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Após morte de cão com raiva, população se queixa da falta de campanha antirrábica

Nos últimos anos, o número de animais vacinados contra a doença vem caindo

relogio min de leitura | Escrito por Ana Carolina Moraes | 19 de maio de 2021 - 10:20
Em Duque de Caxias, um cachorro morreu com a doença na última semana
Em Duque de Caxias, um cachorro morreu com a doença na última semana -

Na última semana, a Prefeitura do Rio identificou o caso de um cachorro que foi diagnosticado com raiva, uma doença que acomete o cérebro do animal. Segundo o dono do animal, ele teve contato com um morcego no dia 26 de março, mas demorou para apresentar os primeiros sinais de que estava contaminado com a raiva. O diagnóstico do animal foi feito no Instituto Municipal Jorge Vaitsman, mas ele era de Duque de Caxias. O cão veio à óbito por causa da doença. A partir disto, nessa última segunda-feira (17), a Prefeitura de Duque de Caxias iniciou uma campanha de vacinação contra raiva (Vacina Antirrábica) para cães e gatos, no entanto, esta não foi amplamente divulgada nos meios de comunicação. 

Nos últimos anos, não há uma campanha unificada de conscientização na internet, jornal, rádio e televisão que fale sobre a campanha de vacinação para cães e gatos. Em sites, é possível ver que as últimas campanhas amplamente divulgadas em canais de tv (em mais de um canal) foram feitas há mais de dois anos. Também é possível ver algumas reportagens feitas para conscientizar as pessoas sobre o tema e sobre a vacinação no Rio ou em Itaboraí, por exemplo, mas não é algo que seja transmitido para mais pessoas, chegando a um alcance nacional. Isso faz com que as pessoas que possuem animais de estimação não saibam sobre o tema e, muitas vezes, não entendam a gravidade da doença.

A raiva é uma doença perigosa, que pode ser transmitida para humanos e pode fazer com que o animal contaminado morra. Mas, você sabe as características da doença?Em uma entrevista exclusiva, o médico veterinário Diogo Alves da Conceição, que atua na área há 21 anos e é atualmente vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ), explicou as principais características da doença. 

"A encefalite viral aguda (raiva), transmitida por mamíferos, apresenta dois ciclos principais de transmissão: urbano e silvestre. É uma patologia de suma importância epidemiológica por apresentar letalidade de 100%, além de ser doença passível de eliminação no seu ciclo urbano, com medidas de prevenção tanto em relação ao ser humano quanto à fonte de infecção. A transmissão da raiva se dá pela penetração do vírus contido na saliva do animal infectado, principalmente pela mordedura e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas. O vírus penetra no organismo, multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o sistema nervoso periférico e, posteriormente, o sistema nervoso central. A partir daí, dissemina-se para vários órgãos e glândulas salivares, onde também se replica e é eliminado pela saliva das pessoas ou animais enfermos", explicou ele. 

O médico veterinário Diogo Alves da Conceição falou com o OSG
O médico veterinário Diogo Alves da Conceição falou com o OSG |  Foto: Divulgação
 

O médico disse que, após a incubação, os primeiros sinais e sintomas clínicos inespecíficos da doença podem começar a aparecer e podem durar de 2 a 4 dias. "O paciente apresenta mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia, cefaléia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia. Podem ocorrer hiperestesia e parestesia no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura, e alterações de comportamento. A infecção progride, surgindo manifestações de ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes, febre, delírios, espasmos musculares involuntários, generalizados e/ou convulsões. Espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua ocorrem quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando sialorréia intensa. Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia, levando a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal. O paciente se mantém consciente, com período de alucinações, até à instalação de quadro comatoso e evolução para óbito. Observa-se ainda a presença de disfagia, aerofobia, hiperacusia, fotofobia. O período de evolução do quadro clínico, após instalados os sinais e sintomas até o óbito, é em geral de 5 a 7 dias", contou ele.

Vale lembrar que a raiva é uma doença que é de difícil cura e possui quase 100% de letalidade, ou seja, os animais contaminados morrem. É necessário sempre ficar atento aos sinais do animal para levá-lo o mais rápido possível a um veterinário, caso perceba sintomas da raiva. Segundo o veterinário, em 2016, o município de Duque de Caxias vacinou apenas 26,2% dos animais durante a época de vacinação. Isso se deve, principalmente, pela falta de divulgação na mídia sobre os locais de vacinação e os períodos de aplicação da vacina antirrábica. Já em 2019, segundo o G1, o vereador Luiz Ramos Filho (PMN), informou que o Ministério da Saúde não encaminhou vacinas contra a raiva para o Rio. Com isso, apenas 390 animais foram vacinados na região, não atingindo nem a meta de 80% da população (500 mil animais). O vereador também contou que os índices de vacinação no Rio vem caindo nos últimos anos. A vacina contra a raiva é recomendada para todos os animais anualmente.

A raiva pode contaminar humanos. "A raiva é uma antropozoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus rábico contido na saliva do animal infectado, principalmente através da mordedura. Apesar de ser conhecida desde a antiguidade, continua sendo problema de saúde pública nos países em desenvolvimento, principalmente a transmitida por cães e gatos, em áreas urbanas, mantendo-se a cadeia de transmissão animal doméstico/homem. Por isso a vacinação em massa é fundamental para o controle desta patologia", disse o veterinário.

