Família luta para provar à Justiça inocência de morador de SG
Ex-cadete do Exército pode ser mais uma vítima de prisão arbitrária por crime que não cometeu

Por Renata Sena e Daniel Magalhães
O jovem, negro, Caio Telles Guimarães, 20 anos, morador do Laranjal, em São Gonçalo, pode ser mais uma vítima de prisão arbitrária por um crime que não cometeu. Ex-cadete do Exército, onde serviu por um ano no Instituto Militar de Engenharia (IME), na Urca, Caio está preso desde o dia 22 de fevereiro, depois de ser reconhecido por uma pessoa que teve sua moto roubada durante um assalto.
Considerado pela família como um rapaz tranquilo, Caio queria seguir a carreira militar, segundo sua mãe, Rosangela Telles, de 60 anos. De acordo com ela, o filho foi preso por volta de 13h30, minutos depois de sair de casa para ajudar na mudança de um amigo. O jovem foi parado por policiais militares do 'São Gonçalo Presente', e foi apontado como o autor do roubo de uma moto na Rua David Campista, próximo à RJ-104, no mesmo bairro.
Segundo a Polícia Civil, Caio foi levado para a 74aDP (Alcântara) e autuado em flagrante, sob acusação de roubar uma motocicleta em frente a uma loja de autopeças no mesmo bairro onde ele mora, após ser reconhecida pelas vítimas. Porém, a família nega a versão e afirma que o jovem estava em casa no momento do assalto. De acordo com a mãe, às 13h, Caio estava com ela na sala de casa montando um currículo, e assim que finalizou foi para a rua debaixo ajudar um amigo a fazer sua mudança.
"Ele foi pego sem nada que ligasse ele a moto. Depois os policiais levaram a moto até ele. No local, a vítima mesmo disse não reconhecer ele, mas na delegacia a versão da vítima mudou", contou Rosângela. Imagens da câmera de segurança de uma residência que fica em frente à casa de Caio mostram o momento em que o rapaz sai às 13h21. O GPS do celular dele também mostra a distância percorrida por Caio.
A mãe dele ainda relata que pouco depois do filho sair de casa, alguém a chamou no portão para avisar que ele estava sendo detido por policiais. "Tenho absoluta certeza de que ele não cometeu esse delito, porque ele estava comigo no momento em que a vítima contou que havia sido roubada. Assim que eu soube, saí correndo, peguei o carro e fui até à 74ª DP (Alcântara). Quando eu cheguei lá, haviam várias testemunhas falando que meu filho era inocente", afirmou.
Ela ainda conta que o dono da moto roubada chegou à delegacia dizendo que não poderia reconhecer o autor do crime, pois assim que viu a arma teve medo e abaixou a cabeça. "O Caio quando foi preso não estava nem com a moto, e nem com arma, como pode ter dado tempo dele fazer isso que estão o acusando se o crime aconteceu às 13h, e às 13h20 ele estava saindo de casa?", questiona a mãe.
Ela também conta que em dado momento, alguns policiais levaram a vítima para o interior da delegacia e quando ele retornou, sua versão da história mudou, ele passou a dizer que Caio foi responsável sim pelo roubo de sua moto. Ela tentou questionar os policiais, porém eles pediram pra ela não se meter.
Rosangela ainda comentou que tanto ela como o filho foram tratados de uma maneira muito ruim na delegacia. "Ele foi agredido, foi forçado a entregar e abrir o celular na minha frente, sem direito a nada. O policial nos tratou muito mal. Ele me perguntava de forma irônica: 'esse aqui é seu anjinho, seu santinho?”.
Os policiais também questionaram Caio sobre uma cicatriz na barriga, se seria por conta de remoção de uma bala. Porém sua mãe explicou que foi uma cirurgia para retirada de parte do seu intestino por conta de uma infecção.
O advogado Douglas de Assis, da Comissão de Direitos Humanos da 8ª Subseção de São Gonçalo, que foi acionado para a defesa de Caio, disse que durante a abordagem, os PMs obrigaram o rapaz a desbloquear o celular e encontraram fotos do jovem acompanhado de outras pessoas. Em uma delas, ele aparece ao lado de um homem portando uma pistola. Já em outra foto, o próprio Caio é visto segurando um frasco similar ao utilizado.