'Briga boa' no samba: Porto da Pedra e União da Ilha largam na frente na disputa por título na Série Ouro
Sossego e Cubango também honraram as tradições de boas apresentações, mas detalhes podem afastá-las do título. Oito agremiações concluem desfiles da Série Ouro na noite dessa quinta-feira (21)
Participaram da cobertura especial:
Ana Carolina Moraes, Ari Lopes, Sérgio Soares e Tiago Soares - Reportagens e edição
Chefia de Reportagem: Ari Lopes, Cyntia Fonseca, Marcela Freitas, Sérgio Soares e Tiago Soares
Chefia de fotografia: Kiko Charret
Fotos: Layla Mussi
Samba suor e lágrimas. A noite dessa quarta-feira (20) foi de emoções fortes na retomada dos desfiles oficiais das escolas de samba no Carnaval fora de época do Rio de Janeiro. Depois que a pandemia do coronavírus fez as autoridades suspenderem a festa do Momo em 2021, sete escolas de samba da Série Ouro (antigo Grupo de Acesso), deram a largada na disputa, que esse ano promete ser acirrada. Porto da Pedra, União da Ilha sairam na frente, com desfiles muito aplaudidos pelo público e elogiados pela crítica, em uma Marquês de Sapucaí revigorada, com melhorias de estrutura e nova iluminação, que custaram cerca de R$ 10 milhões. Veio também de Niterói uma boa surpresa, com a Sossego, em uma apresentação imponente e emocionada, mas com pequenos detalhes que devem afastá-la do título. Mas o que deveria ser apenas alegria se transformou em grande tristeza, quando um carro alegórico da Em Cima da Hora, primeira a desfilar, atropelou a esmagou as duas pernas de uma adolescente de treze anos. A crinça permanece em estado grave e perdeu uma delas. Para a realização do trabalho de perícia, houve atraso de mais de duas horas e meia, fazendo com que a festa terminasse no início da manhã.
Mas a noite também reservou outras surpresas no palco maior do samba, como por exemplo, a apresentação da Acadêmicos do Cubango, que foi para a Sapucaí mergulhada, com incertezas se manteria o alto nível dos últimos anos, quando desfilou entre as primeiras colocadas, construindo a imagem de sempre ser favorita a chegar à elite, algo que nunca aconteceu na história da verda e branca da Zona Norte da cidade. Com a diretoria 'rachada' o mundo do samba foi 'sacudido' por uma onda de boatos sobre supostos problemas na preparação escola, a saída de Patrícia da presidência e até que a agremiação não teria condições de desfilar.
Se os boatos não emplacaram, a Cubango mostrou uma apresentação digna, mas os problemas nas alegorias, a exemplo do que houve no ano passado, devem deixar mais longe o sonho do título. Mas se a primeira noite de desfiles foi de emoções fortes, o mesmo deve se repetir nessa quinta-feira (21), quando outras oito agremiações vão se apresentar na Sapucaí. São elas: Lins Imperial, Inocentes de Belford Roxo, Estácio de Sá, Santa Cruz, Unidos de Padre Miguel, Vigário Geral, Império da Tijuca e Império Serrano. A seguir, confira como foi a primeira noite de desfiles na Série Ouro, com análise de cada apresentação na Marquês de Sapucaí.
Em Cima da Hora - A Em Cima da Hora abriu os desfiles da Série Ouro. A escola apresentou o enredo “33 – Destino Dom Pedro II”, uma reedição do Carnaval de 1984. O desfile foi aberto com irreverência e alegria, mas houve problemas de evolução, com 'buracos' aos longo do desfile. A harmonia também teve problemas, pois muitos componentes não cantaram o samba, considerado um dos melhores da história da escola. Deverá brigar por posições intermediárias, mas há quem ache que há risco de queda.
Cubango - A verde e branca levou para a Sapucaí o enredo “O Amor Preto Cura: Chica Xavier, a Mãe Baiana do Brasil”, assinado pelo carnavalesco João Vitor Araújo. Mesmo após o desfile apontado como um dos melhores da noite e tecnicamente elogiado pela crítica especializada, com ressalvas a problemas nos carros, o que deve tirar pontos da preciosos. Mesmo com uma apresentação digna, fantasias luxuosas e canto forte, a escola veio menor em relação aos anos anteriores, mas mostrou a velha garra.