A raiva também pode atingir animais no campo, segundo afirma a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento por meio da Superintendência de Defesa Agropecuária. O principal transmissor da doença no meio rural é o morcego hematófago, que morde os animais do campo e transmite o vírus pela saliva contaminada pelo vírus que causa a raiva. O controle da doença no campo é aconselhado pelos órgãos de Defesa Sanitária Animal, que segue as diretrizes do Programa Nacional de Controle da Raiva em Herbívoros (PNCRH).

Além de vacinarem seus rebanhos constantemente, os produtores rurais são orientados e conscientizados, através de ações sociais, a controlarem o crescimento da população da espécie Desmodus rotundus (morcego-vampiro), que transmite o vírus para os animais, nas propriedades rurais, além de realizarem vigilância epidemiológica nos animais do campo.

Campanhas de vacinação fazem falta nos últimos anos

O médico veterinário Diogo Alves da Conceição explicou ainda que não se lembra de campanhas de vacinação nos últimos anos. "Não me recordo de uma campanha sobre a vacina contra a raiva, em um meio televisivo de fato, em massa. A vacinação é uma ação importante do governo para com a sociedade por se encontrar ligada diretamente à prevenção de doenças que, muitas vezes, colocam a saúde da população em risco. E necessariamente a figura do Médico Veterinário é imprescindível. Vivemos hoje o conceito de Saúde única (ambiental, humana e animal). Não temos como descartar a figura do Médico Veterinário nas relações humanas no que tange as zoonoses. Vacinar é um ato de amor. Uma campanha de conscientização deve mostrar os valores e a importância da vacina. A população deve ser informada com bastante antecedência e abranger o maior número de meios de comunicação. Fundamental a associação da imagem de um artista para que a população se conscientize o que vacinar", contou ele. 

Diogo lembrou que na revista educativa Clubinho de Bio é possível ver uma certa campanha sobre a raiva mostrando, através de jogos para crianças, como é importante vacinar o animalzinho que elas têm em casa. O Zé Gotinha também foi outro conceito importante para vacinas num geral, segundo ele.

"Creio que com um maior engajamento das crianças nas campanhas vacinais contra a raiva, seria fundamental para aumentarmos a taxa de cobertura vacinal. Temos que absorver essa faixa etária (3-12 anos). Atividades nas escolas, são super importantes também. Levando o conceito do que é saúde pública. Nenhuma criança quer perder seu animal de estimação. Vincular essa visão de amor aos animais com o valor do papel do  Médico Veterinário, que é o Super Herói que produz a vacina e aplica no animalzinho, faz com que  a criança estimule seus pais a levarem seus animais para serem vacinados. O médico veterinário é o Super Herói das crianças", contou ele.

Donos de animais

A estudante de graduação Livia Silva, de 23 anos, que hoje é moradora de Itaipuaçu, tem duas cachorras. A rottweiler Laica, de 7 anos, e a poodle Teca, de 13 anos. Ela conta que vacina suas cachorras contra a raiva desde que as duas eram filhotes e que se sente na obrigação de realizar o ato, já que os dois animais são parte de sua família. No entanto, Livia explica que sabe da necessidade de sua vacina por causa dos avisos de seu veterinário particular e não por meio de campanhas nos meios de comunicação.

"Desde a primeira consulta com o veterinário ele explicou a importância de todas as vacinas, por isso, todo ano temos que levá-la ao veterinário para atualizar todas as vacinas, e não somente a de raiva. Como desde o início o veterinário é o mesmo, e sempre vacinamos com ele, continuamos vacinando no particular. As campanhas de vacinação quase não são divulgadas. Eu sei que tenho que vacinar minhas cachorras porque o veterinário já deixa marcado as datas na carteirinha de vacinação delas, se fosse depender de campanha para lembrar não ia dar certo", contou ela.

Teca é uma das cachorras de Livia
Teca é uma das cachorras de Livia |  Foto: Arquivo pessoal
 
Laica é uma das cachorras de Livia
Laica é uma das cachorras de Livia |  Foto: Arquivo pessoal
 

Já a estudante de graduação e assessora de turismo Rosa Borges, de 23 anos, de Niterói, sempre teve pets em casa. Anteriormente, ele tinha um macho chamado Kevin, da raça pastor-alemão, que morreu em 2015, e há 3 anos ela possui a cachorra Crystal, da raça weimaraner. Assim como Livia, Rosa concorda que, se não fosse o veterinário particular que paga para seu animal, ela não saberia sobre a vacinação contra a raiva.

"As campanhas de vacinação contra a raiva são de extrema importância, pois ajudam a alertar a população que tem pets ou conhecidos que tem pets sobre a prevenção da doença, que pode ser fatal para o animal e também pode ser transmitido para os humanos, além de ser uma questão de saúde pública. Raramente tenho visto televisão, mas quando vejo faz falta a sinalização para a vacinação sim. Proteger o animal é estar em dia com as vacinas, que são de extrema importância e eficácia, porém também é dar alimentação e cuidados de qualidade. Ao passear na rua sempre estar atento a interação com outros animais. E sempre pesquisar para poder observar sinais qua possam indicar sintomas da doença", contou ela. 

Crystal é a cachorra de Rosa
Crystal é a cachorra de Rosa |  Foto: Arquivo pessoal
 

É importante sempre estar atento à vacinação de seu animal. A raiva mata e pode causar grandes transtornos e sofrimentos tanto para o dono do animal quanto para o próprio pet. 

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