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Morre o músico Ilton Mendes, fundador do Candongueiro

O artista criou uma das rodas de samba mais importantes e conhecidas de Niterói

relogio min de leitura | Escrito por Renata Sena e Lara Neves | 03 de outubro de 2022 - 12:37
Ilton Mendes já foi citado como a 'alma do samba em Niterói'
Ilton Mendes já foi citado como a 'alma do samba em Niterói' -

"Hoje somos folha morta. Metais em surdina. Fechada a cortina. Vazio o salão". Como os versos de uma das músicas mais conhecidas do samba, amanheceu o principal reduto dos sambistas de São Gonçalo e Niterói. Com a notícia da morte de Ilton Lopes Mendes, fundador do Candongueiro, aos 77 anos, a primeira segunda-feira (03) de outubro amanheceu cinzenta e  sem a alegria do som dos tantãs,  do cavaco e, principalmente, do querido pandeiro de Ilton, que soou por 32 anos nas rodas de samba do Candongueiro. 

O portão de madeira pintado de branco, sem nenhuma placa, situado na Estrada Velha de Maricá, apesar da discrição, não consegue ser só mais um, em meio aos portões vizinhos. Conhecido por ser o berço das melhores e mais autênticas rodas de samba da região, o Candongueiro ficou famoso, mesmo sem querer e quem passa em frente ao número 1.154 sabe que é ali a 'senzala'  dos sonhos, onde o choro é somente o do cavaco. 

Ilton Mendes criou, na década de 70, o Candongueiro como espaço para receber seus amigos do samba. Com rodas de samba que aconteciam de 15 em 15 dias, sempre aos sábados. 

Com seu pandeiro nas mãos, Ilton já recebeu nomes como Mônaco, Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Sombrinha, Toninho Geraes, Diogo Nogueira, Xande de Pilares e muitos outros nomes de peso no mundo do samba.

O músico era apaixonado por samba e criou o Candongueiro
O músico era apaixonado por samba e criou o Candongueiro |  Foto: Reprodução
 

"No final da década de 80 eu o conheci, através da disputa de um samba enredo. Depois descobrimos que éramos quase vizinhos. Mas somos de famílias de músicos e sempre nos encontrávamos pela região. É uma grande perda pois o Candongueiro é a raiz do samba. O Candongueiro foi um embrião para que as rodas de samba se tornassem esse grande movimento cultural pelo Brasil afora, e até pelo exterior. Isso a gente deve ao Ilton pelo grande produtor cultural, músico, percussionista. A classe artística e o povo do samba deve muito a ele", disse o músico e compositor Serginho Soares.

Ilton tocou com os mesmos músicos por mais de vinte anos

Juntos eles formavam a roda de samba da casa, e estavam sempre prontos para receberem seus convidados. Mas, no samba dele, todos eram bem vindos.  Em uma ocasião, ele chegou a comparar a roda com o jardim de infância, onde se perdia o lugar quando largava o instrumento. "Se for ao banheiro, quando voltar já tem alguém tocando o pandeiro em meu lugar", falou brincando, durante uma entrevista. 

Apesar da tristeza, a família Candongueiro garante que o trabalho e o legado de um dos maiores entusiasta do samba irá continuar. 

"Estranhamente, num dia como hoje, lá se vai um dos maiores defensores da bandeira do samba. Despretensiosamente  criou uma das casas de samba mais importante do Brasil, o @candongueiro.oficial. A família candongueiro há de tocar o barco, e segurar essa bandeira. Meus sentimentos, dona Ilda e amigo @ivanlbmendes. Vai na paz, meu irmão Ilton.", publicou no Instagram o músico Alexandre Marmita.

A causa da morte e as informações de sepultamento não foram divulgadas.

E assim, mais uma vez, os versos do samba representam a partida de Ilton e a missão que ele deixou para quem seguir cuidando da casa de samba mais bamba da região.

"Mas iremos achar o tom. Um acorde com lindo som. E fazer com que fique bom. Outra vez o nosso cantar. E a gente vai ser feliz. Olha nós outra vez no ar. O show tem que continuar".

O show tem que continuar. Música de Montgomerry Ferreira Nunis / Arlindo Domingos Da Cruz Filho / Luiz Carlos Da Vila.

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