Crise - A crise na escola começou por causa de desentendimentos de parte da diretoria com a atual presidente, a ex-porta bandeira da agremiação, Patrícia Cunha, por causa da demora na entrega de fantasias compradas em algumas alas e o rítimo considerado por alguns demasiadamente lento na conclusão dos carros alegoricos no Barracão da escola, no Rio. Na reta final de preparação, a presidente, percebendo que a situação estava, de fato, atrapalhando o bom andamento dos trabalhos, afastou vários sambistas da diretoria, ato que foi respondido com uma 'chuva' de boatos nas redes sociais e falsas informações passadas à imprensa relativos à supostos problemas na escola e até a sobre a saída da gestora, que compareceu à Marquês de Sapucaí, mas por precaução, desfilou cercada por seis diretores.
Unidos da Ponte - a Unidos da Ponte trouxe para a Avenida o enredo Santa Dulce dos Pobres – O Anjo Bom da Bahia e mostrou a história da freira que virou santa. A escola de São João de Merirti apresentou um desfile irregular, alternando bons e maus momentos. Com problemas de evolução e erro na apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, atravessou a pista em 56 minutos, um a mais que o permitido no regulamento. A apresentação deve custar um lugar nas posições intermediárias.
Porto da Pedra - A Porto da Pedra foi a primeira arrancar os gritos de 'campeã' no Carnaval de 2022. E não era para menos. Com grande torcida nas arquibancadas e um samba contgiante, considerado um dos melhores entre as escolas da Série A em 2022, a escola confirmou por mais um ano, uma preparação muito organizada, construida nas gestão do presidente licenciado Fásbio Montibelo, atual vice presidente da Lierj, que tem mantido o 'Tigre' entre as primeiras colocadas todos os anos. O apoio da Prefeitura de São Gonçalo também permitiu um investimento maior. O próprio prefeito, Capitão Nelson, foi à Sapucaí pedir apoio à agremiação.
União da Ilha - Logo depois da Porto da Pedra, veio outra forte candidata ao título. A União da Ilha apostou na homenagem a Nossa Senhora de Aparecida, Padroeira do Brasil, no Carnaval de 2022, após queda para o acesso em 2022. Como herdou uma estrutura maior da edição anterior, pode trazer para a Sapucaí o alto nível do Grupo Especial. incendiou as arquibancadas com enormes e bem acabadas alegorias. Outro destaque positivo da apresentação foi a Comissão de Frente, que se dividiu em várias partes e não cometeu erros. Ao fim do desfile, a Ilha pecou na evolução e teve que correr para fechar o desfile com 54 minutos. A bateria sequer fez toda apresentação no último módulo, detalhe que pode tirar pontos preciosos.
Unidos de Bangu - Faltou luxo e organização no desfile em homenagem a Castor de Andrade, de autoria do carnavalesco Marcus Paulo. O atraso de mais de duas horas nos desfiles atingiu 'em cheio a escola, que entrou já com o dia raiando, o que tirou o impacto da iluminação dos carros. As alegorias e fantasias, aliás, com pouca qualidade e problemas de acabamento, foram os pontos negativos do desfile. A vermelha e branco da Zona Oeste terminou sua apresentação com 58 minutos, o que fará com que a escola seja penalizada em três décimos no julgamento oficial
Acadêmicos do Sossego - Com o enredo “Visões Xamânicas”, o Sossego encerrou o primeiro dia de desfile fechando a apresentação com 53 minutos, já com o dia claro, o que tirou o impacto na iluminação dos luxuosos e bem acabados carros alegóricos da escola. As alegorias aliás, com muito bom gosto na combinação de cores, foram o ponto alto da apresentação, embalada com entusiasmo no belo samba composto por Marcelo Adnet, Paulo Beckam, Rod Torres e cia. Detalhes em acabamento em uma das alegorias, ornamentada em bambu, e roupas diferentes nas fantasias de uma das alas devem tirar pontos preciosos e deixar a 'Lira' do largo da Batalha mais lonnge do título.