Empreendedorismo: como a economia local e criativa tem sustentado famílias na pandemia
Moradoras do Vila Lage, em SG, Mônica, Adriane e Paula precisaram ‘se virar’ para manter as despesas

Ser empreendedor, segundo o dicionário, é ser um realizador, que produz novas ideias com a união de criatividade e imaginação. Mas o conceito de empreender também perpassa por muito esforço e dedicação, além de se arriscar e sair da famosa ‘zona de conforto’. No entanto, com o agravamento da pandemia da Covid-19 e as restrições de circulação por conta do vírus, muitas pessoas perderam seus empregos ou tiveram suas atividades paralisadas. Cerca de 14,7 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Diante disso, criar um novo negócio se tornou a única saída para a sobrevivência, ‘escapar’ da crise e manter as contas em dia.
Para os novos empreendedores, o primeiro componente importante é ter uma rede de apoio e divulgação do seu trabalho. E nesse cenário, os vizinhos e condôminos são figuras de extrema relevância, para serem seus primeiros consumidores e repassarem adiante a qualidade do produto. Com um cenário incerto e desafiador, a ajuda da comunidade tem sido exatamente o combustível inicial para empreender com sucesso na pandemia. A reportagem de O SÃO GONÇALO conversou com três empreendedoras de São Gonçalo, que mesmo não sendo da mesma área de atuação, tiveram seus caminhos entrelaçados de alguma forma.
Empreendedoras
Mônica Rodrigues, de 39 anos, mora no bairro de Vila Lage, em São Gonçalo, e entrou no ramo das pizzas em 2019, quando teve problemas de salário com sua empresa.

Logo depois, a situação se normalizou e ela parou. No entanto, em 2020, as despesas aumentaram e a empreendedora precisou voltar a fazer suas deliciosas pizzas.
"Só com o meu salário eu não conseguiria manter as contas e o apartamento. Foi quando tive a ideia de fazer pizzas e vender no condomínio e no trabalho. O condomínio que moro é bem extenso e não tem comércio perto, e com isso, vi a oportunidade de deixar a vida dos vizinhos mais fácil também".
Mônica ainda ressalta que para conseguir a clientela, precisou do apoio dos condôminos.
“Eu tenho a ajuda dos vizinhos que divulgam o meu trabalho, a propaganda boca a boca. Tive também ajuda do meu namorado, que me ensinou a fabricar as pizzas desde a massa até o formato final.”
A empreendedora ainda revela que pode ampliar o negócio no futuro.
“Eu consigo pagar todas as minhas contas com o meu salário e mais outras despesas, eu percebo que as pizzas têm me ajudado, tem suprido as minhas necessidades por enquanto... A princípio eu pretendo ficar no meu trabalho e vendendo as pizzas no condomínio, mas caso aconteça algum imprevisto, pretendo ampliar, vender mais e correr atrás de clientes para ter um grande negócio.”
Assim como Mônica, Adriane Fernandes, de 47 anos, também apresenta todo o seu talento na cozinha, com a produção de maravilhosas batatas turbinadas e pastéis deliciosos. A moradora do Vila Lage, em São Gonçalo, conta que a demissão a fez empreender, e fazer sucesso com as crianças e os adultos.

“Fui desligada da empresa onde trabalhei por seis anos e cinco meses, devido a pandemia. Vi uma oportunidade nos lanches depois que me mudei para um novo condomínio. Precisava de uma renda e não havia muita opção de lanche, vi a chance de oferecer lanches para os vizinhos no fim de semana. Comecei oferecendo batatas e foi um sucesso total.”
Com o êxito, Adriane decidiu incorporar os pastéis no cardápio, com uma surpresinha para agradar seus clientes.
“Para personalizar as entregas, enviamos um bilhete fofo com deliciosas balinhas para alegrar as crianças, elas adoram."

Adriane reitera que, sem os condôminos, nada disso teria acontecido. Ela também utilizou as redes para divulgar o seu trabalho.
“A ajuda dos vizinhos foi primordial para o crescimento das vendas. Sem a rede de divulgação dos vizinhos que se tornaram meus amigos, nada seria possível. Eu usava fotos para fazer a divulgação e também os feedbacks dos clientes. A rede social e o aplicativo de mensagem foram também de suma importância para a divulgação do negócio.”
Mesmo depois de um tempo, Adriane conta que o negócio segue a mil e que espera por uma oportunidade para ampliar suas vendas.
“Meu negócio continua a todo vapor, não atendo mais só nos fins de semana, agora também estou durante a semana. A cada semana tenho mais clientes, alguns vêm de outros bairros para lanchar na casa dos familiares. As 'Batatinhas Turbi' são sucesso no meio das crianças, enquanto os pastéis bem recheados fazem a alegria dos adultos. Se tivesse uma boa oportunidade de expandir, seria ótimo.”
Outra empreendedora que ‘se virou’ na pandemia foi Paula Monique Martins da Silva, de 36 anos, também moradora do Vila Lage. Formada em administração e amante de costura, ela transformou o hobby em sua profissão.

“Comecei a empreender já tem bastante tempo, quando eu tinha por volta dos 15 para 16 anos. Fiz cursos de qualificação de corte e costura, cabeleireiro, entre outras atividades. Comecei a trabalhar e juntar dinheiro para pagar a faculdade e até mesmo no período que eu fazia faculdade, eu continuava desenvolvendo essas atividades da parte de corte e costura. Agora, por causa da pandemia, minha mãe acabou falecendo e eu tive que parar de trabalhar fora. Atuava na área de departamento pessoal. Isso foi até um incentivo para eu voltar para essa atividade.”
Paula conta que as vizinhas fizeram encomendas e assim começou a desenvolver o seu negócio. A divulgação dos condôminos foi o gás necessário para que alavancasse seus pedidos.
“Algumas amigas pediram serviços, como fazer touca, avental, e eu acabei desenvolvendo essas atividades aqui dentro do condomínio. Elas divulgaram nos grupos e as pessoas começaram a me procurar por esse serviço, que quase não encontram por aqui. Atendo bastante gente, principalmente homens que não sabem fazer costura e algumas mulheres também, mais para fazer ajustes em roupas.”

“Com essas atividades que eu venho desenvolvendo consigo manter boa parte das minhas despesas. Pretendo expandir, já estou conversando com outra moradora para nos unirmos e entrar de vez nessa atividade, para fazer algumas roupas para crianças ou roupas sobre medida, que para algumas pessoas é difícil de achar também. Estou vendo alguns cursos de qualificação na área, para aprender novas técnicas e me desenvolver ainda mais.”
Se jogar no mundo dos negócios foi o que restou para muitas pessoas como a Mônica, Adriane e a Paula. Segundo a Receita Federal, o número de microempreendedores individuais (MEI) saltou 20% em um ano, saindo de 9,4 milhões, em dezembro de 2019, para 11,3 milhões em dezembro de 2020.
As empreendedoras destacam que a atividade autônoma não é fácil, principalmente no início, "mas com muito esforço e dedicação, o negócio pode andar e além de ser uma atividade principal, pode ser o seu refúgio em momentos de dificuldade e crise econômica".
*Sob supervisão de Cyntia Fonseca