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Covid - A vida de um enfermeiro na linha de frente há dois anos

Fabrício Ferreira fez plantão onde morreram dezenas de pessoas

relogio min de leitura | Escrito por Renata Sena | 26 de janeiro de 2022 - 16:09
Fabrício Ferreira fez plantão onde morreram dezenas de pessoas
Fabrício Ferreira fez plantão onde morreram dezenas de pessoas -

A chegada da variante Ômicron, do novo coronavírus, fez ressurgir a preocupação e o medo da doença que estavam diminuindo pouco a pouco no coração dos brasileiros, principalmente após a onda da variante Delta e com a forte queda de novos casos e mortes em consequência do vírus no fim de 2021. Entretanto, 2022 chegou e a pandemia 'reascendeu'.

Atuando na linha de frente na luta contra a Covid-19, desde o dia 16 de março de 2020, data em que a pandemia foi declarada, o enfermeiro Fabrício Ferreira do Valle, de 34 anos, conversou com o OSG sobre os desafios do período, a luta pela vida e fez um pedido aos profissionais e alerta a população.

No período onde os profissionais da saúde se mostraram mais do que essenciais, fomos ouvir o que esses profissionais passaram, e como todos podemos ajudar.

Fabrício, que há sete anos se dedica a saúde, atualmente trabalha em hospital, no atendimento da emergência, e é coordenador do Polo de Testagem da Covid-19 na Trindade. As duas funções colocam o profissional no contato diário com pessoas contaminadas. Nos últimos dois anos a morte virou rotina e a luta pela sobrevivência se tornou real.

Eu tive plantão onde perdemos mais 50 pessoas em um dia. Somos preparados para a morte, mas quando os números chegam a esse ponto, é desesperador Fabrício Ferreira do Valle
 

"Eu tive plantão onde perdemos mais 50 pessoas em um dia. Somos preparados para a morte, mas quando os números chegam a esse ponto, é desesperador. Eu tive uma paciente que me marcou muito, uma criança de três anos. Fizemos massagem cardíaca, tudo que pudemos, e ela morreu. Somente depois testou positivo para covid e a equipe inteira estava em risco, pois ainda vivíamos no período onde falávamos que criança não pegava a doença. E ela pegou, e morreu", contou o profissional.

Imagem ilustrativa da imagem Covid - A vida de um enfermeiro na linha de frente há dois anos
 

Fabrício, que também é professor de enfermagem, e tem uma escola de formação de técnicos de enfermagem, relembrou como a doença foi encarada no início.

"O não saber que foi o mais assustador. Quando você enfrenta uma doença que você conhece, a gente sabe o que tá vindo pela frente. Essa doença, no início, a gente sequer sabia como contaminava. Era tudo muito novo e desesperador. E nossa vida na saúde tem sido sempre batalhas. Antes, não sabíamos como nos proteger, depois ficamos sem material para nossa proteção, porque tudo foi acabando. Agora a luta é para conscientizar que as pessoas se previnam, usem máscaras e se vacinem", disse.

No auge da pandemia eu participei de equipes que precisavam decidir qual paciente intubar e qual deixar com risco de morrer, já que não tinha vaga para todos Fabrício
 

Fabrício ainda relembrou que chegou a comprar uma garrafa de álcool por R$50, para que pudesse fazer se higienizar ao chegar em casa. Para poupar o marido dos riscos, o profissional tirava as roupas na garagem e passava álcool no carro. Já a mãe, que tem asma, Fabrício fixou sem ver por mais de sete meses, com medo de que ela pudesse se contaminar.

"Não é fácil, mas foi a profissão que escolhi. Tem que ser feito com amor, com zelo. Quem tá ali, precisa de acolhimento", garantiu o jovem, que passa seu conhecimento em sala de aula e comemora ao ver seus alunos seguindo seu caminho de uma enfermagem mais humana.

"Sempre oriento meus alunos e, hoje meus colegas de trabalho aqui no centro de testagem. Quando a pessoa chega, ela tá nervosa, cansada, precisamos ser o apoio. E fico feliz em ver que estou sendo uma ponte de conhecimento e orientação. Vejo muitos seguindo essa orientação e me alegro".

Contudo, o profissional, que já testou positivo três vezes, sabe que nem sempre é assim. Fabrício, inclusive faz um apelo aos colegas de profissão e aos responsáveis pela área da saúde.

"O despreparo de alguns profissionais assusta um pouco. A gente hoje na linha de frente sente falta de profissionais mais treinados para atender quem chega contaminado em estado grave. É uma doença nova, mas a gente precisa saber enfrentar.

Muitas vezes, se o profissional não souber como fazer, ele pode complicar a vida de uma pessoa. Treinamento nessa área é fundamental. E muito amor pelo que faz", disse, acrescentando que sabe da dificuldade dos colegas.

"Ser enfermeiro não é uma tarefa fácil. A gente lida com a vida e com a morte o tempo todo. E a profissão que a gente escolheu. Mas, só de olhar para uma pessoa recuperada, a gente vê que vale a pena. Então eu peço que meus colegas profissionais sigam trabalhando com amor. Não é fácil largar nossa família, para cuidar dos outros. Mas somos anjos para cuidar das pessoas na terra. Então, precisamos nos unir para alcançar o sucesso. A pandemia mostrou que o mundo precisa da enfermagem, basta a gente nos unir".

Imagem ilustrativa da imagem Covid - A vida de um enfermeiro na linha de frente há dois anos
 

Para a população o enfermeiro também mandou um recado. "Eu espero que a população entenda que a covid não vai acabar nunca mais. Ela vai fazer parte da nossa vida, como outras doenças. Mas as pessoas precisam entender que a vacina salva vida, sim. Os melhores especialistas do mundo pararam para cuidar de uma doença. Então a vacina é segura e é nossa esperança. As pessoas precisam entender que mesmo estando bem, se der positivo é para ficar em casa. Não use o tempo do atestado para ir a praia, cinema. Você pode estar bem, mas o outro pode morrer. Espero que a população compreenda que numa pandemia o problema não é individual, é coletivo. A falta de máscara do jovem, pode gerar a contaminação e morte de um idoso", finalizou.

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