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"Parabéns por destruir minha família, seu Aurélio", diz viúva de Durval, morto por vizinho na porta de casa em SG (vídeo)

Enterro foi marcado por indignação e protestos contra o racismo

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 04 de fevereiro de 2022 - 18:38
Emoção e revolta marcaram o sepultamento de Durval
Emoção e revolta marcaram o sepultamento de Durval -

"Parabéns senhor Aurélio, muito obrigada por destruir minha vida, a vida da minha filha e da minha família. Acabou com a vida dele por besteira", este é o desabafo da viúva de Durval Teófilo Filho, de 38 anos, morto pelo sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, após o militar assassinar o repositor com três tiros depois de o confundir com um criminoso. Esposa, familiares e muitos dos vários amigos de Durval foram ao Cemitério São Miguel, em SG, na tarde desta sexta-feira, para se despedirem do marido, pai de família e grande amigo que era o Durval. No local, mais uma vez o sentimento de indignação e inconformidade tomou o ambiente por conta da morte trágica do repositor, que saiu do Capote há 12 anos e decidiu morar em um condomínio no Colubandê para ter mais segurança.

As aproximadamente 200 pessoas presentes no local ressaltaram o quanto Durval era querido por onde passava, seja no local onde morava ou no ambiente de trabalho. Jarvas Martiliano, de 34 anos, por exemplo, era um dos melhores amigos de trabalho de Durval. Ele conta que o repositor, com quem sempre voltava junto pra casa em uma van fretada por eles e outros colegas de trabalho, era um exemplo de simpatia e generosidade.

"Excelente pessoa, sempre rindo, sempre brincando, sempre disposta a ajudar os amigos, enfim, sempre prestativo, uma coisa que eu aprendi muito com eles, acho que foi por isso que a gente se tornou amigo rápido, é o fato de ser muito prestativo, ser prestativo um com o outro, com colegas de trabalho.", disse Jarvas. "Nós éramos próximos não só dentro da empresa como fora dela, tanto que no dia do ocorrido aconteceu o de sempre, ele sentou do meu lado no banco da van, que eu separava pra ele, tudo normal e por volta de 1h30 da manhã recebo uma ligação da esposa dele e fiquei sem acreditar.", completou o amigo, que estava acompanhado de mais outros funcionários do mercado onde Durval trabalhava.

Joseph de Miranda, de 28 anos, é outro funcionário do mercado que trabalhava lado a lado com Durval. Ele destaca que Durval sempre foi um cara solidário e precavido, o que torna sua morte ainda mais difícil de aceitar. 

"Ele sempre foi um cara muito precavido, sempre evitou muita coisa, era um cara muito educado, tranquilo, brincalhão, ele tava sempre rindo, brincando com os outros, nunca ouvi ele falar um palavrão, sempre falava da filha e da esposa. É difícil aceitar."

Os amigos de trabalho e alguns familiares da vítima realizaram um protesto na capela e no cemitério e pediram para que o crime não fique impune. Eles protestavam segurando cartazes de "Queremos Justiça por Durval" e "Vidas Negras importam".

Os pedidos por justiça logo foram atendidos ainda antes do velório. Na audiência de custódia do sargento, marcada para a tarde desta sexta-feira, a prisão por homicídio culposo - quando não há intenção de matar - foi convertida em prisão por homicídio doloso, quando há intenção. No local, parentes já comemoram a decisão e disseram que agora possuem esperança de que justiça seja feita.

A frieza e o despreparo do sargento de Aurélio ao matar Durval foi algo que foi falado de maneira recorrente entre os amigos e familiares da vítima. Para eles, este é mais um caso que evidencia a normalização do racismo na sociedade brasileira 

"Ele é negro, mas morava no lugar há 12 anos, o outro morava lá há 2. Será que ele nunca viu ele lá. Se ele tivesse preparo ele gritava para parar, ia render, mas atirar? Ele atirou de dentro do carro. Deu um tiro, o garoto caiu e gritou, aí ele sai do carro e dá mais dois tiros. Isso aí é não ter intenção de matar? Será que ele é um militar preparado pra isso?", questionou o tio Jorge Luiz Gentil. "Ele mora há 12 anos lá, mora na primeira casa. Ele nunca viu meu sobrinho nesses 2 anos que ele mora lá? Aí vem dizer que confundiu com um bandido? Ele é um racista. Isso é racismo!", frisou o tio.

Ainda no sepultamento, a viúva de Durval disse que não vai perdoar Aurélio pelo crime que cometeu. Além disso, Luziane desmentiu as informações que dizem que Aurélio estaria prestando solidariedade à família e que a família do assassino estaria sendo solícita. Segundo ela, não foi feito contato algum por parte deles. "Eu só conheci ele no hospital e ele nem olhou pra mim, nem pediu desculpas. Até hoje não vi o Aurélio, não vi a esposa dele, até hoje ninguém ligou pra mim e ninguém foi até hoje na minha casa, afinal de conta somos vizinhos, nem isso e agora falar que está prestando assistência à minha família. Não estão prestando porque sumiram de lá.", disse a viúva. 

Relembrando

Durval Teófilo Filho, de 38 anos, foi morto na última quarta-feira (2) no Colubandê, em São Gonçalo, após seu vizinho, o sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, atirar três vezes contra ele. O militar disse que confundiu Durval com um bandido e atirou contra ele porque achou que seria assaltado. 

O sargento, que foi preso em flagrante, contou que estava chegando em casa, na Rua Capitão Juvenal Figueiredo, quando viu um homem se aproximar de seu veículo de forma rápida. O autor então, segundo relatou, efetuou um disparo, e depois outros dois. Após os tiros, ele viu que a vítima não estava armada. Para tal ato, ele alegou que o local é conhecido por roubo constantes.

Mesmo ferido, Durval teria dito que era morador do mesmo condomínio que o sargento, e, assim como ele, só estava tentando entrar em casa.

Abalado, o autor dos disparos socorreu a vítima e o levou para o Hospital Estadual Alberto Torres, também no Colubandê. Porém, a vítima não resistiu aos ferimentos.

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