afirma a denúncia do Ministério Público. A advogada Janira Rocha alegou que os abusos sexuais é que motivaram o assassinato e afirmou que a comprovação de que eles ocorreram é que duas testemunhas de acusação admitiram que havia abusos na casa. Janira ainda citou, em sua sustentação, exemplo de mulheres famosas que demoraram anos a denunciar casos de estupro, como Hebe Camargo e Xuxa Meneghel.

Flordelis disse não saber quem matou Anderson

Apesar do que foi dito no início da apresentação da sua defesa, mais cedo ao ser interrogada, Flordelis negou saber quem matou Anderson do Carmo. A ex-deputada respondeu às perguntas apenas da defesa e dos jurados. A advogada Janira Rocha conduziu o interrogatório e perguntou quem é o autor do homicídio do pastor Anderson do Carmo, marido de Flordelis.

"Eu não posso acusar ninguém. Não estava presente no local, não vi. Não posso afirmar",  disse a pastora. Apesar de não saber quem matou Anderson, Flordelis disse que a motivação foram os supostos abusos:

"É muito difícil pra mim falar, mas foi a ciência, os abusos. Os abusos na minha casa" disse a pastora.  "Eu não tinha conhecimento. Eu amava meu marido. Ele era tudo para mim, era minha vida. Houve desconfiança uma única vez, com minha filha Kelly.

A defesa rebateu as provas do suposto envenenamento sofrido por Anderson do Carmo. Ao exibir as buscas na internet de Marzy e Simone por cianeto, o advogado Rodrigo Faucz afirmou que o MP não conseguiu comprovar a data que as buscas foram feitas. A defesa também pediu a absolvição de Flordelis e dos demais réus por todos os crimes que eles respondem. A defesa alegou que a motivação do crime foram os supostos abusos sexuais e que Anderson morreu de forma instantânea, apesar dos diversos disparos que o atingiu.

"A acusação é dissociada com a realidade probatória. Seja por conta dos abusos, seja devido às ausências de provas, a defesa pede que a absolvam. Alguém para ser condenado, precisa ter provas fortes, mas não é o caso", falou Faucz ao juri.

Julgamento chegou ao sétimo dia
Julgamento chegou ao sétimo dia |  Foto: Divulgação
  

Reviravolta - Ainda no sábado, A filha biológica de Flordelis dos Santos de Souza, Simone dos Santos Rodrigues, voltou atrás e não confessou ter sido a mandante da morte do pastor Anderson do Carmo, seu padrasto. A versão apresentada durante o interrogatório é diferente da que ela vinha sustentando até então. Ela foi a última ré a ser ouvida no sexto dia de julgamento do caso, no Tribunal do Júri de Niterói. Simone alegou que a morte de Anderson foi motivada por relatos seus a seu irmão, Flávio dos Santos Rodrigues, sobre abusos sexuais do pastor contra ela e uma de suas filhas.

MP pediu a condenação - Durante a noite, o Ministério Público e a defesa dos réus fizeram os últimos debates antes de o Conselho de Sentença decidir se os acusados seriam ou não condenados ou absolvidos. Além do envolvimento na morte do pastor Anderson, uma das acusações que os réus enfrentaram era sobre uma tentativa de envenenamento do pastor antes de seu assassinato, o que também foi negado pela ex-deputada. Em uma mensagem enviada por um telefone da filha, Flordelis teria dito para dar um “arrozinho” para Anderson.

Nota - Após o julgamento, o advogado Rodrigo Faucz, em nome da equipe que fez a defesa de Flordelis, emitiu uma nota oficial, informando que vai recorrer da decisão. A íntegra da nota é a seguinte: "Infelizmente, apesar de não haver provas, Flordelis foi condenada pelo homicídio do marido. Entendo que a condenação foi indevida, eis que certamente se deu pela pressão da opinião pública formada desde o delito.

Considerando que ocorreram diversas nulidades absolutas no decorrer do julgamento, informo que recorrerei da sentença, buscando que ocorra, futuramente, um julgamento justo. Entretanto, estamos muito satisfeitos com a absolvição de todos os crimes em que nossos outros clientes foram julgados".

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