Sobreviventes da tragédia do Morro do Bumba temem desabamento em prédio cedido meses após incidente
Encostas próximas aos prédios começaram a desabar recentemente
min de leitura | Escrito por Daniel Magalhães | 06 de novembro de 2021 - 13:24
Moradores do condomínio Várzea das Moças, localizado na Estrada Velha de Maricá, acreditam estar perto de reviver o trauma de mais de 10 anos atrás, quando suas casas desabaram por conta do deslizamento de terra que deixou 48 pessoas mortas. O condomínio Várzea das Moças, no bairro que leva o mesmo nome, é um dos oito conjuntos habitacionais que foram construídos para abrigar as famílias que tiveram que deixar o Morro do Bumba, em 2010.
Agora, as 93 famílias que moram no Várzea das Moças vivem com medo de presenciar as mesmas cenas que viraram suas vidas de cabeça para baixo. A encosta próxima ao prédio onde moram começou a apresentar rachaduras e, na última quarta-feira (3), houve um desabamento no local.
"É o que eu digo: Não sobrevivi àquela tragédia do Bumba para morrer soterrada aqui", diz a aposentada Luiza Hilda de Souza. "Desde que aconteceu essa coisa aí eu não durmo direito. Eu só não saio daqui porque não tenho para onde ir. Alguém tem que tomar uma providência. São 11 anos aqui e nunca teve manutenção de nada nesse lugar.", completou a idosa que perdeu dois familiares na tragédia de 2010 e só sobreviveu porque não estava em casa na hora do desabamento.
Além da encosta que desabou próximo ao estacionamento localizado ao lado do Bloco 3 do conjunto habitacional há cerca de três meses, segundo os moradores, há outra que preocupa ainda mais. Localizada logo ao lado do Bloco 2, parte da encosta também desabou e chegou a atingir parte dos apartamentos do 1º andar, o que tem tirado o sono dos que moram próximo.
"Tem uma menina que mora do lado da encosta com os dois filhos. A Defesa Civil veio aqui e disse para ela não se preocupar e para dormir na sala ao invés de dormir no quarto, que é do lado da encosta. Agora me diz: do que adianta? Se for cair, vai cair tudo e não só o quarto dela.", disse a diarista Lucimeire da Conceição, que também é moradora do 1º andar do segundo bloco.
"Eu não estou conseguindo dormir, já tem mais de três dias que eu não vou trabalhar porque eu passo o dia todo preocupada com essa parede com risco de cair e levar tudo junto.", relata Lucimeire.
Os moradores relatam que há rachaduras e infiltrações em todos os prédios, além de a fossa ser assoreada e não ter sido construída apropriadamente com concreto e manilha.
Outra questão que tem irritado os moradores do conjunto é que eles moram no local há 11 anos e o local nunca recebeu uma manutenção ou limpeza. Ontem (5), uma equipe da Companhia Municipal de Limpeza Urbana de Niterói (CLIN) esteve no local cortando o mato e limpando o estacionamento do Várzea das Moças, mas, segundo os moradores, esta foi a primeira vez que esse tipo de serviço foi feito no local e contestam que a ação só foi feita após cobrança da imprensa.
"Isso que vocês estão vendo hoje é a primeira vez que acontece. A gente tá aqui há mais de 10 anos e nunca vieram aqui fazer uma limpeza, manutenção. Jogaram a gente aqui e largaram. Tem gente com medo e dorme com a porta aberta, tá indo dormir em outros lugares. Isso não é justo, a gente sobreviveu àquela tragédia pra morrer aqui? Não mesmo.", disse também a aposentada Dejaíra Gomes.
Os moradores do condomínio pedem que as autoridades tomem providências, como a realização de reformas nas estruturas dos apartamentos, telas de contenção nas encostas próximas aos prédios e melhorias no sistema de esgoto.
Ainda nesta sexta-feira, também estavam no local representantes da Caixa Econômica Federal, que estavam avaliando as condições do condomínio. "Nós viemos aqui após sermos notificados pela imprensa, porque os moradores mesmo não fizeram nenhuma reclamação para a Caixa. Estamos aqui avaliando o que pode ser feito. Ontem vieram dois engenheiros e depois vai vir aqui um especialista em solos", disse um dos funcionários que não quis se identificar.
Questionada, a Prefeitura de Niterói respondeu que A Secretaria Municipal de Defesa Civil e Geotecnia de Niterói informa que não houve nenhum dano estrutural à edificação. Após vistoria, o deslizamento foi classificado como de pequena proporção. Os agentes interditaram as áreas laterais dos três blocos do condomínio, onde se depositou o material resultante do deslizamento. A Empresa Municipal de Moradia Urbanização e Saneamento (Emusa) fará a limpeza do local assim que o laudo da Defesa Civil for concluído.
A Caixa Econômica Federal informou que "o Residencial Várzea das Moças, localizado em Niterói (RJ), com 93 unidades, foi contratado no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida – Faixa I – Recursos FAR, pela Construtora BR4 Empreendimentos e Participações, e entregue aos beneficiários em 2010.
Diante do ocorrido, a CAIXA enviou equipe técnica de engenharia ao local para avaliar a situação e medidas cabíveis. Além disso, notificamos a empresa responsável pela construção para que também providencie uma vistoria ao local."