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Filhas da juíza Patrícia Acioli clamam por justiça durante homenagem ao aniversário de 10 anos de sua morte

21 rosas foram colocadas no calçadão da praia fazendo alusão ao número de tiros disparados contra a magistrada

relogio min de leitura | Escrito por * Pedro Di Marco e Renata Sena | 11 de agosto de 2021 - 14:07
Maria Eduarda (esquerda) e Ana Clara (direita) em tributo à sua mãe
Maria Eduarda (esquerda) e Ana Clara (direita) em tributo à sua mãe -

“Além da super juíza que vocês conheceram, ela foi também uma super mãe. Eu posso dizer que ela foi a melhor mãe do mundo, para nós duas.", disse uma das filhas da magistrada Patrícia Acioli, executada há exatos 10 anos, durante um ato em homenagem à sua perda que teve lugar na Praia de Icaraí na manhã desta quarta-feira (11).

Durante o tributo, 21 rosas foram colocadas no calçadão da praia, em frente à árvore que leva o nome da juíza, fazendo alusão ao número de tiros disparados contra ela durante a emboscada que lhe custou a vida. A homenagem foi promovida pela ONG Rio da Paz e contou com a presença das filhas e do ex-marido da profissional. Durante o ato, a filha mais nova da magistrada, Ana Clara Acioli Chagas, de 20 anos, que também estuda direito e planeja seguir os passos da mãe, lembrou as dificuldades de ter perdido, ainda tão jovem, sua principal referência.

“A gente fica muito feliz com as homenagens, principalmente pelo caso estar tendo a repercussão que tem. Mas ao mesmo tempo vêm a tristeza, porque acaba que aflora a ferida, a gente acaba tendo essa sensação mais presente na nossa vida e a saudade diária aperta muito.", relatou a graduanda.

Patrícia era titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo e foi responsável por decretar a prisão de mais de 60 policiais militares (PM’s) indiciados por sua participação em grupos de extermínio e milícias, entre outros crimes. A juíza foi assassinada a tiros na porta da casa onde morava no bairro de Piratininga, em Niterói, por 2 PM’s cuja ordem de prisão ela havia acabado de decretar. Os agentes integravam uma milícia que atuava dentro 7º BPM do Alcântara, em São Gonçalo.

À época, além do mandante do crime, o coronel Cláudio Luiz Oliveira, e um de seus executores, o tenente Daniel Benitez, condenados a 36 anos de prisão em regime fechado, outros 8 policiais foram condenados por envolvimento no caso pela Justiça do Rio. Somadas todas as penas, os PM’s acumulam mais de 200 anos de cárcere. Contudo, mesmo após sua condenação, os oficiais Oliveira e Benitez não foram exonerados da PMRJ e ainda constam em sua folha de pagamentos, com o primeiro custando aos cofres públicos R$40 mil mensais e o segundo cerca de R$10 mil. As filhas de Patrícia se emocionaram lembrando do ocorrido e bradaram por justiça durante entrevista ao O São Gonçalo.

“A gente pagou um preço muito caro, a gente perdeu nossa mãe, uma pessoa maravilhosa, e parece que pra eles tá saindo barato. Eles tão presos, a gente sabe disso, mas é revoltante saber que uma pessoa que foi responsável por destruir a nossa vida ainda recebe do estado, ainda faz parte da polícia militar do estado. A gente quer justiça, isso é fundamental e a gente não vai descansar até a gente ter.”, desabafou a filha mais velha da magistrada, Maria Eduarda Acioli Chagas, de 22 anos.

“O fato de que eles ainda tão representando a máquina estatal é extremamente revoltante porque nós que contribuímos, que somos pessoas de bem e estamos trabalhando, pagamos o salário de bandidos. A revolta só aumenta quando nós vemos o valor desses pagamentos, que é um valor altíssimo… e se os que eram subalternos foram todos expulsos, então porque os oficiais não foram? Qual é a mensagem que fica pra gente, eles com o título de policiais, protetores do estado? Eles mataram minha mãe, emboscaram ela na porta de casa sem nem chance de defesa. Que proteção é essa? Isso é um absurdo!”, acrescentou Ana Clara.

O caso da magistrada se tornou um símbolo de resistência e representa, hoje, as veias abertas deixadas pela violência na história do Rio de Janeiro. São cicatrizes que relutam em fechar nos corações de todos os filhos e maridos que já perderam seus entes queridos para as milícias e grupos de extermínio da região. No entanto, essas marcas não intimidam as filhas da juíza, que as ensinou muito bem o significado de coragem.

"Ela é nosso ídolo número um, tanto na vida quanto profissionalmente, é nossa maior inspiração e exemplo, porque ela foi uma pessoa excepcional. Então a gente não tem medo porque a gente segue a ideologia dela, de que o bem sempre vai prevalecer. Pode não ser hoje, pode não ser amanhã, algumas vidas podem ser tiradas no caminho, mas no final, o bem sempre vence o mal. Eles não vão conseguir ganhar, nunca!”, sustentou a estudante de direito.

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