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Jornalista, advogada e entregadores de delivery são agredidos por PMs na Zona Sul do Rio

Comissão de Direitos Humanos da OAB acompanha o caso

relogio min de leitura | Escrito por Redação | 03 de junho de 2021 - 20:12
A confusão aconteceu nessa quinta-feira (3)
A confusão aconteceu nessa quinta-feira (3) -

Um jornalista, uma advogada e dois entregadores de comida foram agredidos por policiais militares no Largo do Machado, Zona Sul do Rio, nessa quinta-feira (3). Uma confusão se instaurou no local e o motivo seria um “monopólio” de bicicletas por aluguel por parte dos entregadores. A advogada tentou apaziguar o problema e também acabou sendo agredida e presa, assim como o jornalista, que filmou toda a ação.

O posto de retirada de bicicletas fica próximo a uma cabine da Operação Segurança Presente e existem duas versões diferentes sobre o ocorrido. Uma delas é por parte da Comissão de Direitos Humanos da OAB e a outra é da Polícia Militar, além das vítimas.

Segundo a OAB, a fila de retirada das bicicletas por aluguel era composta, em maioria, por entregadores de comida e os PMs que estavam por perto interviram na organização da fila e dando prioridade a uma mulher que estava em última na fila, determinando que ela fosse atendida primeiro. Em seguida, uma outra mulher que trabalha como entregadora reclamou da atitude dos policiais e isso teria o motivo de início da confusão. Outros entregadores se juntaram à multidão, ampliando o tumulto.

No entanto, de acordo com a PM, os entregadores estavam impedindo que outros pudessem utilizar do aluguel de bicicletas. Ainda segundo a nota da corporação, a confusão foi iniciada pelos entregadores.

“A equipe foi até o local e verificou que os entregadores estavam ao lado das bicicletas esperando serem solicitados para entrega e não deixavam ninguém utilizar. Os agentes solicitaram que os entregadores se afastassem e permitissem o uso público da bicicleta (...) "Os policiais foram desacatados e agredidos pelos entregadores. Durante a confusão um agente se machucou durante uma queda e foi levado para o Hospital Miguel Couto. Três pessoas envolvidas diretamente na confusão foram levadas para a 9ªDP (Catete), para prestarem esclarecimentos. A ocorrência segue em andamento", diz o documento.

Vanessa Lima, uma advogada que estava no local, tentou mediar o conflito, em defesa dos entregadores, relatou que foi agredida e presa por questionar a atitude dos policiais de prender dois deles.

"Eu estava indo andar de bicicleta. Eu não conhecia ninguém, mas vi que eles estavam sendo truculentos e decidi acompanhar. Tudo porque uma menina lá, patricinha, queria pegar uma bicicleta e os meninos estavam indo trabalhar", ela complementa "Eu não agredi ninguém. Eu já estava lá fora. Já ia pedir um uber para ir pra delegacia ver os meninos, quando chegaram os policias me batendo. Eu estava só filmando. Eles pegaram a minha OAB, eu não sei onde está a minha carteira. Tem tudo filmado. Eu não conheço ninguém", disse Vanessa.

A advogada, um jornalista que filmou a confusão (e não teve a identidade revelada) e os dois entregadores foram agredidos e presos, encaminhados para a 9ª DP (Catete)

A Comissão da OAB protestou contra o acontecido. O secretário-geral, ítalo Pires Aguiar, comentou sobre o fato:

” Me causa profunda espécie que um policial militar, no exercício do cargo, agrida e prenda uma advogada que acompanhava seus clientes depois de uma abordagem inadequada feita pela polícia. A Polícia, enquanto instituição pública, precisa atualizar seus protocolos, sob pena de perder sua credibilidade diante da sociedade. A comissão de direitos humanos da OAB-RJ, juntamente com o setor de defesa das prerrogativas da entidade, está acompanhando o caso e se empenhará na responsabilização dos envolvidos", disse. 

Leia, na íntegra, a nota divulgada pela Operação Segurança Presente:

"Um casal procurou os policiais do Laranjeiras Presente no início da tarde desta quinta-feira (3/6) alegando que foram impedidos por entregadores de delivery de pegar uma bicicleta de aplicativo no Largo do Machado. A equipe foi até o local e verificou que os entregadores estavam ao lado das bicicletas esperando serem solicitados para entrega e não deixavam ninguém utilizar. Os agentes solicitaram que os entregadores se afastassem e permitissem o uso público da bicicleta. Segundo os policiais, outros entregadores foram se aglomerando e iniciou um tumulto. Os policiais foram desacatados e agredidos pelos entregadores. Durante a confusão um agente se machucou durante uma queda e foi levado para o Hospital Miguel Couto. Três pessoas envolvidas diretamente na confusão foram levadas para a 9ªDP (Catete), para prestarem esclarecimentos. A ocorrência segue em andamento.", diz o documento da corporação.

Leia a nota publicada pela OAB, também na íntegra:

“A Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado do Rio de Janeiro, vem a público condenar veementemente a conduta de um grupo de policiais militares que agrediram a advogada Vanessa Lima nesta quinta-feira, dia 3 de junho, em incidente ocorrido no Largo do Machado, Zona Sul da capital fluminense.

Após se identificar como advogada e questionar uma prisão que considerou arbitrária durante uma confusão, ressaltando estar fazendo uso de suas prerrogativas profissionais, Vanessa recebeu voz de prisão, foi agredida fisicamente e conduzida de maneira violenta à delegacia. Além disso, a advogada teve a carteira da OAB arrancada de suas mãos, jogada ao chão e pisoteada.

Acionada, a Comissão de Prerrogativas da Seccional imediatamente prestou socorro à colega e enviou representantes à delegacia de polícia.

As agressões físicas, verbais e morais a uma advogada por parte de policiais demonstram não apenas o despreparo de profissionais, mas caracterizam um evidente desrespeito ao Estado democrático de Direito e à cidadania. Ao ignorar seus deveres perante a sociedade, o agente estatal atinge a própria entidade e coloca em risco toda a coletividade.

Um jornalista que presenciou e registrou em vídeo os abusos foi igualmente agredido e detido de forma violenta, em mais um flagrante desrespeito a princípios constitucionais.

A OABRJ reitera sua preocupação diante de fatos tão graves e cobrará do Governo do Estado que os responsáveis por tais condutas, inadmissíveis em um Estado democrático de Direito, sejam severamente punidos.

A Comissão de Prerrogativas da Seccional segue acompanhando o caso.”, diz o documento da Ordem.

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